Topo

Olhar Olímpico

Ministro exalta militares e propõe 'trocar figurinha' com China no esporte

Demétrio Vecchioli

02/01/2019 15h34

Ministro Osmar Terra toma posse em Brasília (José Cruz/Agência Brasil)

O deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) tomou posse como novo ministro da Cidadania no início da tarde desta quarta-feira (2), em Brasília. A pasta, criada no primeiro dia do governo Jair Bolsonaro, engloba diversos antigos ministérios, entre eles do Esporte.

+ Sem ministério, Esporte deve manter secretarias nacionais
+ Bolsa Atleta não tem orçamento para continuar existindo em 2019
+ 
Siga área especial do blog dedicada à cobertura do governo Bolsonaro

Durante a cerimônia, Terra apresentou o general da reserva Marco Aurélio Vieira como novo secretário especial de Esporte, em um cargo hierárquico abaixo dele. E, para justificar a escolha, o ministro fez confusão. "General Marco Aurélio é uma pessoa que trabalhou muito. Trabalha. É um pentatleta e foi um dos organizadores da Olimpíada. Portanto… e o resultado que as Forças Armadas deram na Olimpíada, garantindo muitas medalhas para o Brasil… então em homenagem a esse trabalho todo é que estamos convidando ele", explicou.

O trabalho de Marco Aurélio, porém, não teve qualquer relação com o resultado esportivo do Brasil na Olimpíada do Rio. Depois de ir para a reserva, o general foi contratado por Carlos Arthur Nuzman para trabalhar no Comitê Organizador, inicialmente para cuidar da operação dos Jogos. Depois, foi transferido para um cargo da mesma hierarquia, mas com menos atribuições, cuidando do revezamento da tocha olímpica.

"Não sei se a maioria, mas grande parte das medalhas do Brasil na Olimpíada veio do trabalho das Forças Armadas", continuou o ministro, que acabou por minimizar o trabalho do próprio Ministério do Esporte. As Forças Armadas pagam um soldo de cerca de R$ 3 mil aos atletas militares, com a enorme maioria deles treinando nas estruturas dos clubes. Já o Ministério do Esporte paga Bolsa Pódio que varia de R$ 8 mil a R$ 15 mil para esses mesmos atletas e, durante o ciclo olímpico, pagou treinadores e viagens para as equipes de diversas modalidades.

+ Governo Temer só se compromete a pagar 3 das 12 parcelas do Bolsa Atleta
+ Governo Temer reduz Bolsa Atleta à metade e encerra benefício à base

Durante a cerimônia, de cerca de uma hora, Osmar Terra falou pouco sobre esporte, setor que tem uma parte ínfima do orçamento do novo ministério – cerca de 0,1%. Ao citar um encontro pela manhã com o embaixador da China, contou que o diplomata disse que o país asiático tem no futebol. "Eles querem levar nossos treinadores para lá porque com a amostragem que eles têm, em pouco tempo eles vão dominar a Copa do Mundo. Eu disse: 'E o resto?'. Tem que vir pessoal de lá também para nos ajudar. Vamos trocar figurinha, vamos trocar figurinha com a China, também".

Já na parte final do seu discurso, deixando claro que estava falando ainda de "ideias" que ainda precisavam ser colocadas no papel, Osmar Terra sugeriu uma revisão no Bolsa Atleta. "O general Marco Aurélio já fez uma avaliação do Bolsa Atleta. Podemos avançar nessa área também. Vamos brigar para ter mais recurso. Enquanto o recurso não vem, vamos privilegiar melhor esses recursos, privilegiando o esporte de base."

Na sexta-feira (28), o governo Michel Temer anunciou a lista de contemplados pelo Bolsa Atleta, com apenas 3.095 esportistas, num corte de 58% na comparação com 2016 e deixando de fora cerca de 3 mil pessoas que teriam direito ao benefício. Os cortes atingiram a base da pirâmide, principalmente os atletas estudantis e de categorias de base.

Também na sexta o ministério informou que só tinha recursos do orçamento 2018 para pagar três parcelas e que as demais nove deveriam ser arcadas com orçamento de 2019. O Olhar Olímpico mostrou nesta quarta-feira que, como R$ 70 milhões de orçamento para o Bolsa Atleta, a secretaria vai ter que escolher. Ou deixa de pagar as nove parcelas ou simplesmente não abre edital no segundo semestre, paralisando o programa.

 

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.