Pirv chora e diz que não quer ver Giba preso: "mas não tenho escolha"
Demétrio Vecchioli
27/02/2018 04h00
Eleita melhor jogadora europeia quando tinha apenas 18 anos, a romena Cristina Pirv abreviou a carreira aos 34 anos, quando ainda estava atuando em alta performance. A decisão foi tomada para se dedicar à família que começava a formar com o astro da seleção brasileira Giba. Separados por jogarem em times de países diferentes, Pirv optou por largar o esporte para que ela e a filha pudessem ficar mais próximas do marido, que seguiu normalmente sua trajetória no vôlei. Agora, ela chora ao contar o que o amor de uma década se tornou: mais de uma dezena de processos judiciais, pelos mais variados motivos. Um casal que agora não consegue sentar para conversar sequer sobre a educação dos dois filhos.
A mais recente disputa judicial entre eles ganhou grandes proporções. Segundo Pirv, Giba deve mais de R$ 82 mil em pensão alimentícia aos dois filhos e a romena afirma, que na falta de outra alternativa, se viu obrigada a procurar a Justiça. O ex-jogador foi condenado à prisão no último dia 9, mas conseguiu uma liminar uma semana depois e não chegou a ir preso. No meio desse imbróglio, a romena resolveu falar com exclusividade ao UOL Esporte.
"Tudo isso não é pouco machismo não, é muito. Deixei minha carreira lá atrás para cuidar da família. Pensava que nossa família ia para frente, que a carreira dele era brilhante. As pessoas falavam para eu escrever um livro, dar palestra, cuidar da minha vida, mas eu estava feliz. Ele fez o que fez pelo vôlei, mas eu participei disso, ajudei ele a se tornar o que ele é. Quando eu casei com ele, ele não era isso e eu já tinha minha história. Me dói falarem: 'Vai trabalhar', falarem que ele me mantém. Me dói porque saí de um país comunista, com 14 anos, para realizar um sonho. Vivo num mundo que não é o meu, é o dele", desabafou Pirv, entre um suspiro e outro, com a voz embargada, numa conversa telefônica na última sexta-feira.
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As duas semanas anteriores haviam sido agitadíssimas para a romena, que brilhou no vôlei italiano e se tornou a grande referência do Minas Tênis Clube no final dos anos 1990 e começo dos anos 2000. O namoro com Giba começou em 2003, quando ela tinha 31 anos – ele, aos 26, cumpria suspensão por uso de maconha. No ano seguinte, ele foi campeão olímpico como o melhor do mundo e ela esperava a primeira filha do casal. Em 2006, ela se aposentou.
"Eu tinha proposta, queria voltar a jogar, porque tinha proposta da Rússia, mas ele falava: 'Deixa teu marido ganhar dinheiro e cuidar da família'. Nós dois éramos fortes, bons jogadores, mas quando casa como faz? Ele morava na Itália e eu na França e nossa filha ficava para cá e para lá. Um dos dois tinha que se sacrificar", lembra. Sobrou para ela. A partir daí, Pirv se tornou empresária de Giba.
A relação começou a acabar em 2011, quando Pirv pela primeira vez soube das amantes que Giba, segundo ela, colecionava. Em 2013, quando ele jogava na Argentina, a romena foi visitá-lo e, de acordo com a ex-jogadora, encontrou com a "outra" nas ruas de Buenos Aires. O casamento acabou ali. No processo de separação, afirma Pirv, ele ofereceu pagar R$ 10 mil de pensão alimentícia mensal aos dois filhos. Ela aceitou.
