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'Não pretendo levantar bandeira', diz Hypolito em autobiografia

Demétrio Vecchioli

26/11/2019 04h00

Diego Hypolito escolheu uma forma peculiar para lançar seu livro, Não Existe Vitória Sem Sacrifício, que chega às livrarias na semana que vem. Na última quarta, o ginasta foi a Brasília e entregou o primeiro exemplar da autobiografia ao presidente Jair Bolsonaro, responsável por proferir a seguinte frase em 2011: "Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí".

Diego, que curiosamente hoje em dia ostenta um bigode, assumiu ser gay meses antes do lançamento da autobiografia pela Benvirá, em texto publicado pelo UOL Esporte. No fim de semana passado, levou o namorado para um encontro informal com a primeira-dama Michelle Bolsonaro.

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No novo livro, ele relembra a reação de sua mãe, Geni, quando ele se revelou gay, em mensagem pelo celular. "Quando ela finalmente me escreveu de volta, devo dizer que não foi muito cordial na resposta. Para ela também não estava sendo fácil. Eu sei que ela me ama incondicionalmente, mas ela foi criada de outra maneira, teve outra educação, uma vida completamente diferente da minha", conta.

O relato está no penúltimo capítulo de um livro de 128 páginas, dos quais apenas nove delas são dedicados à sexualidade de Diego. Em determinado trecho, o ginasta diz que não pretende ser um ativista gay. "Não estou pedindo que ninguém aceite [que sou gay], apenas que respeite. Não pretendo levantar nenhuma bandeira, mas, se alguém me perguntar o que sou, não preciso mais mentir", escreve Diego – na verdade, como costuma acontece em biografias assim, o biografado deu depoimentos à jornalista Fernanda Thedim, que foi quem de fato redigiu o texto, aprovado pelo "autor".

Em outro trecho, Diego cita uma frase que simbolizou a resistência de grupos minoritários, como os LGBT's, à eleição de Jair Bolsonaro: "'Ninguém solta a mão de ninguém', não é assim que falam?", escreve o ginasta, mas para tratar do trabalho de equipe, não de uma rede de proteção.

Lançado pela Benvirá, um selo da Editora Saraiva, o livro tem o mérito de ser uma rara iniciativa no mercado editorial de dar voz a um atleta olímpico. É importante ler o que Diego Hypolito tem a contar, até porque sua história é recheada de altos e baixos, como se sabe. Mas, ainda que o material de divulgação trate a edição como uma autobiografia, o livro se encaixa no filão dos motivacionais, no mesmo estilo de Transformando Suor em Ouro, que abriu as portas para Bernardinho como palestrante.

Em Não Existe Vitória Sem Sacrifício, é natural e esperado que Diego seja figura central em um relato sobre sua história, mas o egocentrismo do livro incomoda. O técnico que lhe disse palavras de incentivo fundamentais para a medalha olímpica é só "meu treinador". A psicóloga que o atendeu naquela tarde de nervosismo é a "minha psicóloga". O ginasta para quem primeiro contou ser gay é só "um amigo". É como se eles não fossem nem coadjuvantes, mas apenas figurantes da história.

No livro, além dos pais e dos irmãos, apenas outras cinco pessoas são citadas nominalmente, apenas aquelas cujos feitos são amplamente conhecidos, como Arthur Zanetti, citado como campeão olímpico. Quem lê o material sem conhecer a história de Diego Hypolito não saberá que outro brasileiro, chamado Arthur Nory, um seus melhores amigos, foi ao pódio ao seu lado na Rio-2016. Nory é completamente ignorado. O treinador Renato Araujo, técnico durante a maior parte de sua vida, é outro que não é citado no texto, exceto em legenda de uma foto e nas páginas de "agradecimento", que fecham esta primeira edição.

O recurso permite ao autobiografado não escrever, também, sobre sua relação com o treinador Fernando de Carvalho Lopes, réu por assédio sexual a menores de idade, que era seu técnico pessoal e foi afastado dias antes da Olimpíada. Ou, mais uma vez, manter ocultos os nomes daqueles que lhe proporcionaram dolorosos episódios de bullying na infância. Detalhes são perdidos, como o tempo que Diego ficou internado em uma clínica psiquiátrica, qual a clínica, e como ele simplesmente recebeu alta de um diagnóstico de "depressão severa" e voltou a treinar.

Se falha como um registro histórico, o livro entrega o roteiro prometido no título: a vitória depois de muito sacrifício. Ao longo de oito capítulos, Diego conta episódios de dificuldades. As conhecidas quedas nos Jogos de Pequim-2008 e Londres-2012, as dificuldades financeiras na infância, o bullying, sua internação por depressão em uma clínica psiquiátrica e diversas lesões – tema que mais apresenta fatos novos na biografia do ginasta. Sacrifícios que são recompensados com a medalha olímpica.

O livro de Diego Hypolito será lançado primeiro em São Paulo, no dia 3 de dezembro, terça-feira, na Livraria Saraiva do Shopping Eldorado, às 18h. Depois, no Rio, o lançamento será em 13 de dezembro, uma sexta-feira, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon, às 19h.

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Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.


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