Estrela do judô, Rafaela Silva é flagrada em exame antidoping
Demétrio Vecchioli
20/09/2019 13h10
Rafaela Silva lamenta derrota
Principal nome do judô brasileiro e uma das atletas mais importantes do país na atualidade, Rafaela Silva foi flagrada em exame antidoping realizado durante os Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru. O Instituto Reação, clube que ela defende no Rio de Janeiro, convocou entrevista coletiva para a tarde desta sexta-feira (20) para que Rafaela explique o caso. A postura do Comitê Olímpico do Brasil (COB), da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) e do próprio clube deve ser de total apoio à lutadora, que se diz inocente.
Os detalhes devem ser explicados logo mais, mas o Olhar Olímpico apurou que o resultado estaria associado ao uso de Berotec, um dos remédios contra a asma, que tem fenoterol, substância proibida. Para usá-lo, o atleta tem que pedir a AUT (Autorização de Uso Terapêutico) e justificar o motivo à Wada (Agência Mundial Antidoping). A judoca tinha crises de asma na infância.
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O doping da Rafaela Silva é o principal assunto dos bastidores do esporte brasileiro desde o dia 27 de agosto, quando ela ganhou medalha de bronze no Mundial de Judô, em Tóquio. Naquele dia, três pessoas que receberiam comunicados oficiais em caso de doping disseram desconhecer completamente a informação. Dias depois, usaram a participação dela na disputa por equipes do Mundial como prova de que não havia nada contra Rafaela.
Na verdade, havia, e a equipe pode perder a medalha de bronze conquistada. Quando chegou ao Brasil a informação de que existiam os casos de doping no atletismo (depois descobriu-se que de Andressa de Morais) e no ciclismo (de Kacio Freitas), também foi informado, por pessoas de dentro da PanAm Sports, que existia um resultado analítico adverso no judô. O que batia com o boato que já corria sobre Rafaela.
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Nos dias seguintes, patrocinadores foram informados de que uma "bomba" estava prestes a estourar, relacionada à imagem de Rafaela. Mas, numa estratégia bem sucedida de blindagem, a confirmação do doping não chegou até a imprensa – e, sem ela, ninguém poderia publicar a notícia. O silêncio só foi quebrado depois que o Reação convocou coletiva às pressas e o GloboEsporte noticiou o caso. Depois disso, fontes que antes negavam o caso enfim o confirmaram à reportagem do Olhar Olímpico.
Quem faz a gestão dos resultados dos exames colhidos durante o Pan é a PanAm Spors (antiga Odepa). A ela cabe apenas retirar o resultado da competição – Rafaela Silva foi medalhista de ouro em Lima – e informar a federação internacional. Ao que tudo indica, a Federação Internacional de Judô (IJF) deve anunciar o caso entre hoje (20) e amanhã (21), o que fez com que o staff de Rafaela se antecipasse e decidisse expor o caso por si próprio.
Este é o quarto (e, ao que tudo indica, último) caso de doping do Brasil no Pan. Além de Andressa de Morais (prata no lançamento do disco) e Kacio Freitas (bronze no ciclismo de pista), também foi pego o ponteiro Rodriguinho, da seleção masculina de vôlei, medalhista de bronze. Em toda a história dos Jogos Pan-Americanos o Brasil tinha dois casos de doping.
No judô, o caso de Rafaela é o segundo da seleção brasileira só neste ano. Em janeiro foi anunciada a suspensão de Jéssica Pereira, principal revelação do país até então no ciclo olímpico, e também atleta do Reação. Julgada em primeira instância ela pegou 18 meses de suspensão, mas recorre para tentar voltar antes e poder brigar por vaga na Olimpíada.
Sobre o autor
Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.
Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.
Sobre o blog
Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.