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Eleita senadora, Leila faz apelo para Ministério do Esporte não acabar

Demétrio Vecchioli

12/10/2018 04h00

Leila do Vôlei (Divulgação)

Quatro anos depois de receber apenas 11 mil votos e não se eleger como deputada federal pelo Distrito Federal, Leila do Vôlei deu a volta por cima. Foi escolhida por 467.787 eleitores da capital e cidades-satélites e se elegeu como senadora pelo PSB, a mais votada do DF. No Senado, promete defender uma pauta ampla, que começa pela manutenção do Ministério do Esporte.

"Serei defensora fervorosa da permanência do ministério. O esporte não pode ser reduzido a segundo escalão. O ministério é necessário não só para a políticas de alto-rendimento. Temos uma gigante cadeia esportiva, que desenvolve trabalho muito importante de cidadania. Estamos falando de um trabalho em um país que tem milhares de jovens dizimados pela violência. Vou defender veementemente. O governo que ganhar vou defender que o ministério continue", disse a senadora, em entrevista por telefone ao Olhar Olímpico.

Corre, em Brasília e em entidades esportivas, a informação de que o Esporte seria incluído em uma reforma ministerial caso Jair Bolsonaro, do PSL, chegue à presidência, passando a fazer parte de uma pasta com Educação e Cultura. Na segunda, o Olhar Olímpico conversou com o agora deputado federal eleito Luiz Lima, do PSL do Rio, que não quis comentar a polêmica porque aguardava uma posição oficial da candidatura de Bolsonaro. O nadador olímpico disse que conversaria sobre o assunto em encontro de aliados que ocorreu na quinta-feira. Mas, depois, não retornou os contatos do blog.

Apesar da preocupação, Leila não faz campanha por Fernando Haddad (PT) – nem por Bolsonaro. Neste segundo turno, apesar do apoio formal do PSB à candidatura de Haddad, ela diz estar empenhada em trabalhar pela reeleição do governador Rodrigo Rollemberg, que teve apenas 13,94% dos votos válidos no domingo. Seu adversário no segundo turno é Ibaneis, do MDB, que recebeu 41,97% dos votos válidos no primeiro turno.

"Nós optamos pela neutralidade. Até pelo cenário de extremismo que está acontecendo. Optei por ir junto com o partido e o foco total é na reeleição do governador", explicou. Na comparação com seu colega de chapa e atual governador, Leila recebeu mais do que o dobro de votos.

Para ela, um reconhecimento de seu trabalho de pouco mais de três anos à frente da secretaria local de esporte. "Senti muito preconceito por ser atleta, por ser mulher, por querer um cadeira majoritária. Mas eu não sou uma aventura. Ganhei esses 400 mil votos pelo trabalho como secretária. As pessoas falavam: 'Ah, mas a Leila está preocupada em fazer do Brasil uma potência esportiva…'. Não! Quero o o esporte integrado à educação. Fiz um trabalho conectado à saúde, à cultura."

Nem Ana Paula, nem Ana Moser

Leila é a terceira jogadora medalhista de bronze com a seleção brasileira feminina de vôlei em Atlanta-1996 a ganhar projeção na política nacional. Ana Moser vem se destacando como líder da ONG Atletas pelo Brasil, que vem levando ao Congresso pautas como a reforma da Lei Pelé. No primeiro turno, anunciou voto em Ciro Gomes. Já Ana Paula se tornou uma das principais influenciadoras de um movimento mais ligado à direita, nas redes sociais.

Questionada, Leila evita comparações. "Não sou nem A, nem B. Só quero o melhor. A política não é minha profissão. Não me imagino daqui a 15 anos fazendo isso. Quero deixar um legado de compreensão, do que é o esporte, do que o esporte pode contribuir para um país."

Mas quem está acostumado a ouvir Ana Moser reconhece em Leila as falas semelhantes. Com uma importante diferença: Ana Moser fala em tom didático, professoral. Leila parece que transforma em palavras o que o coração sente. Sua fala é mais emocionada.

"Eu me vejo como uma voz indignada. Entrei na política muito influenciada pelo meu trabalho no terceiro setor. Eu fui subindo degraus, trabalhei com alto-rendimento, montei o time de vôlei de Brasília. Mas eu via que havia uma falta de entendimento do esporte, que a gente precisava de mais representatividade. Não adianta fazer na base se não tem legitimidade em cima. O esporte precisa de alguém que pegue as pautas e não as engavete."

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.