Atletismo brasileiro tem 15 com índice olímpico após o Troféu Brasil
Demétrio Vecchioli
02/09/2019 04h00
Pinheiros comemora mais um título do Troféu Brasil (Wagner Carmo/CBAt))
Encerrado neste domingo (1), o Troféu Brasil de Atletismo foi um espelho do momento da modalidade no país. Resultados expressivos de alguns poucos atletas de ponta e uma enorme maioria de provas de baixo nível técnico. A boa notícia é que, três meses depois da abertura da janela de obtenção de índices olímpicos, 15 atletas já têm a marca mínima de suas provas para ir a Tóquio. A ruim é que só dois deles fizeram o melhor da temporada em um Troféu Brasil que terminou com só um recorde de campeonato.
Ainda que a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) ainda não tenha divulgado os seus critérios de convocação para a Olimpíada, ela já definiu que acatará os índices internacionais, mais fortes que o usual. Quem não fizer a marca mínima poderá entrar na lista por um novo ranking de pontos que premia regularidade e bom desempenho em eventos importantes. A expectativa é 40% da delegação venha desse ranking.
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No Troféu Brasil realizado em Bragança Paulista (SP), único resultado expressivo internacionalmente saiu nos 400m com barreiras. Sexto do ranking mundial e ouro no Pan, Alison Brendom foi superado por 2 centésimos por Márcio Teles, que venceu com 48s60. A marca não só é índice olímpico e recorde do torneio como deixa Teles em décimo no ranking mundial. Artur Terezan não competiu. (Em negrito, no texto, quem tem índice olímpico. Em itálico, quem tem índice para o Mundial)
No salto triplo, Almir Cunha dos Santos também fez índice olímpico. Voltando de lesão, ele se recuperou de uma participação frustrante no Pan de Lima e venceu com 17,23m, superando em nove centímetros a marca mínima exigida. Alexsandro Melo, que já tinha índice e é o número 11 do mundo, está machucado e não competiu.
As provas de 100m também tiveram resultados importantes. No masculino saiu o primeiro sub10 do atletismo brasileiro: 9s90 para Paulo André Camilo, mas com vento de 3,2 m/s, que impede a aferição de marcas. O índice olímpico é 10s05 e, na semifinal, Vitor Hugo dos Santos fez 10s07. A terceira vaga no Mundial é de Rodrigo do Nascimento, que não correu. Aldemir Gomes é o quarto nome do o revezamento 4x100m em Doha. Derick Silva e o surpreendente Flavio Gustavo da Silva Barbosa, do Rio Grande do Norte, quinto no Troféu Brasil, completam a equipe.
Já entre as mulheres, sem Vitória Rosa, o ouro no Troféu Brasil foi para Rosângela Santos, que correu em 11s23 e ao menos fez índice para o Mundial – na Olimpíada o exigido é 11s15. Ela é a 72ª de um ranking em que Vitória aparece em 24º. Lorraine Martins, Franciela Krasucki, Ana Carolina Azevedo e Bruna Farias vão completar o revezamento. Os oito primeiros colocados do Mundial se garantem na Olimpíada, assim como outras oito equipes pelo ranking mundial.
Vitória Rosa aparece melhor nos 200m, em 26º lugar, mas não correu essa prova no Troféu Brasil, que teve vitória da jovem Lorraine Martins, de 19 anos, com tempo ruim. Entre os homens, vitória de Aldemir Gomes Junior, que é o 30º do mundo, também em prova lenta. Classificado para o Mundial nos 200m e também para a Olimpíada nos 110m com barreiras, Gabriel Constantino não disputou o Troféu Brasil. Nesta última prova, Eduardo de Deus foi eliminado por queimar largada. Paulo Henrique da Silva venceu com tempo alto.
