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Olhar Olímpico

De Jesus a Jesus, Isaquias vira casaca e se assume flamenguista

Demétrio Vecchioli

08/12/2019 04h00

Marcelo Cortes/Flamengo

É possível um apaixonado por futebol, já em plena vida adulta, mudar de time do coração? Isaquias Queiroz diz que sim. O multimedalhista olímpico brasileiro, desde sempre um viciado em futebol, ainda mantém um carinho especial pelo São Paulo, até recentemente seu clube preferido, mas não conseguiu resistir aos encantos de ser Flamengo.

Desde o início do ano o canoísta baiano, que antes defendia o Paulistano, de São Paulo, faz parte da equipe olímpica do Flamengo. Em dez meses, o carinho adormecido pela camisa rubro-negra voltou a florescer. "Eu era flamenguista quando eu era menor e depois torci para o São Paulo. O pessoal pergunta por que eu mudei, e eu digo que não é questão de virar casaca, mas é olhar o lado de quem acredita em você. Vi uma matéria do cara que limpou a taça da Libertadores, ele falou 'ainda dá tempo de ser flamenguista', e comigo foi assim. A torcida do Flamengo contagia, não tem como não torcer para um time desses", conta.

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Nascido em Ubaitaba (Bahia) há quase 26 anos, Isaquias cresceu em meio a uma família de flamenguistas. Boa parte de suas experiências em estádio de futebol foi acompanhando os irmãos em jogos do Flamengo. Pela televisão também. Assim, não foi difícil se apaixonar pelo Flamengo em sua volta ao clube, depois de defendê-lo entre 2010 e 2013, quando ainda estava nas categorias de base.

"A torcida é totalmente diferente de qualquer uma. O pessoal do Flamengo, a torcida, me abraçou já em 2010. Naquela época a parceria não deu certo, o Flamengo não estava bem financeiramente, e eu acabei saindo. Mas agora eu voltei já com o nome feito, o torcedor já me conhece bastante e me dá um apoio totalmente diferenciado. No Mundial mesmo eu recebi muitas mensagens de elogio, de força", lembra o canoísta, assegurando que, jogue o Flamengo contra quem for, até o São Paulo, ele será Flamengo.

Diferentes de outras modalidades, como judô, natação e ginástica artística, a canoagem não precisa ser auto-sustentável no Flamengo. Isso porque a primeira prioridade prevista no estatuto do clube é "promover, incentivar e desenvolver a prática do remo e do futebol". Historicamente no Fla, a canoagem velocidade é considerada um braço do remo e, por isso, é gerida pela mesma vice-presidência.

Daí a decisão de contratar o principal canoísta brasileiro, no início do ano, três meses depois de Isaquias Queiroz perder o treinador que o lapidou e o fez um medalhista olímpico, o espanhol Jesus Morlán. Quis o destino, porém, que outro Jesus entraria no seu caminho, mas como treinador do futebol do Flamengo.

"Eu tive a oportunidade de ir lá no Ninho de Urubu, conhecer os caras. Foi uma cosia muito legal. Cheguei lá e eles me receberam super bem. Muitos já me conheciam. O Jesus também conversou comigo, fez várias perguntas sobre meu treinamento, como eu treinava", conta Isaquias.

Em agosto, utilizando uma canoa pintada com as cores rubro-negras, Isaquias se tornou pela primeira vez campeão mundial do C1 1.000m, a prova individual de canoa masculina que será disputada nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Até então, ele tinha outros três títulos mundiais individuais, em provas não-olímpicas, e três medalhas no C1 1.000m, mas nenhuma dourada.

Marcelo Cortes/Flamengo

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.