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Olhar Olímpico

Confederação de Basquete deixa 180 jovens sem Bolsa Atleta

Demétrio Vecchioli

31/10/2019 17h00

Instituto Mangueira foi vice-campeão sub-16 no ano passado. Garotas ganhariam bolsa se CBB tivesse indicado evento (divulgação/CBC)

Menos de um ano depois de um intenso movimento em defesa da manutenção da Bolsa Atleta para jovens atletas, a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) decidiu não indicar eventos das categorias de base para o programa. Com isso, proibiu que cerca de 180 garotos e garotas de todo o país recebessem o benefício, de R$ 925 (para a maioria deles) a R$ 370. Para indicar os eventos, bastava ter preenchido uma folha simples de papel sulfite.

Pela legislação vigente desde sua criação, o Bolsa Atleta beneficia atletas que disputaram a última edição dos Jogos Olímpicos ou Paraolímpicos ou que ficaram nas três primeiras colocações dos eventos máximos de suas respectivas modalidades, sejam em nível mundial, pan-americano, sul-americano ou nacional.

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Cabe à confederação de cada modalidade indicar esses eventos e emitir uma certidão, para cada atleta, atestando que ele disputou determinada competição válida e que ficou (individualmente ou por equipe) nas três primeiras colocações, fazendo jus à bolsa.

Só na categoria nacional (bolsa mensal de R$ 925) a CBB poderia ter indicado três eventos no masculino e três no feminino, nas categorias etárias "principal" (adulto), "intermediário" e "iniciante", além de mais um de cada gênero para a categoria atleta de base (R$ 370).

Cada modalidade tem sua divisão etária específica. No basquete, ano passado, foram disputadas versões da "Copa Brasil de Clubes" sub-21, sub-18, sub-16, sub-14, sub-13 e sub-12 no masculino e sub-16 e sub-14 no feminino, além da Liga de Desenvolvimento do Basquete (LDB), sub-21.

Em nota na semana passada, a CBB explicou que: "Não houve indicação da CBB pois as competições são realizadas pelo Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) em parceria e chancela da CBB, portanto, ficando fora da nossa competência".

O CBC é beneficiado com recursos da Lei Angelo/Piva e tem utilizado o dinheiro para organizar campeonatos interclubes, chancelados pelas confederações olímpicas de praticamente todas as modalidades. No caso do basquete, os torneios constam no calendário oficial da CBB, que é quem divulga seus resultados. O boletim final com a classificação de cada campeonato, inclusive, fica hospedado no site da CBB.

De qualquer forma, uma vez que a CBB chancela o torneio, não haveria qualquer problema em indicá-los, conforme explicou, em nota, a Secretaria Especial do Esporte. Diversas outras modalidades indicam torneios equivalentes. O modelo de documento em que cada confederação informa seus torneios não questiona quem o organizou, apenas seu nome, quantos estados participaram e quem ficou em cada uma das seis primeiras colocações (veja o modelo aqui

Ao escolher não fazer a indicação, a CBB deixa de permitir que 144 atletas recebam a bolsa nacional de R$ 925 e que 36 ganhem a bolsa de base, de R$ 370. Por ano, isso significa R$ 1,6 milhão a menos para manter jovens atletas "invistam no seu desenvolvimento e possam prosseguir em busca de um dia chegarem ao alto rendimento", como escreve a confederação. 

O Olhar Olímpico questionou a CBB sobre o impacto da decisão no desenvolvimento do basquete brasileiro e os motivos de os torneios de base não terem sido indicados. A confederação preferiu não responder.

(divulgação)

Adulto também é prejudicado

A lei que rege o Bolsa Atleta determina que cada confederação indique o "evento máximo" de sua modalidade em âmbito nacional. A CBB, porém, decidiu peitar o NBB, que tem a chancela de campeonato brasileiro adulto masculino, e indicar a Supercopa Brasil, torneio de terceira divisão, único organizado por ela em 2018.

O governo não aceitou a indicação, alegando que só participaram do torneio quatro equipes dois estados diferentes. A portaria que rege o Bolsa Atleta desde 2011 exige que, para ser apto, um campeonato tenha ao menos cinco participantes, de três estados. Além disso, a competição não contou com nenhum atleta convocado para seleção brasileira.

Ao escolher indicar um torneio inapto pela legislação e que não cumpre a exigência legal de ser o "evento máximo", a CBB deixou outros até 36 atletas sem Bolsa Atleta – a conta não leva em consideração jogadores que já ganham bolsa nas categorias internacional e olímpica.

Sobre isso, a confederação alegou que indicou a Supercopa "por entender que o programa do governo federal é uma iniciativa que visa dar condições para que atletas que precisam da verba sigam suas carreiras, invistam no seu desenvolvimento e possam prosseguir em busca de um dia chegarem ao alto rendimento, o que não é o caso dos três primeiros colocados da NBB". No feminino a Liga de Basquete Feminino (LBF) foi indicada normalmente.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.