Maratonista é suspenso após exame apontar consumo de veneno para rato
Demétrio Vecchioli
14/06/2019 04h00
Maratonista queniano é pego no doping por veneno para rato (divulgação/Maratona de Cingapura)
Felix Kirwa é mais um maratonista queniano suspenso por doping. Mas o caso dele, que foi campeão da Maratona de Macau (China) em 2017, é diferente de qualquer outro. Kirwa foi suspenso porque um exame antidoping apontou a presença, em seu organismo, de um famoso veneno usado para matar ratos, a estricnina.
+ Argentina esquece de tirar fones de ouvido e bate recorde na natação
+ Melhor ginasta do Brasil hoje, Rebeca sofre 3ª lesão de joelho e perde Pan
Considerado altamente tóxica não só para animais, mas também para humanos, a estricnina é proibida em diversos países, como o Brasil. Por aqui, ela entrou para a história graças a um famoso samba dos Demônios da Garoa que diz que o olhar da mulher amada mata mais do que o veneno.
Mesmo assim, a estricnina entrou no organismo de Felix Kirwa, um jovem maratonista de 23 anos que testou positivo para a substância em exame realizado depois da Maratona de Cingapura, na qual ele foi vice-campeão. Para a Athletics Integrity Unit (AIU, órgão responsável pelo combate ao doping no atletismo), porém, o consumo da substância não foi proposital.
Inicialmente suspenso por dois anos, ele teve a pena reduzida a nove meses depois de um recurso. Na apelação, o queniano apresentou receitas para dois produtos medicinais que ele diz consumir, ambos para tratar a artrite. Um desses medicamentos contém uma substância que, por sua vez, contém estricnina.
De acordo com a sentença publicada pela AIU, a estricnina em si não estava listada no rótulo ou na bula de nenhum dos produtos. Assim, a AIU aceitou que Kirwa havia tomado o estimulante acidentalmente. A suspensão de nove meses foi aplicada porque ele é responsável por tudo que ingere.
Veneno que mata animais de pequeno porte por asfixia, paralisando os músculos que controlam a respiração, a estricnina em doses controladas pode gerar ganho esportivo, ainda que seu consumo entre atletas, ao que se sabe, é raro – não inédito.
O norte-americano Thomas Hicks venceu a maratona olímpica de 1904 depois de tomar estricnina misturada com ovo cru e conhaque. Até os anos 1930, ela era uma das drogas preferidas dos atletas de provas de resistência, como maratonas e ciclismo. Mais recentemente, na Olimpíada do Rio, o halterofilista Izzat Artykov, do Quirguistão, perdeu sua medalha de bronze por testar positivo para estricnina.
Sobre o autor
Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.
Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.
Sobre o blog
Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.