Topo

Olhar Olímpico

Larissa volta ao Pan dois anos após ter perna "dilacerada" na Marginal

Demétrio Vecchioli

27/06/2019 04h01

Larissa Oliveira passou por cirurgia na perna (reprodução/Facebook)

Dilacerado: cortado ou rasgado com violência. É essa a palavra que Larissa Oliveira costuma usar para explicar o que aconteceu com sua perna no dia 9 de março de 2017. A nadadora estava dirigindo até a faculdade quando um galho de árvore caiu sobre o seu carro e atingiu sua coxa direita. Um acidente grave, que a deixou três semanas no hospital, mas que, por sorte, não encurtou sua carreira.

LEIA MAIS:

+ Doping de Gabriel Santos é golpe duro no 4x100m livre a 25 dias do Mundial

+ Quebrada, CBDA fecha sede no Rio e põe prédio à venda

 + Tiro esportivo leva ao Pan jovem de 17 anos que atira desde os 9

"Estava saindo do clube indo e para a faculdade. No meio do caminho, um galho podre caiu e atingiu a minha perna. E o tempo estava seco, sem chover, com um tempo aberto. Quando o galho caiu, fui me ajeitando e consegui parar o carro com a outra perna, fazer todo aquele trâmite ali no momento", lembra ela, que conta que não se desesperou de início.

Achou que não havia passado de susto. Até chegarem os primeiros socorros. "A ambulância chegou e foi fazer os primeiros socorros. No que cortaram a calça, eu vi o que aconteceu. Ali foi um momento crítico. [O galho] dilacerou a minha perna. O que eu tinha visto era que a perna estava deformada, mas como a calça ficou "segurando" eu não cheguei a ver a lesão. Chorei quando vi a lesão e quando meu técnico chegou".

O acidente ocorreu relativamente perto do Esporte Clube Pinheiros, na Marginal Pinheiros. Natural de Juiz de Fora, Larissa mora sozinha em São Paulo. Assim, o primeiro contato foi com o treinador Alberto Silva. "Quando ele chegou, eu desabei. Minha mãe também ficou desesperada, mas meu pai eu deixei para contar por último, porque alguém tinha que ficar em casa tocando a vida", relembra.

Na mesma noite, ela passou por cirurgia no Hospital Albert Einstein. Levou cerca de 300 pontos. O galho podre, que atravessou o vidro do carro e fez um profundo corte no banco do motorista, também acabou com o adutor longo da coxa direita de Larissa. Ela simplesmente perdeu o músculo. 

Mesmo assim, não desistiu de nadar. "Tinha muita hora que eu me questionava 'por que comigo?', mas acho que não adianta ficar o tempo inteiro sofrendo com isso. Eu tinha duas escolhas: ou sofria eternamente ou virava a página e 'vida que segue'. E eu optei por sempre pensar que isso não seria nada na minha vida, que eu logo ia voltar recuperada e não deixaria isso me abalar. Acredito que essa motivação de voltar logo foi a aceleração de todo o meu processo porque, a princípio, o médico tinha dito que ficaria 3 meses afastada da água, e acabei ficando apenas pouco mais de 1 mês."

O acidente e as dificuldades de retornar à natação acabaram sendo um estímulo extra para a nadadora. "Queria a todo momento provar pra mim mesma que sou forte, que eu consigo. Acho que essa força te impulsiona", avalia.

Larissa Oliveira, do Pinheiros (Satiro Sodré/SSPress/CBDA)

Pan de Lima

Principal velocista brasileira no ciclo olímpico passado, Larissa tem no currículo três medalhas dos Jogos Pan-Americanos. Em Toronto, em 2015, ganhou uma medalha de prata e duas de bronze com os revezamentos. Neste ano, todo o foco está no Pan de Lima, até porque a vaga para o Mundial de Gwangju (Coreia do Sul) não veio.

"Por mais que a gente sofra por não estar em todas as seleções, entendo isso mais como um processo e sei que às vezes a gente não chega no nosso melhor tempo, mas eu confio no processo ao longo prazo. O nosso foco é 2020, não tem como negar que não queremos estar só lá, queremos brigar por uma medalha. Então eu tento ver no longo prazo. Se não vai bem em uma temporada, analisar os erros e os acertos para poder consertar para a próxima", diz.

Em Lima, ela diz, o objetivo será brigar por medalhas individuais nas duas provas que ela nada: os 100m e os 200m livre, tendo agora esta última como sua prioridade. "Já conversei com o meu treinador, analisei o que foi certo e errado no Maria Lenk, tiramos muitas coisas produtivas. Com os erros a gente consegue aprender bastante e acredito que estamos no caminho certo."

Nas últimas duas edições dos Jogos Pan-Americanos, os revezamentos feminino sempre ganharam medalhas nos revezamentos, subindo no pódio com Canadá e Estados Unidos. A Argentina, porém, está em crescimento e aparece como ameaça para as brasileiras. Larissa, porém, não esconde a confiança.

"Então eu acho que pela nossa união pela vontade de ter uma medalha do Pan-Americano, que é algo muito legal na carreira, a gente consegue ter um resultado positivo. Mas acho que não é obrigação, e sim vontade de ter sua medalha. Acredito que posso falar por todas as meninas: estamos preparadas não para ser o terceiro país [no pódio]. Estamos indo para brigar por, quem sabe, uma inédita medalha de ouro."

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.