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Fim do Ministério do Esporte gera onda de extinção de secretarias estaduais

Demétrio Vecchioli

04/01/2019 04h00

Governador Ratinho Junior, do Paraná, em sua primeira reunião de secretariado. (José Fernando Ogura/ANPr)

As eleições de 2018 fizeram com que o esporte perdesse espaço como política pública no Brasil. Seguindo o exemplo do governo federal, que exinguiu o Ministério do Esporte, ao menos cinco governadores, quatro deles alinhados com o discurso do presidente Jair Bolsonaro (PSL), também acabaram com as antigas secretarias de esporte. Das poucas sobreviventes, a maioria foi usada como instrumento de negociação política.

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Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina, Sergipe e Pernambuco extinguiram suas secretarias. Além deles, Goiás, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Bahia e Acre mantiveram o esporte sem uma secretaria exclusiva. Dos 27 estados, só Rio Grande do Sul e Mato Grosso ampliaram o espaço dado ao esporte – o segundo, de forma modesta.

Em um momento em que a "velha política" é atacada, com indicações de "quadros técnicos" para secretarias como de saúde e educação por todo o Brasil, o esporte não foi beneficiado pela onda. São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Amazonas, Pará, Ceará, Maranhão e Alagoas têm secretários de esporte sem qualquer histórico com esporte, escolhidos por indicação partidária. Enquanto isso, só um secretário é educador físico, e outros dois ex-atletas.

Um deles é Zé Marco, prata no vôlei de praia em Sydney-2000, que segue como secretário da Juventude, Esporte e Lazer na Paraíba, cargo que ele ocupa desde 2016, agora no governo João Azevêdo (PSB). Outro, o bicampeão mundial de judô João Derly (Rede), no Rio Grande do Sul. Lá, dois anos depois de a Assembleia Legislativa aprovar a extinção da fundação Fundergs, o governador Eduardo Leite (PSDB) ampliou o espaço do esporte com a criação da Secretaria de Esporte e Lazer. Derly, que não conseguiu se reeleger deputado federal e que fez parte da coligação que elegeu Leite, só vai assumir o cargo ao fim do seu mandato, em 1º de fevereiro.

Os gaúchos são exceção à regra. No Paraná, por exemplo, o governador Ratinho Junior (PSD) assumiu o cargo com discurso de enxugamento da máquina pública. E o esporte foi uma das áreas atingidas pelo corte no segundo estado que mais revela atletas nos Jogos Escolares – só atrás de São Paulo. Criada em 2013, durante a gestão Beto Richa (PSDB), a Secretaria de Esporte e Turismo será extinta e incorporada à pasta de Educação. Desde já o matemático Reato Feder, professor universitário, responde pelo esporte.

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Situação parecida vive Minas Gerais, onde Romeu Zema (Novo) foi eleito também prometendo cortar gastos públicos. Vencedor com um plano de governo que não fazia referência a esporte, tema ausente durante toda sua campanha, Zema extinguiu a antiga Secretaria de Esportes, incorporada à Educação. Sua gestão estará à cargo de Julia Sant'Anna, burocrata que cuidava da área de tecnologia no governo do Rio.

Em Santa Catarina, o esporte já era uma parte menor dentro da secretaria de Turismo, Cultura e Esporte, conhecida pela sigla SOL, que tinha como principal atribuição cuidar da área turística do estado. No governo do Comandante Moisés (PSL), correligionário de Bolsonaro, a pasta vai deixar de existir, incorporada à de Secretaria de Desenvolvimento Social (antiga Assistência Social), comandada pela socióloga Maria Elisa da Silveira De Caro.

A Fundação que cuida do esporte no estado desde 1993, a Fesporte, porém, continuará existindo. Terá como presidente o policial militar Rui Godinho (PSL), suplente de deputado federal pelo partido do governador e presidente municipal do PSL de Blumenau. Ao anunciar o nome dele, na quinta (3), o governo fez questão de ressaltar que trata-se de um faixa-preta de jiu-jitsu. 

Mesmo em estados onde os governadores se reelegeram a pasta foi extinta. Em Pernambuco, o governador Paulo Câmara (PSB) tirou o esporte da antiga Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer e colocou o setor como parte da Secretaria de Educação, que teve o secretário Fred Amâncio reconduzido ao cargo.

Reeleito em SergipeBelivaldo Chagas (PSD) unificou o que antes eram três pastas: Educação, Esporte e Lazer, e Cultura. O economista Josué Modesto Subrinho, professor universitário, que já era secretário de Educação, vai comandar a nova pasta. 

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Barganha política

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), chegou a negar de forma veemente que pudesse ceder à pressão do PRB e entregar a Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude para um membro do partido. Questionado sobre essa possibilidade, disse que, com ele, acabou o "toma lá, dá cá". Quatro dias depois, nomeou Aildo Rodrigues, presidente municipal do PRB em São Paulo, para ser secretário. Aildo já havia sido secretário-adjunto da pasta, mas foi demitido em 2013 porque, segundo o governo, passou o chapéu cobrando doações dos comissionados ao PRB.

À época, gente da própria gestão Geraldo Alckmin (PSDB), que exigiu a demissão de Aildo, criticou que ele estava cobrando "dízimo". Agora, ele volta à secretaria com ainda mais poder. Inicialmente, negou que fosse aparelhar a pasta. Mas já nomeou gente do PRB para cargos chave. Mudança de verdade, só no nome. Por economia de palavras, agora ela se chama apenas "Secretaria de Esporte".