"Há cinco anos que estamos nessa briga que nunca acabou. Ele nunca pagou certo. Ele só pagou certinho quando entrou na Globo e os advogados conseguiram descontar na folha de pagamento. Nunca pedi para o valor ser revisado, nunca pedi para aumentar", diz Pirv. No ano passado, como revelou o Olhar Olímpico, Giba procurou a Globo para pedir a rescisão de contrato, uma vez que aceitou a oferta da TV Bandeirantes para participar de um reality show que pagaria um prêmio de R$ 350 mil. Especula-se que cada famoso, como ele, tenha recebido R$ 25 mil de cachê por semana. Giba ficou três e pediu para sair: "Preciso ver meus filhos crescerem", alegou. Desde 19 de janeiro ele não vê os filhos, rebate Pirv. Ele mora na mesma cidade que as crianças e alega, na Justiça, que não tem emprego.
Antes, durante e depois do reality, do qual participou mediante cachê, Giba não pagou a pensão acordada. Não depositou nada em setembro e outubro, R$ 10 mil entre novembro e dezembro e outros R$ 2 mil, apenas, em janeiro. Corrigida, a pensão em dezembro era R$ 12.730,00.
A pensão
Sem um emprego formal no Brasil, com carteira assinada, Giba alega que não tem renda. Pirv rebate: "Eu sei quanto ele ganha porque eu sou do meio do vôlei, fui empresária dele, esposa. Eu sei que tem renda da FIVB (onde ele é representante dos atletas). Toda presença VIP entra dinheiro. Ele tem o Gibinha (personagem) que dá retorno, os patrocinadores que dão um percentual para ele. Se ele não tivesse dinheiro, eu renegociaria. Mas ele tem. Ele paga aluguel de 12 mil para viver em Curitiba. Será que a pensão das crianças é alta ou baixa?", questiona a ex-jogadora. No processo consta que entre aluguel e condomínio, Giba gasta R$ 13,2 mil por mês.
Ela admite que o argumento usado por Giba para se defender de ir preso – que isso afetaria sua imagem e ele depende dela para ter renda e pagar a pensão – serve como forma de pressão. "Você acha que quero o pai dos meus filhos preso? Lógico que não é isso que eu quero, mas não tenho outra escolha. Todas as vezes que eu ligava, e liguei várias vezes, é sempre a mesma desculpa. 'Quando tiver dinheiro, vou pagar'. Mas por que o aluguel não está atrasado?"
Ela se incomoda – e chora – principalmente ao tratar das acusações, que ela vê nas redes sociais, de que ela quer viver às custas do ex-marido. Bate na tecla de que nunca foi de se acomodar, lembrando da vida na Romênia comunista, e conta as oportunidades que perdeu por causa do ex-marido. Em 2015, recebeu a proposta para se candidatar à presidência da federação romena de vôlei, mas Giba (e depois a Justiça) não autorizaram que ela voltasse à Europa e levasse as crianças. Teve que continuar morando num país que não é dela, mas de Giba.
"No ano passado, eu consegui reconstruir minha vida, montando um projeto de vôlei para disputar a Superliga B (no Curitibano, de Curitiba). Precisei ficar cinco dias fora e quando tava viajando minha amiga, agora ex-amiga, que era minha parceira, ligou falando que o Giba tinha se oferecido para ajudar o projeto. Meu ex-marido, que não fala comigo, querendo entrar no meu projeto. Eu não sou de ferro. Desafio uma pessoa a trabalhar com o ex que está há cinco anos na Justiça." Agora, ela atua como embaixadora em outro projeto, da vizinha São José dos Pinhais, que também está com um time na Superliga B. Não pode se dedicar de corpo e alma porque vive sozinha em Curitiba com dois filhos, sendo o menor de oito anos, e Nicoll não se adaptou a uma escola em tempo integral.
Troca de farpas
Desde que o mandado de prisão foi noticiado, Giba não atende a imprensa. Mas ele se pronunciou em uma postagem no Instagram na qual relatou que "me ofereci a pagar, via bolsa de estudos, além do valor que pago, as mensalidades dos meus filhos em uma das melhores escolas de Curitiba, mas esta proposta foi negada por ela". A história contada por Pirv à reportagem é bem diferente.
