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Prefeitura de SP pagou R$ 1,7 mi a agência para ter Mundial de Skate

Demétrio Vecchioli

20/09/2019 04h00

Skatista comemora resultado na etapa da SLS do Rio (Breno Barros / Rede do Esporte)

A Prefeitura de São Paulo adotou um modelo de contrato pouco comum para trazer à cidade a etapa final da Skate Street League (SLS), campeonato mundial que começou ontem (19) e vai até domingo (22) no Anhembi. Ao invés de repassar recursos a uma entidade esportiva, o governo Bruno Covas (PSDB) se comprometeu a pagar R$ 1,2 milhão a uma agência e investir outros R$ 500 mil para garantir a infra-estrutura dentro do Pavilhão de Exposições. O público precisa pagar ao menos R$ 50 para assistir às provas.

O acordo vem gerando questionamentos tanto dentro da Prefeitura quanto na comunidade do skate. Uma diretora da Confederação Brasileira de Skate (CBSk) e o secretário-adjunto de Esporte da Prefeitura são irmãos. E os dois são filhos de um dos fundadores do PSDB, antigo presidente do diretório municipal do partido em São Paulo.

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A Prefeitura confirma que o modelo de contratação nunca havia sido adotado para eventos esportivos na cidade. Em outras oportunidades em que São Paulo recebeu torneios de médio ou grande porte, foi formalizado convênio entre o poder público (federal, estadual ou municipal) e uma entidade esportiva (confederação ou federação). Foi assim, por exemplo, nos mais recentes Mundiais de basquete e handebol e em etapas da Liga Mundial de Vôlei disputadas na cidade. O convênio permite que se fiscalize a aplicação dos recursos, porque o beneficiário precisa prestar contas.

Para este Mundial, a Prefeitura, de forma inédita no esporte, se colocou como patrocinadora do campeonato. Com recursos da Secretaria Municipal de Turismo, pagou R$ 1,7 milhão à Effect Sports pelo evento. A contratação se deu por inexibilidade, quando não é feita licitação porque só uma empresa pode fornecer o serviço – no caso, a Effect é dona dos direitos do torneio no Brasil. O Olhar Olímpico já escreveu sobre esta empresa, que usava uma ONG para captar recursos públicos para seus eventos.

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A Prefeitura diz que adotou esse modelo porque "não havia a possibilidade de convênio com entidades esportivas" e que a única forma de apoiar o Mundial era por meio da Effect, detentora dos direitos exclusivos da SLS. Sempre de acordo com o governo municipal, foram os organizadores que o procuraram propondo trazer o Mundial a São Paulo. "Sem este apoio, não teria sido possível a realização do evento", ressalta a prefeitura. Em janeiro passado, a edição 2018 do evento aconteceu no Rio sem patrocínio da prefeitura carioca.

Doria x Covas

No começo da semana passada, o governador João Doria (PSDB) fez questão de receber no Palácio dos Bandeirantes o que ele chamou de "abertura" do Mundial de Skate Park, que aconteceu no fim de semana no Parque Cândido Portinari, na zona Oeste da cidade. E, no evento, ressaltou diversas vezes que a competição ocorria sem qualquer recurso público, bancada pela Oi, patrocinadora master.

Durante a cerimônia, não foi mencionado nenhuma vez que São Paulo sediaria um segundo campeonato Mundial, da outra modalidade olímpica do skate. Era como se o evento patrocinado pela Prefeitura municipal não existisse, como o Olhar Olímpico contou na ocasião. Da mesma forma, o governo Covas ignorou a existência do Mundial de Park, apadrinhado por Doria, citando ao blog que a competição competia ao governo estadual.

Haveria, de acordo com pessoas ouvidas pelo Olhar Olímpico, apenas um elo entre os dois eventos: Thiago Lobo. Filho de José Henrique Reis Lobo, ex-presidente do PSBD de São Paulo e fundador do partido, Thiago é o atual secretário-adjunto de Esporte na capital paulistana e foi indicado pessoalmente por Doria como conselheiro estadual do esporte. Ele não faz parte do grupo político do secretário da SEME, Carlos Bezerra Jr, que é maioria na pasta.

Thiago foi duas vezes candidato a deputado estadual pelo PSDB, recebendo apoio explícito de Bob Burnquist, que recentemente renunciou à presidência da CBSk, Sandro Dias, diretor esportivo da confederação, e de Tatiana Lobo, irmã dele, que é diretora de comunicação e assessora pessoal de Bob.

 

Ainda que a agenda do secretário municipal de Turismo Orlando Faria (PSDB) aponte diversos encontros com Thiago, a pasta negou que soubesse da relação de parentesco entre o adjunto e a diretora da confederação. "A Secretaria Municipal de Turismo não tinha conhecimento desta relação. Vale ressaltar que o secretário adjunto da SEME e a CBSk não tiveram participação na realização do evento", disse o Turismo, em nota.

A CBSk disse que "todas as informações" citadas em e-mail enviado pela reportagem "não têm nenhuma relação com os eventos" e ressaltou que não tem nenhum envolvimento com a realização do Mundial de Street, realizado neste fim de semana. "Não fazemos parte da organização do evento", reforçou a confederação.

De acordo com a Prefeitura, o patrocínio ao Mundial de Street vai permitir a exposição do logo "Prefeitura de São Paulo/Turismo" em materiais físicos no Anhembi. No Mundial de Park, a Prefeitura também teve a marca exposta em placas à beira da pista, em troca apenas de "apoio institucional".

Também será exibido, de acordo com o governo municipal, um vídeo institucional da cidade nos intervalos das disputas, com um alcance médio global de 595 milhões de domicílios somados. Isso é quase nove vezes o número de domicílios no país. O torneio será transmitido pelo SporTV 2 para o Brasil e pelo Youtube para o resto do mundo.

 

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Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.


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