Nas provas de arremessos e lançamentos ficou muito clara a diferença entre a elite e o resto. Darlan Romani (peso) e Andressa de Morais (disco) não fizeram as melhores marcas da temporada, mas ainda assim obtiveram são resultados expressivos, equivalentes ao 18º e 27º lugares do ranking mundial. Geisa Arcanjo (peso) e Fernanda Raquel (disco) não brilharam, enquanto Leila Ferrer, em 45º do ranking, ficou a menos de três metros do índice para o Mundial. De resto, uma série de resultados ruins. Allan Wolski no martelo, Wellinton Fernandes no disco, Mauricio Filgueiras no dardo e Mariana Marcelino no martelo não entram nem entre os 100 melhores do mundo – Mariana, nem entre as 300.
Vale o mesmo nas provas de saltos. No triplo feminino, Gabriela Santos fez o melhor da carreira e ganhou com 14,06m, mas com vento acima do permitido para aferição de marcas. Seu melhor resultado válido foi 14,03m, que equivale ao 39º lugar do ranking mundial. Carioca, ela quase se aposentou no ano passado e recentemente começou a treinar com Nélio Moura em São Paulo. No masculino, Almir fez o índice olímpico. No salto com vara masculino, a prova foi muito prejudicada pela chuva e Augusto Dutra venceu com 5,51m, mesma marca de Thiago Braz, prata. Os dois têm o índice olímpico de 5,80m.
De resto, resultados muito ruins. Tiago da Silva venceu no salto em distância com marca que o faria ser o 342º do ranking mundial (Alexsandro Melo, 32º, e Paulo Sérgio Oliveira, 36º, não competiram). Talles Frederico seria o 90º no salto em altura. Entre as mulheres, Juliana de Menis seria 147ª na vara, Valdineia Martins a 94ª na altura e Eliane Martins a 125ª na distância. Nenhum deles registrou o melhor da temporada.
Nas corridas de fundo, o baixo nível técnico deixa as provas lentas e impede a obtenção de bons tempos. Carlos de Oliveira Santos venceu nos 1.500m, Altobeli Santos nos 5.000m, Ederson Vilela Pereira nos 10.000m. Entre as mulheres, as vitórias ficaram com Tatiane Raquel da Silva (1.500m) e Jenifer do Nascimento Silva (5.000m e 10.000m). A exceção foi Altobeli Silva, que fez índice para o Mundial nos 3.000m com obstáculos, assumindo o 60º do ranking mundial.
Nos 800m e nos 400m as marcas também foram muito acima do que se espera para um Troféu Brasil. Os tempos de Matheus Americo e Kleidiane Barbosa Jardim beiram o 300º dos rankings dos 800m. Nos 400m, Alexander Russo fez o melhor dele da temporada, mas insuficiente para colocá-lo entre os 100 melhores do mundo.
Das poucas boas notícias entre jovens atletas, destaque para a vitória de Tiffani Marinho na prova feminina de 400m com recorde brasileiro sub-23 (51s84) e 71º tempo do mundo. Ela vai ao Mundial com o 4x400m misto, assim como Alexander, Anderson Henriques, Lucas Carvalho, Geisa Coutinho e Maria de Sena.
Micaela Rosa também surpreendeu nos 100 com barreiras, vencendo sua bateria semifinal com 13s23, novo recorde brasileiro sub-20. Jessica Vitoria Moreira, de 19 anos, foi prata nos 400m com barreiras, com tempo muito acima do que a garantiu no Mundial pelo Pan Sub-20.
Também têm índice olímpico os marchadores Caio Bonfim (que venceu os 20km no Troféu Brasil) e Erica Sena (não competiu). Caio tem índice para o Mundial também nos 50km. Daniel Chaves tem índice na maratona, mas já avisou que não vai para o Mundial e, ao que tudo indica, também recusará a Olimpíada. Para Doha devem ser convocados os maratonistas Paulo Roberto de Paula, Wellington Bezerra, Vagner Noronha, Valdilene dos Santos e Andreia Hessel.
Sobre o autor
Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.
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Sobre o blog
Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.