Brasil pode perder medalhas por substância que era vendida livremente
Demétrio Vecchioli
30/08/2019 04h00
Andressa de Morais (Wander Roberto/COB)
Os dois resultados analíticos adversos do Brasil nos Jogos Pan-Americanos são para substâncias do mesmo grupo, os moduladores seletivos do receptor de androgênio, mais conhecidos pela sigla em inglês SARM's. O Olhar Olímpico apurou que tanto o exame positivo de Kacio Freitas, bronze no ciclismo de pista, quanto o de Andressa de Morais, prata no atletismo, foram para os SARM's.
Os diversos tipos de SARM's eram vendidos livremente no Brasil, sem necessidade de orientação médica, na época do Pan. Eles facilitam a ligação dos androgênios (hormônios) com seus receptores, aumentando a ação desses. Isso faz com que a ação da testosterona seja mais efetiva. Os moduladores fazem os atletas ganharem músculos e, por isso, são comuns em academias do país.
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Desde 2008 a Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) colocou os SARM's entre as substâncias proscritas, mas só recentemente atletas brasileiros começaram a ser flagrados pelo seu uso. Em poucos meses já são quatro casos importantes.
Somente na semana passada, uma resolução da Gerência-Geral de Inspeção e Fiscalização Sanitária passou a proibir a comercialização, a distribuição e a importação, no Brasil, de diversos times de SARM's, incluindo Stenabolic, Testolone e Ligandrol. Para o esporte brasileiro, pode ter sido tarde demais.
Este ano foram tornados públicos dois casos de doping por SARM's. O primeiro, no pentatlo moderno, da jovem Victória Marchesini, de apenas 20 anos. Depois, em julho, a Federação Internacional de Tênis (ITF) suspendeu preventivamente a tenistas número 1 do Brasil, Bia Haddad Maia, que testou positivo para o SARM-22 em exame de urina feito em um torneio na Croácia, em junho.
O histórico de punições mostra um controle rígido sobre esse tipo de substância. Cinco casos de doping por SARM's no atletismo geraram suspensões de dois anos. Uma pena dessas tiraria Andressa não apenas dos Jogos Olímpicos de Tóquio, no ano que vem, como também do Mundial do ano que vem.
Por enquanto, porém, o doping dela ainda não foi confirmado. A notificação que chegou ao Comitê Olímpico do Brasil (COB) é referente à primeira amostra e ela tem o direito de solicitar a abertura da contraprova, que pode dar negativo. No caso de Kacio a contraprova já confirmou o resultado analítico adverso. A PanAm Sports, organizadora do Pan, ainda não tornou os casos públicos nem informou se, como de praxe, vai retirar os resultados obtidos pelos brasileiros.
Sobre o autor
Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.
Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.
Sobre o blog
Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.