Em resumo, uma escola ofereceu uma bolsa de estudos de um ano às crianças, que seriam garotos-propaganda do colégio. Eles voltaram da casa do pai adorando a ideia. Pirv se recusou a discutir pelo WhatsApp onde os filhos estudariam, mas Giba não aceitou sentar para conversar. Ela levou os dois a três escolas e Nicoll, a filha de 13 anos, rejeitou aquela ofertada pelo pai. Ficou entre as outras duas. "Eu falei para ela: 'Ele vai me culpar. Se você não quer ir para lá, você fala isso para ele'. Ela ligou para ele e explicou. E agora ele vem e joga isso", reclama Pirv.
No mesmo comunicado, Giba disse que "deixou diversos imóveis para ela, no Brasil e na Romênia". Segundo a ex-jogadora, o casamento foi por separação parcial de bens. "Quando a gente casou, ele não tinha nada. Se eu tinha uma casa na Romênia, é claro que ela deveria ficar comigo", alega. Segundo ela, Giba também ficou com imóveis durante a divisão de bens, numa discussão de oito horas diante do juiz.
Atenção às crianças
Pirv também refuta a justificativa dada por Giba para voltar a República Dominicana mais cedo e largar o reality show da Band no meio por saudade dos filhos. "Pra mim foi muito estranho. Não é a primeira vez que ele fica longe dos filhos. Agora, por exemplo, ele não vê os filhos desde o dia 19 de janeiro e não tem previsão de volta. Mesmo quando morava no Rio, ficava um mês e meio (sem vê-los). Estranho."
Desde então, pelo que mostrou no Instagram, Giba passou por Lausanne (Suíça) Londres, Modena, Milão, Ferrara (Itália) e Paris, onde prestigiou o aniversário do amigo Neymar. Sua última aparição pública foi na Coreia do Sul, onde fez uma apresentação de vôlei na neve. Durante toda a viagem, esteve acompanhado da atual mulher.
Pirv garante que nunca negou a Giba a possibilidade de ficar com os filhos durante a semana, mas que "ele passar para buscar os filhos para sair para jantar" é algo que não acontece nunca. "Ele não tem ideia de como é a rotina dos filhos durante a semana, não tem a menor ideia de como é a vida deles", critica.
Para ela, dois episódios refletem a situação. No fim do ano passado, Giba pediu para ficar com as crianças, de férias, de 19 de dezembro a 19 de janeiro. Pirv solicitou que fosse de 22 a 22, porque ela tinha programado cinco dias no interior com elas, de 17 a 22. Ele entrou na Justiça e perdeu. Em 19 de janeiro, a atual sogra de Giba ligou pedindo para Pirv se poderia "devolver" as crianças. O ex-jogador tinha viajado e a mãe da madrasta não poderia ficar com os pequenos. No dia 21, ele estava, pelo que contou no Instagram, "curtindo um friozinho" na Suíça antes de começar a trabalhar para a FIVB na semana seguinte.
"Eu preciso sacrificar a minha vida para ele fazer as coisas dele. Em 2015, a Nicoll foi internada por conta de um problema no apêndice. Ficamos três dias no hospital e ele nem veio. Teve complicação, ela voltou pro hospital e ele até veio visitar. Deu três dias e foi embora. E eu que tive que ficar dormindo, eu e as duas crianças no hospital porque não tinha com quem deixar o menor", lembra.
Segundo Pirv, as crianças estão lidando bem com a exposição. Nicoll, a mais velha, entende melhor a situação e é acompanhada de perto por uma psicóloga. "Detesto ser exposta como a gente está sendo. Na última vez que fui no juiz, disse: 'Estou pedindo socorro para vocês. Eu não consigo trabalhar (pausa para Pirv chorar). Eu não dormi noites quando eu saí do projeto (do Curitibano) por causa dele. O que eu tenho que fazer para poder seguir minha vida?".
Em contato, a assessoria de Giba afirmou que não vai comentar as declarações de Pirv ao UOL Esporte.
Sobre o autor
Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.
Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.
Sobre o blog
Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.