No Rio de Janeiro, o tetracampeão Bebeto chegou a ser cotado pelo governador Wilson Witzel (PSC), mas a Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude acabou entregue ao deputado federal Felipe Bornier (PROS), filho de Nelson Bornier, ex-prefeito de Nova Iguaçu e membro de um importante clã político da Baixada Fluminense. Profissional de marketing, o novo secretário não tem atuação no esporte.

Na contramão dos seus colegas liberais, Ibaneis Rocha (MDB), novo governador do Distrito Federal, terá um secretariado amplo, com 29 pastas, a ampla maioria delas comandada por indicados por partidos e aliados. Leandro Cruz (MDB), que foi ministro do Esporte nos últimos nove meses graças à indicação da bancada do MDB, onde trabalhou como assessor, assumiu como secretário. Ele herda uma gestão elogiada da agora senadora Leila do Vôlei (PSB).

Marcelo Santos (PDT), deputado estadual no Espírito Santo, só vai assumir a Secretaria de Esportes e Lazer ao fim do seu mandato na assembleia legislativa, em 1º de abril. A pasta foi mantida pelo governador Renato Casagrande (PSB).

Suplente de vereador em Manaus, Caio André (PR) foi escolhido pelo governador Wilson Lima (PSC) como novo secretário de Juventude, Esporte e Lazer do Amazonas. No Pará, Helder Barbalho (MDB) indicou o vereador de Ananindeua Pastor Arlindo (PRB) como novo secretário de Esporte e Lazer. 

Na Bahia, estado do Nordeste onde a política pública esportiva é mais presente, o setor continua como parte da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte. Quem cuida do esporte lá é uma superintendência, a Sudesb, que continua sendo comandada por Elias Nunes Dourado (PCdoB), que já ocupou o cargo durante todo o primeiro mandato de Rui Costa (PT).

Os comunistas também comandam o esporte de Alagoas, onde Renan Filho (MDB) manteve a Cláudia Petuba (PCdoB), de apenas 30 anos, ex-candidata a vereadora em Maceió, à frente da Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude. Ela não tinha histórico com o esporte antes de assumir a pasta, em 2015. 

No Ceará, o bacharel em direito Rogério Pinheiro (MDB), indicado pelo senador Eunício de Oliveira (MDB), foi empossado pelo governador Camilo Santana (PT) como secretário de Esporte e Juventude. A pasta, antes só de Esporte, agora também cuida da Juventude, que antes era uma coordenadoria no gabinete do governador.

No Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) decidiu manter a Secretaria de Esporte e Lazer sob o comando de Hewerton Carlos Rodrigues. Conhecido como Passarinho, ele foi secretário parlamentar do deputado federal André Fufuca (PP), de quem inclusive foi doador de campanha.

No Mato Grosso, o esporte, antes uma subsecretaria dentro da Educação, foi promovido a secretaria pelo governador Mauro Mendes (DEM). O deputado estadual reeleito Allan Kardec (PDT), educador físico e autor de um livro sobre futebol de várzea, já foi empossado secretário de Cultura, Esportes e Lazer.

Em Goiás, o governador Ronaldo Caiado (DEM) criou uma secretaria exclusiva para a cultura, mas manteve o esporte ligado à antiga Seduce – Secretaria de Educação, Cultura e Esporte. O novo superintendente Executivo de Esporte é Rafael Ângelo do Valle Rahif, que já concorreu a vice-prefeito de Goiânia pelo DEM e que, de ligação com o esporte, tem a diretoria social de um country club.

No Acre, o esporte é parte da Secretaria de Educação, Cultura e Esporte. O professor e teólogo Mauro Sérgio Ferreira da Cruz foi o escolhido pelo governador Gladson Camelli (PP) para comandar a secretaria. 

Incógnita

Mato Grosso do Sul desde 1991 tem o esporte gerido por uma fundação, a Fudesporte, que continua existindo, ligada à secretaria de Governo. Marcelo Ferreira Miranda, educador físico e especialista em treinamento esportivo, foi exonerado junto com todos os secretários, mas tende a ser reconduzido ao cargo pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB), que foi reeleito.

Também reeleito no Tocantins, Mauro Carlesse (PHS) também fez uma exoneração em massa e ainda não nomeou o novo superintendente de Esportes. A antiga secretaria foi extinta no seu primeiro mandato e hoje é um braço da Secretaria de Educação, que segue comandada pela professora Adriana Aguiar.

Wellington Dias (PT), reeleito governador do Piauí, adiou para fevereiro uma reforma do secretariado. Hoje a área é responsabilidade de uma fundação, a Fundespi, comandada por Paulo Martins (PT). No Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT) anunciou o secretariado sem nomear ninguém para Esporte e Lazer. 

No Amapá, o secretariado só será anunciado na semana que vem pelo governador reeleito Waldez Góes (PDT). A promessa é de que a Secretaria de Desporto e Lazer seja mantida. O governador de Rondônia, Coronel Marcos Rocha (PSL) só anuncia seu secretariado nesta sexta. A Superintendência da Juventude, Cultura, Esporte e Lazer deve ser mantida com força de secretaria. O blog não conseguiu contato com o governo de Roraima, cujos sites, incluindo do Diário Oficial, estavam fora do ar na quinta (3)

 

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Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.


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