Brasil Open sofre para achar patrocínio e corre riscos
Demétrio Vecchioli
18/01/2019 04h00
Ibirapuera recebe o Brasil Open (Marcello Zambrana/ DGW Comunicação)
O Brasil Open de tênis vive situação delicada. Os organizadores do torneio apresentaram um projeto de Lei de Incentivo ao Esporte de R$ 6,6 milhões ao governo federal. Até agora, só conseguiram captar R$ 630 mil, menos do que o mínimo necessário para poder utilizar esse dinheiro. Isso significa que dificilmente a Koch Tavares, que tem diversas penhoras na Justiça e usa uma ONG para movimentar recursos federais, vai conseguir colocar o torneio em pé em fevereiro, ao menos como planejado.
Os organizadores, porém, asseguram que o cronograma está mantido – e não falam mais do que isso. Ao mesmo tempo, empresas que atuam no ramo de promoção de eventos já especulam o risco de o torneio não conseguir pagar fornecedores, algo que já ocorreu no passado. Para fontes do Olhar Olímpico, é real a possibilidade de o Brasil Open não acontecer.
+ ATP não reconhece carta que Brasil Open usou para ter R$ 3,9 mi do governo
+ Como Brasil Open mudou 4 vezes de dono sem sair das mãos da Koch Tavares
No ano passado, o Ministério do Esporte alterou a dinâmica de aprovação de projetos na Lei de Incentivo. Antes, o funcionários do governo se debruçavam sobre os projetos durante meses, eles eram aprovados pela comissão responsável, e depois só cerca 20% deles conseguia de fato captar recursos. Agora, o governo faz uma análise documental básica. A comissão aprova o projeto e o proponente vai ao mercado buscar recursos. Se atinge um mínimo de 20%, volta à comissão para pedir a análise do mérito e a readequação do projeto ao montante captado.
A Associação Brasileia de Criação e Desenvolvimento de Modalidades Esportivas (ASBRA), ONG que é tida como "barriga de aluguel" da Koch Tavares, apresentou em setembro um projeto de R$ 6,6 milhões. Mais do que a soma do que pediu em 2017 (R$ 2,3 milhões) e 2018 (R$ 3,8 milhões). Como o torneio tem o mesmo porte e será no mesmo lugar do ano passado (o Ibirapuera), sem nenhuma novidade que o encareça, a percepção é de que os organizadores buscaram, na Lei de Incentivo, recursos que sabiam que teriam dificuldades de obter por outras rendas.
O projeto foi votado pela Comissão Técnica da Lei de Incentivo na reunião de dezembro, depois de pedido de vistas na de novembro. No mercado, a ASBRA só conseguiu seis aportes. A Terra Networks (CNPJ do portal Terra, que pertence à Vivo) doou R$ 505 mil. A TIVIT, empresa de tecnologia, R$ 22 mil. A Indústrias Maratá, R$ 50 mil. No total, a entidade arrecadou R$ 630 mil. É menos do que os 20% necessários para pedir liberação de execução do projeto – tivesse pedido menos, R$ 3 milhões, poderia utilizar a verba.
Para piorar as coisas, o governo federal não só cancelou a reunião da comissão que estava marcada para a última quarta-feira (16), como adiou de 6 de fevereiro para 18 de fevereiro a reunião do mês que vem. Isso significa que, mesmo que consiga atingir o gatilho para executar o projeto, a ASBRA só teria sua liberação votada no dia 18 de fevereiro, já na semana do qualifying – oficialmente, o torneio começa no dia 25.
A comissão é formada por três representantes da sociedade civil (escolhidos pelo Conselho Nacional do Esporte) e três indicados pelo que era o Ministério do Esporte. Os três primeiros serão substituídos e a tendência é que o novo governo opte por fazer também três novas indicações. Com um time inteiro de novos conselheiros, existe o risco de pedidos de vista, o que adiaria uma decisão para março, depois do evento.
Situação financeira
No ano passado, a Vivo foi patrocinadora master do Brasil Open e doou R$ 1,7 milhão. Também doaram BB Seguros/Mapfre Seguros (R$ 800 mil pela LIE), EMS (R$ 222 mil), Estácio (R$ 120 mil) e EY (120 mil). Correios, Stella Artois, Peugeot e Emirates pareciam como patrocinadores do evento em 2018, mas sem doarem por Lei de Incentivo – elas ajudaram com a chamada "verba de marketing".
De acordo com os organizadores, a Vivo, que doou R$ 505 mil, é a patrocinadora master do torneio em 2019. Outras quatro marcas são patrocinadoras: Fly Emirates, Estácio, American Express e TIVIT. Esta última doou R$ 50 mil por Lei de Incentivo. A Koch Tavares, a ASBRA e as entidades que no passado serviram de barriga de aluguel nunca detalharam a receita do torneio, de forma que não é possível, também, concluir se há menos dinheiro à disposição agora – apesar de serem fortes os indícios.
Ainda pesam contra o torneio outros dois fatores. O primeiro, o fato de a Koch Tavares estar quebrada, pelo que se sabe no mercado. Em março do ano passado, o Olhar Olímpico mostrou que credores encontraram contas bancárias da empresa zeradas. A Justiça não conseguia intimar a Koch e seus dirigentes porque não os encontrava. Ex-funcionários tinham poucas expectativas de receber o que julgavam merecer.
O segundo, o baixo nível do torneio. Na terça-feira a Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) divulgou a lista de inscritos no torneio e nenhum deles está entre os 40 primeiros do ranking mundial. Comparando com a lista definitiva de inscritos nos demais torneios da temporada 2018, todos tinham pelo menos um Top30. É possível dizer que, pelo ranking atual, o Brasil Open teria a chave mais fraca da temporada. E a falta de jogadores de destaque tende a afetar a bilheteria.
O Olhar Olímpico procurou a assessoria de imprensa que atende ao Brasil Open e pediu para entrevistar os organizadores e conversar sobre o cenário descrito na reportagem. A assessoria informou apenas que o Brasil Open segue em seu cronograma. No ano passado, a reportagem tentou por semanas, mas não conseguiu entrevistar dirigentes da ONG que organiza o torneio.
Sobre o autor
Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.
Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.
Sobre o blog
Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.