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Olhar Olímpico

COB faz mea culpa e diz que tentativa de mudar estatuto foi equivocada

Demétrio Vecchioli

05/12/2019 19h08

Paulo Wanderley e Marco La Porta (divulgação/COB)

A diretoria do Comitê Olímpico do Brasil (COB) admitiu, nesta quinta-feira (5), que foi equivocada a tentativa de mudar o estatuto da entidade a partir de uma discussão a toque de caixa, na semana passada. Em fala a diversos players importantes do esporte, incluindo presidentes de confederações, atletas e membros do governo, o vice-presidente Marco La Porta fez um mea culpa em nome do comitê.

"Aproveito a ocasião para refletir sobre aquele que, talvez, tenha sido o principal equívoco de nossa gestão: a forma de condução da reforma proposta no estatuto do COB semana passada, aprovada em assembleia, mas que até agora é fruto de discussão e descontentamentos. Jamais foi intenção do COB e de seu Conselho de Administração andar para trás em termos de gestão, ética ou transparência. Pelo contrário, as propostas visavam a adequar nosso regimento às melhores práticas vigentes", afirmou o vice-presidente.

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La Porta representava o presidente Paulo Wanderley na quinta edição do Prêmio Sou do Esporte, premiação dada pela ONG carioca para as confederações mais bem avaliadas em governança. O presidente do comitê era esperado no evento, em São Paulo, mas passou mal voltando do COB para casa na noite de ontem (4). Parou no Parque Maria Lenk e, com quadro de pressão alta, foi levada ao Hospital Samaritano, onde passou a noite. Submetido a exames, recebeu alta pela manhã, mas, de acordo com o COB, não foi liberado a viajar.

Na ausência de Paulo Wanderley, coube a La Porta vir a São Paulo e tentar apagar o incêndio que se instaurou no movimento olímpico há uma semana, na maior crise vivida pelo comitê desde a prisão de Carlos Arthur Nuzman. Como não poderia ser diferente, foi assunto dominante do evento a tentativa de alterar profundamente o estatuto do COB apresentando a minuta a membros da assembleia apenas na noite anterior.

Boa parte do movimento olímpico só ficou sabendo que existiria uma assembleia à tarde quando, na quinta de manhã, o Olhar Olímpico publicou sobre a reunião e sobre as propostas da diretoria, que incluíam reduzir os poderes do Conselho de Ética. Atletas e parte das confederações se uniram e conseguiram vetar parte das propostas. Mesmo assim, ao enviar a minuta "aprovada" do estatuto às confederações na sexta (28), a diretoria havia retirado poderes do Conselho de Ética mesmo assim. A manobra foi revelada pelo Olhar Olímpico mais cedo, após o COB reconhecer o erro.

"Se, por um lado, a discussão sobre a reforma estatutária gerou críticas – já ouvidas, avaliadas e consideradas -, por outro ela é a prova viva da eficácia dos mecanismos de governança do COB. Ao interromper processos em andamento para escutar seus principais públicos, o COB mostra sua maturidade e desejo de fazer o melhor pelo esporte olímpico brasileiro", avaliou La Porta.

No evento desta quinta-feira, o movimento do COB foi criticado tanto pelo presidente do Conselho de Ética, Alberto Murray, que disse que ficou sabendo na véspera da assembleia do movimento para enfraquecer o órgão, quanto pela presidente da Sou do Esporte, Fabiana Bentes, que tem boa relação com La Porta e chegou a ser recebida no COB, na terça, para tratar das alterações no estatuto. Segundo ela, a ONG ainda vai soltar uma nota detalhada, mas são ao menos cinco pontos de discordância, incluindo a forma como a assembleia foi convocada.

O estatuto, porém, é só parte da crise que se instaurou no COB nos últimos dias. Também na última quinta-feira o blog revelou a existência de uma auditoria interna no COB que encontrou irregularidades em contratos da área de tecnologia, todos associados a dois funcionários que chegaram ao comitê logo após Paulo Wanderley assumir a presidência. Ambos são de Vitória (ES), assim como Paulo Wanderley.

Marco La Porta também não fugiu do assunto. "Faço questão de frisar aqui perante vocês que não houve desvio de verba ou superfaturamento de contratos. Todas as seis recomendações oriundas da investigação foram acatadas e, independentemente delas, o COB também tomou medidas para melhoria de sua gestão e controle internos. Além disso, desde maio de 2019 estamos atuando junto ao Ministério Público para esclarecer quaisquer questões. Reitero, portanto, meu compromisso pessoal como vice-presidente, do nosso presidente Paulo Wanderley e do COB como instituição em respeitar os preceitos éticos e de integridade", completou.

A Confederação Brasileira de Tênis de Mesa foi a vencedora do Prêmio Sou do Esporte este ano. A confederação de vela ficou no segundo lugar, seguida das de atletismo, em terceiro, de golfe e rúgbi, empatadas no quarto luga, e vôlei, em quinto. A CBVela, que está impedida de receber recursos públicos por dívidas cobradas pela Receita Federal, havia sido reconhecida como a de melhor governança do país no Rating Integra, com a do tênis de mesa em segundo.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.