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Olhar Olímpico

Por que o governo trocou um general por outro no Esporte

Demétrio Vecchioli

18/04/2019 17h39

General Décio Brasil durante a cerimônia em que passou para a reserva, ao lado de sua companheira (divulgação/EB)

A demissão do general Marco Aurélio Vieira do posto de secretário especial de Esporte após apenas 107 dias de trabalho se assemelhou à de tantos treinadores de futebol pelo Brasil. Os atletas tentaram sair em sua defesa, mas a falta de resultados e de sincronia com os interesses dos seus superiores tornava a demissão questão de tempo. Tanto é que Marco Aurélio nem havia esvaziado as gavetas e um substituto já estava escolhido.

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O general de divisão Décio dos Santos Brasil, que passou para a reserva no ano passado depois de 42 anos servindo ao Exército, já foi apontado para ser o novo secretário. Ele deve assumir o cargo nos próximos dias, tão logo saia sua nomeação no Diário Oficial da União – por ser um cargo de primeiro escalão no governo federal, esse tipo de nomeação é assinada pelo próprio presidente Jair Bolsonaro (PSL).

A solução encontrada pelo governo, de substituir um general por outro, manteve sob o Esporte sob o comando da chamada "ala militar", mas foi um golpe contra o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), também general, um dos que havia indicado Marco Aurélio. 

 

Diferente do seu antecessor, que quando se envolveu com o esporte o fez cuidando do revezamento da tocha olímpica, o general Brasil teve sua reta final de carreira militar ligada ao esporte como atividade fim. Ele comandou o  Centro de Capacitação Física do Exército (cargo que também já foi do ministro general Augusto Heleno) e passou à reserva como vice-chefe do Departamento de Educação e Cultura do Exército.

Não se sabe, porém, se o novo secretário terá a autonomia que seu antecessor não teve. Burocrata e inexperiente no meio político, Marco Aurélio topou entrar em uma queda de braço contra seu superior, o ministro da Cidadania Osmar Terra (MDB-RS), apontado por admiradores e por críticos como uma "raposa" política. Não deu outra.

Marco Aurélio não conseguiu emplacar nenhum dos nomes que desejava para o alto-escalão, enquanto Terra pretendia usar esses postos politicamente – não à toa, nomeou para o Alto-Rendimento um indicado do ex-senador José Sarney (MDB-AP). Com os cargos-chave vazios, deixou a secretaria parada por três meses e meio, praticamente inoperante.

Buscando se fortalecer Marco Aurélio deu dois passos rumo ao precipício. Um, ao marcar audiência com Bolsonaro sem comunicar Terra, que considerou o ato uma quebra de hierarquia. Outro, ao levar suas queixas aos atletas e ex-atletas mais engajados politicamente, que lançaram um manifesto tímido contra as "nomeações políticas". Acabaram jogando contra o general, que, com isso, incomodou ainda mais Terra.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.