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Como handebol masculino chegou à melhor fase de sua história

Demétrio Vecchioli

23/01/2019 04h00

Seleção brasileira de handebol comemora vitória sobre a Croácia (divulgação/IHF)

* Texto atualizado às 14h25 para incluir o resultado da partida

Ao vencer a Islândia por 32 a 29, a seleção brasileira masculina de handebol alcançou um feito histórico. O time, que nunca havia conquistado uma classificação melhor que o 13º lugar em Mundiais, terminou a competição no nono lugar, depois de vencer quatro europeus. O resultado, além do esperado, não chega a surpreender. É, afinal, reflexo de um processo que vem sendo construído ao longo dos últimos sete anos, principalmente.

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"Os acampamentos nacionais foram fundamentais, trabalhando em duas vertentes. Uma, a busca por talentos. Outra, pela formação de professores. É um trabalho de formiguinha que vem fazendo com que tenhamos uma melhor formação de atletas. Olhando o time que está jogando aqui, a maioria saiu dos acampamentos", analisa o técnico Washington Nunes, que herdou o cargo depois da saída do espanhol Jordi Ribera e, desde então, faz ótimo trabalho.

Os jovens jogadores descobertos nesse acampamentos levaram o Brasil a um inédito sexto lugar no Mundial Júnior de 2013. A expectativa sobre aquela geração era tão alta que, em 2015, o Brasil sediou a competição sub-20 em Minas Gerais, acreditando em uma medalha até hoje inédita, que acabou não vindo. Mas os frutos foram colhidos, mesmo assim. Daquele time saíram seis jogadores que estão no Mundial adulto agora: Haniel Langaro, Zé Toledo (os dois destaques do time), João Pedro, Thiago Ponciano, Gustavo e Rudolph. Seriam oito, possivelmente, se Léo e Rogério não tivessem se machucado na véspera da competição.

Paralelamente, clubes então de pequena relevância da Europa, especialmente os espanhóis, começaram a abrir portas para jogadores brasileiros. Assim como havia acontecido com as mulheres anos antes, o sucesso de uns foi incentivando a contratação de outros.

"Entre 2012 e 2013, a seleção começou a fazer alguns jogos internacionais, participamos de alguns torneios, e os jogadores começaram a ser vistos. Existia a desconfiança em cima dos jogadores brasileiros, de que eram preguiçosos, não se adaptam, e começaram a ver que não era assim. Começaram a perguntar: será que não tem mais jogadores assim? E a porta foi sendo aberta", lembra Washington.

Hoje, o Brasil é um dos maiores exportadores de jogadores no handebol masculino. Existem cerca de 50 atletas atuando profissionalmente na Europa, número equivalente, senão superior, ao de jogadores que continuam no Brasil, onde a liga nacional é fraca. Para a seleção, há um ganho esportivo, porque os brasileiros agora estão acostumados a jogar contra os melhores do mundo. "Antes, acabava o jogo e o nosso jogador ia pedir autógrafo para o cara que ele só via pela televisão. Agora a gente tem o Thiagus, por exemplo, que é uma peça importante do Barcelona", conta Washington. O Barça é um dos clubes mais tradicionais do mundo no handebol, também.

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Evolução

Bruno Souza foi o terceiro melhor jogador do mundo em 2003, quando defendia um clube alemão. Formar bons jogadores, portanto, não é uma novidade para o handebol brasileiro. Agora, porém, existe um elenco inteiro de atletas de altíssimo nível, como o pivô Rogério, campeão da Liga dos Campeões da Europa em 2017 com o Vardar, da Macedônia.

A história dele não é exatamente nova. Em 2005, Duda também começou uma trajetória de sucesso na Macedônia, para anos depois ser eleita a melhor jogadora do mundo. Ana Paula, Alexandra e tantas outas fizeram caminho parecido, no que permite uma comparação do momento vivido hoje pelo handebol masculino com aquele que vivenciou o handebol feminino do Brasil antes do título mundial de 2013.

É possível sonhar com o Brasil um dia campeão também no masculino? Washington Nunes não quer ir tão longe. Por enquanto, as metas da seleção são bem mais modestas. Para esse ano, é ganhar os Jogos Pan-Americanos, o que significaria uma vaga na Olimpíada de Tóquio.

Recursos humanos o Brasil tem, mas faltam os financeiros. Depois que a confederação perdeu o patrocínio do Banco do Brasil, no começo do ano passado, os períodos de treinamentos foram diminuindo, a ponto de quase acabarem. Agora no fim de janeiro acaba também o patrocínio dos Correios, que tende a não ser renovado. A confederação ficaria só com dinheiro da Lei Agnelo/Piva, cujo repasse pode também ser suspenso a qualquer momento, por conta de dívidas da CBHb com o antigo Ministério do Esporte.

"Todo o projeto de preparação ficou muito, muito, muito difícil. Teve um grupo de meninas que não foi a um Mundial por falta de recursos. Isso vai dando um estrago a médio e longo prazo. A nossa preparação foi muito pequena. Para o Mundial, especificamente, a preparação foi muito boa, mas teve seu preço. A gente saiu do Brasil em 25 de dezembro e os jogadores passaram o ano novo treinando embaixo de neve. Todo mundo abriu mão de muita coisa para estar aqui", ele destaca.

Chances

Depois de perder por um gol nas oitavas de final dos Mundiais de 2013, 2015 e 2017, o Brasil tinha como meta no Mundial deste ano avançar da primeira fase. É que o regulamento da competição mudou, classificando apenas os três primeiros de cada grupo (e não mais os quatro). Isso significava que a seleção brasileira, que venceu o europeu mais fraco do seu grupo nos últimos três Mundiais, desta vez precisava vencer dois. Conseguiu, batendo Sérvia e Rússia.

Na segunda fase, como carregou as derrotas para França e Alemanha, nas duas primeiras rodadas, o Brasil precisava ganhar seus três jogos para ter chances de classificação à semifinal. Até venceu a Croácia, mas depois perdeu da Espanha.

Ao vencer a Islândia, chegou à sua quarta vitória sobre times europeus em um mesmo Mundial, superando, de longe, se antigo recorde – uma. No mínimo, ficará em quinto lugar no grupo, podendo ganhar uma posição pela combinação de resultados dos jogos que fecham a rodada, ainda nesta quarta.

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Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.


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