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Vídeo mostra quadras da Rio-2016 transformadas em estacionamento no RIR

Demétrio Vecchioli

16/10/2019 15h30

Um vídeo viral gravado durante o Rock In Rio mostra quadras de tênis construídas para a Olimpíada do Rio transformadas em estacionamento de caminhões de lixo da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), empresa de economia mista ligada à prefeitura. Até esta quarta-feira (16), dez dias depois do festival, essas quadras ainda estão ocupadas por contêineres.

"Vocês que adoram quadra de tênis, [vejam] o que as quadras de tênis do nosso parque olímpico viraram. Tudo destruído. Foi para o espaço. Tem algumas que tão sobrevivendo. Uma já virou campo de futebol, outra funcionando, mas é isso", diz o homem que gravou o vídeo.

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O Olhar Olímpico procurou o governo federal e a prefeitura do Rio para tratar do vídeo. Enquanto a Secretaria Especial do Esporte se limitou a dizer que "as áreas não estão sob a responsabilidade do Governo Federal", a Subsecretaria Municipal de Legado foi mais específica, para mostrar que o espaço que virou estacionamento não tinha previsão de seguir sendo uma quadra no chamado "modo legado".

Durante a Olimpíada, o Parque Olímpico teve 10 quadras de jogo (sendo três delas dentro de arenas, uma das quais permanente, e sete sem arquibancadas) e seis de aquecimento. Passados os Jogos, o plano da prefeitura era que fossem mantidas duas arenas (incluindo a quadra central) e cinco quadras sem arquibancada. Outras duas seriam construídas pelo Consórcio RioMais dentro do terreno do Centro Olímpico de Tênis que, no total, teria nove quadras.

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Esse era o plano. Na prática as coisas correram diferente (vide imagem abaixo). A RioMais, dona a maior parte do terreno do parque olímpico, nunca o assumiu de fato e, portanto, nunca construiu as duas novas quadras. Foi feita então uma troca: enquanto a concessionária não constrói as duas nova quadras prometidas (marcadas com os números 13 e 14), o Centro de Tênis incorporou duas quadras originais que estão no terreno da RioMais (marcadas como 1 e 5).

Na imagem, o Parque Olímpico no "modo Jogos". Pelo planejamento inicial, o Centro de Tênis teria as quadras 2, 3, 4, 6, 7, 14 e 15. Uma rua seria construída sobre as quadras 1, 2, 8 e 11, já no terreno da RioMais. Enquanto as quadras marcadas pelos números 14 e 15 não são construídas pela RioMais, o Centro de Tênis engloba as quadras de 1 a 7. As de 8 a 13 estão no terreno da RioMais e ali que foi gravado o vídeo.

Isso modificou o desenho da cerca que separa o que é Centro de Tênis e o que é da RioMais, deixando no terreno da concessionária o espaço onde, na Rio-2016, funcionaram seis quadras de aquecimento (de 8 a 13). Elas nunca mais foram utilizadas, mas a pintura continuou no chão. Um funcionário comparou a situação a um heliponto ali do lado: ele deixou de funcionar, nenhum helicóptero pode pousar, mas a pintura continua no chão. Foi nessa área em que foram filmados os caminhões.

Três anos depois da Olimpíada, o Centro de Tênis, sob administração do governo federal, nunca recebeu uma competição oficial, mas suas quadras quadras estão disponíveis à população, ainda que algumas tenham deixado de ser de tênis e passaram a ser de futebol – seja de salão, areia ou society. O blogueiro de tênis do UOL Esporte, Alexandre Cossenza, chegou a escrever um relato de como é jogar de graça nessas quadras.

"Largado" Olímpico

É cada vez mais comum que moradores do entorno do Parque Olímpico se refiram ao espaço como "Largado Olímpico". A sensação cresceu depois que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) resolveu não renovar a Autoridade de Governança do Legado Olímpico (AGLO), que administrava a parte do complexo que gabe ao governo federal – o Centro de Tênis, o Velódromo e as Arenas 1 e 2.

A responsabilidade sobre o espaço passou a ser do Ministério da Cidadania, que não tem, no seu organograma, nenhum cargo destinado à gestão do legado. A pasta diz que atualmente nove de seus funcionários atuam no parque, número negado por pessoas que trabalharam ali como "voluntárias" nos últimos meses e que foram abandonando o barco à medida que percebiam que as promessas de solução não eram cumpridas.

Na véspera de começar o Rock In Rio o coronel Leão, que liderava a equipe de voluntários, anunciou que estava abandonando a função para assumir uma função no Exército. O posto ficou vago, porque, de acordo com fontes do Olhar Olímpico, ninguém quis assumir, nem informalmente, a responsabilidade pelo parque olímpico durante a locação ao Rock In Rio.

A pista de pinho siberiano do Velódromo, por exemplo, virou palco para um "espetáculo interativo". Esses supostos nove funcionários do Ministério da Cidadania cuidaram da fiscalização das instalações de todo o parque durante o Rock In Rio, de acordo com a pasta. Nunca houve divulgação de quanto os organizadores pagaram pelo aluguel do espaço. O Olhar Olímpico perguntou esse valor ao ministério ontem (15), mas não obteve resposta.

A Subsecretaria do Legado Olímpico diz desconhecer o valor pago pelo Rock In Rio para alugar a Arena Carioca 3, porque o acordo não passou por ela. De qualquer forma, não há repasse de dinheiro, apenas permuta por benfeitorias. Em 2017, antes de o Rock In Rio começar, existiam duas quadras de futebol society na área que pertence à prefeitura. Depois do fim do festival essas quadras desapareceram.

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Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.


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