Nathalie é campeã mundial 7 meses após volta à esgrima e chora pelo pai
Pela segunda vez na carreira, Nathalie Moellhausen havia decidido abandonar o esporte. Pós-graduada em produção cultural, ela aposentou a espada em 2018 e voltou a organizar a área artística de eventos para a Federação Internacional de Esgrima (FIE). Abriu mão, para sempre, do grande sonho da maior parte dos seus então 32 anos de vida: ser campeã mundial ou olímpica.
Um ano e meio depois, Nathalie conta essa história sorrindo, com o rosto ainda lavado com as lágrimas de quem acaba de ser campeã mundial de esgrima. O sonho da menina milanesa foi realizado, graças ao incentivo do técnico francês Daniel Levavasseur.
"Eu parei no ano passado de fazer esgrima e em janeiro meu treinador veio me falar que eu tinha que continuar até o final. Em janeiro voltei a treinar para chegar ao meu objetivo, que era ganhar o Mundial. Demonstrar que tudo na vida é só uma questão de crer", contou Nathalie, por telefone, ao Olhar Olímpico, enquanto atendia os fãs em Budapeste, na Hungria.
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Desta vez ela queria ainda mais o título. Queria homenagear o seu grande incentivador, seu pai, que faleceu em março do ano passado. "Foi super emocionante pra mim porque um ano atrás perdi meu pai e ele era a pessoa mais importante nesse percurso da minha carreira esportiva. Ele que sempre acreditou em mim e sempre disse que qualquer coisa era só uma questão de crer. Então eu sonhei muito com isso, que eu ia ganhar, que não ia deixar passar. Quis continuar lutando para honrar a honra do meu pai", explicou, enquanto alguém lhe avisava que agora ela é a quarta colocada do ranking mundial.
Aos 33 anos, Nathalie está longe de ser uma novata na esgrima. Quando competia pela Itália, ela foi bronze na espada individual no Mundial de 2010, curiosamente também depois de trabalhar organizando um evento para a FIE no mesmo ano. Por equipes, com a fortíssima seleção italiana, foi campeã em 2009 e bronze em 2011.
Nos Jogos de Londres-2012, porém, não foi escalada para competir na disputa individual e entendeu que seu ciclo com a Itália estava encerrado. Parou com a esgrima, estudou na França, e decidiu voltar ao esporte em 2014, desta vez pelo Brasil. Neta de brasileira, ela já tinha passaporte e pôde se naturalizar esportivamente com aval da federação italiana, o que barrou a necessidade de uma quarentena.
Perguntada se o ouro é também é uma resposta à Itália, Nathalie diz que "claro". "Também. Mas eu acho que na vida a Itália me deu muito, a Itália me deu muito", repetiu, antes de ser interrompida mais uma vez, desta vez para fazer o exame antidoping, e encerrar a entrevista.
Deu tempo também de responder que não, que ela não pensa em parar a carreira de novo antes dos Jogos de Tóquio. "Agora eu posso ir direto só para Tóquio. Não preciso nem competir mais. Se quiser, posso só me apresentar em Tóquio. Não vou aposentar de novo não. Sei que posso continuar nessa direção e sonhar com a medalha olímpica."
Festa brasileira
Uma das modalidades mais tradicionais do esporte, a esgrima tem Campeonatos Mundiais oficias desde 1937, com 12 provas por edição. Mesmo assim, até hoje, só 28 países haviam ganhado medalhas de ouro, a grande maioria europeus. Exceções, só potências olímpicas como Japão, Coreia do Sul, China, EUA, Canadá e Cuba.
Isso torna o feito de Nathalie, pelo Brasil, ainda mais notável. E explica em partes por que a delegação brasileira inteira mandou às favas os protocolos de segurança, driblou as barreiras que resguardavam o local de competição, e invadiu o tablado para abraçar a colega e jogá-la ao alto.
Nunca o Brasil havia ido tão longe na esgrima e a perspectivas são cada vez melhores. Entre os dias 21 e 22 (domingo e segunda), Nathalie se soma a Victoria Vizeu, Amanda Simeão e Katherine Miller para a competição por equipes na espada feminina, a melhor chance de o Brasil classificar uma equipe para Tóquio.
Até o ano passado a equipe não existia. Quando voltou a jogar, depois de um tempo afastada por lesão, Amanda fez um grupo de Whatsapp com as demais e incentivou o retorno. No começo do ano, Katherine, que é nascida e radicada nos Estados Unidos mas defendeu o Brasil no ciclo olímpico passado, também avisou que estava à disposição.
Por conta do trabalho, ela não foi liberada para disputar a competição individual de espada, que começou na segunda e teve o quadro final nesta quinta, mas já está em Budapeste para a competição em equipes. Vizeu, por sua vez, tem apenas 15 anos e ainda está se desenvolvendo na modalidade.
Mesmo assim, o Brasil é 19º do ranking mundial. Vão a Tóquio os quatro primeiros do ranking, mais o melhor de cada continente. Na espada feminina, as norte-americanas estão em primeiro, o que abre uma vaga para outra equipe das Américas. O rival do Brasil é o Canadá, 16º. No Campeonato Pan-Americano, há 20 dias, os dois times se enfrentaram na semifinal e, mesmo com Nathalie mal de saúde, deu Brasil.
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