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Coronel é nomeado para secretaria de futebol em meio a queda de braço

Demétrio Vecchioli

04/04/2019 12h18

Chamada de "casa fantasma" pelo deputado federal Luiz Lima (PSL), aliado de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro (PSL), a secretaria especial de Esporte tem a maior parte dos seus principais cargos ainda vagos. Nesta quinta-feira (4), pela primeira vez foi ocupada de forma oficial uma cadeira do segundo escalão: o coronel Ronaldo Lima foi nomeado secretário Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor.

A nomeação está longe de ser uma vitória do general Marco Aurélio Vieira, secretário especial de Esporte, que trava uma contínua queda de braço com o ministro da Cidadania, Osmar Terra (MDB-RJ), superior a ele na hierarquia. O general reformado com três estrelas esperava ter autonomia para tomar as decisões no esporte, entendendo que seu posto é equivalente ao de ministro do Esporte. Mas Terra faz questão de ter sempre a palavra final.

Os primeiros nomes de segundo escalão foram todos escolhidos por Marco Aurélio, mas Terra só havia nomeado um deles, até agora. O procurador do Distrito Federal Raimundo Neto foi nomeado para ser secretário de Alto-Rendimento, cargo com mais visibilidade dentro da pasta. Mas isso ocorreu há mais de 60 dias, ele ainda não tomou posse, e a nomeação caducou.

Terra não concorda com a nomeação de Neto, que já trabalhou no Ministério do Esporte e que foi o responsável, por exemplo, pelo Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado pelo COB no final de 2017. O ministro prefere que o Alto-Rendimento fique com seu correligionário Celso Giacomini (MDB-RS), que tem como padrinho político o também deputado federal Darcísio Perondi (MDB-RS). Perondi, da Bancada da Bola e vice-líder do MDB na Câmara, não se reelegeu deputado, mas está na Câmara como suplente exatamente de Terra. Os dois têm amizade de anos.

A falta de uma definição sobre a secretaria de Alto-Rendimento vem incomodando comitês e confederações, que sentem falta de um interlocutor em Brasília e reclamam que as coisas não andam. É essa secretaria, acéfala, que vai decidir a partir de sexta-feira (5) se renova ou não a certificação que permite ao COB continuar recebendo dinheiro da Lei Agnelo/Piva. Em busca de soluções para os problemas, ninguém sabe em que porta bater. Quem esteve no prédio do antigo ministério nas últimas semanas concorda com Luiz Lima: "É um prédio fantasma".

Outra secretaria que está em jogo é a de Esporte e Lazer, que é a que movimenta maior volume de recursos e que determina a política de incentivo ao esporte de participação. A ex-atleta Carla Ribeiro, esposa do consultor Antonio Flávio Testa, conselheiro de Bolsonaro durante a campanha, chegou a ser anunciada e a começar a trabalhar. Mas Terra optou por entregar o cargo ao ex-jogador de futebol Washington "Coração Valente" (PDT-RS), que no fim do ano passado foi suplente na Câmara do hoje ministro-chefe da Casa Civil Onyx Lorenzoni (MDB-RS). Todos são gaúchos.

Ainda em janeiro, o general chegou a conseguir que Marcello Martinelli, antigo homem de confiança do ex-ministro Leonardo Picciani (MDB) e com amplo conhecimento de como funciona a pasta, fosse nomeado para ser seu secretário adjunto. Depois de 20 dias, Terra o exonerou. Não queria saber de qualquer influência de Picciani dentro da pasta, ainda que até agora não tenha mexido na Autoridade de Governança do Legado Olímpico (AGLO), uma autarquia, dominada por aliados e amigos da família Picciani. 

Só parece haver consenso sobre os ocupantes das duas secretarias menos interessantes politicamente. O coronel Ronaldo Lima vinha trabalhando remoto, de casa, enquanto não tinha sua nomeação publicada no Diário Oficial – o Olhar Olímpico revelou em primeira mão em 28 de janeiro que ele havia sido escolhido. Foram mais de dois meses até sua nomeação.

Nesse caso, não havia como Terra bater de frente. Ronaldo Lima, que vem pedindo para não ser apresentado como coronel, é um "calção preto", como são conhecidos os alunos e ex-alunos da Escola de Educação Física do Exército (Esefex), onde também estudou Bolsonaro. Ainda que seja mais novo que o presidente, o coronel serviu junto dele no Grupo de Artilharia Paraquedista.

Já a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) está sendo comandada por Emanuel Rego, ex-jogador de vôlei de praia. Ele ainda não foi nomeado, mas vem participando com certa regularidade de reuniões da pasta. Emanuel, que vinha trabalhando no Fluminense, já deixou o Rio de Janeiro e se mudou de vez para Brasília. Ele é casado com a senadora Leila do Vôlei, do PSB.

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Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.


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