Brasil falha na renovação, mas mostra que ainda é potência no judô
Demétrio Vecchioli
02/09/2019 04h00
Maria Suelen Altheman luta contra Melissa Mojica (PUR ) (Roberto Castro/ Rede do Esporte)
Com 10 medalhas nas últimas três edições olímpicas, o judô assumiu de vez o papel de "carro-chefe" do Brasil nos Jogos. Faltando um ano para Tóquio-2020, a modalidade indica que dará conta do recado, mais uma vez, na próxima Olimpíada. A preocupação é o que será do judô brasileiro depois disso.
No Mundial de Tóquio, encerrado no domingo (1), a seleção conquistou três medalhas, todas de bronze, com Rafaela Silva (até 57kg), Mayra Aguiar (até 78kg) e na competição por equipes mistas, que estreia no programa olímpico. Rafael Silva, Maria Suelen Altheman e Beatriz Soares, todos pesos pesados, terminaram na quinta colocação, perdendo as lutas que valiam as medalhas de bronze. Em que se pese a ausência em finais, o Brasil só colocou menos atletas entre os oito primeiros de cada categoria que as super potências Japão e França e que a Holanda.
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A campanha é bom indício para a Olimpíada por alguns fatores. A começar pela recuperação de Mayra e de Rafaela, as duas maiores e mais vitoriosas judocas brasileiras de todos os tempos. Ambas surgiram no final da década passada (foram finalistas do Mundial de Júnior de 2008) e entram na reta final do ciclo olímpico em grande fase. Ficaram fora das finais no Mundial por detalhes, mas provaram que estão entre as melhores de suas categorias.
Com elas o Brasil tem duas grandes chances de medalha na Olimpíada. E uma terceira com Rafael Silva, que mostrou, em Tóquio, estar à frente de David Moura. Baby vem de medalhas nas últimas duas edições dos Jogos e tem condições de repetir a campanha no Japão. Mas precisa tomar mais iniciativa nas lutas, um defeito de parte significante do time no Mundial.
No pesado feminino, Maria Suelen Altheman viu apertar de novo seu calcanhar de Aquiles. No Mundial, perdeu pela (no mínimo) 19ª vez em 19 lutas para a cubana Idalys Ortiz – a base de dados da federação internacional, que conta 17 x 0, não considera lutas em competições por equipes, nem interclubes.
Beatriz Souza, de 21 anos, chegou a flertar com o bronze no outro lado da chave, mas uma lesão sofrida no comecinho da luta da medalha a tirou do combate. A derrota teve peso simbólico. Desde 2011, com Rafaela Silva, então com 19 anos, nenhuma jovem brasileira estreia em pódios de Mundiais. Erika Miranda, Victor Penalber, David Moura e Maria Suelen até ganharam suas medalhas depois disso, mas já tinham ao menos 25 anos.
Já são oito anos que o judô brasileiro não revela ninguém com nível de ganhar medalha em Mundial. No torneio deste ano, a maior esperança era Larissa Pimenta, que deu azar ao pegar a favorita Abe (depois campeã) logo na segunda rodada.
Aliás, aí reside outro problema facilmente identificado quando se avalia a campanha do Brasil no Mundial: foram pouquíssimas vitórias contra atletas mais fortes. Apenas três triunfos contra adversários mais bem ranqueados, contra nove derrotas para rivais que vinham pior. Na hora H, os brasileiros não cresceram, não foram melhor do que se esperava deles.
Faltando um ano para a Olimpíada, pouca coisa deve mudar – essa reta final serve apenas para acertar os ponteiros. Pelo que se viu no Mundial o Brasil tem quatro favoritos a ganhar medalhas: Mayra, Rafaela e nas duas categorias de peso pesados. Os outros são hoje azarões, mesmo aqueles nos quais a confederação aposta mais, como a própria Larissa, Daniel Cargnin e Rafael Macedo.
Há também boas chances na competição mista por equipes, como mostrou o Mundial. A prova tem seis lutas, de categorias pré-definidas (leve, médio e pesado), nas quais o Brasil vai bem. O time brasileiro esteve entre os oito primeiros em três delas, número só inferior ao Japão (cinco) e igual a França, Holanda e Azerbaijão (três).
No total, 24 países ficaram entre os oito primeiros dessas oito categorias e 25 nações foram ao pódio do Mundial, o que mostra bem o perfil democrático do judô. Mesmo assim, o Brasil foi o terceiro que mais venceu lutas no feminino e o terceiro que mais chegou ao bloco final (atrás do Japão e da França). O contraste disso é que o masculino segue mal, ultra-dependente dos pesos pesados. Tirando eles, só Rafael Buzacarini e Daniel Cargnin chegaram às oitavas.
Sobre o autor
Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.
Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.
Sobre o blog
Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.