Conforme antecipou o Olhar Olímpico na segunda-feira, os cinco membros do Conselho Gestor da Secretaria Municipal de Esporte da Prefeitura de São Paulo, a SEME, entregaram seus cargos. Nesta terça-feira, eles publicaram um comunicado em conjunto criticando a atuação da gestão de João Doria (PSDB) no campo esportivo. A pasta é comandada por um dos homens da sua comunicação durante a campanha eleitoral, Jorge Damião.

No começo da tarde, a ex-jogadora de basquete Magic Paula postou em suas redes sociais um comunicado conjunto dos cinco membros do Conselho – Raí, o sexto integrante, havia entregado o cargo no primeiro semestre por questões pessoais. Além de Paula, chama atenção que o documento seja assinado por Paulo Nigro, que é presidente do LIDE Esporte, braço esportivo do LIDE, empresa que pertence a Doria.

"Ao aceitar o desafio de contribuir com o esporte na cidade de São Paulo, nos propusemos a trabalhar pela melhoria da política municipal e propiciar à população o acesso ao esporte como fator de transformação social. Trabalhamos ativamente como um único time para termos um diagnóstico da SEME e para a elaboração do seu Plano Estratégico de quatro anos e mecanismos de governança", escrevem os agora ex-conselheiros.

"Com o início da execução, constatamos a priorização de eventos pontuais em detrimento às iniciativas previstas no plano que, por serem estruturantes, são implementadas no médio e longo prazo, com métricas estabelecidas de tal forma a garantirem o alcance das metas acordadas. Como a decisão final é da alta gestão e nosso objetivo sempre foi o de contribuir, decidimos pela saída, entendendo inclusive que nosso papel foi cumprido, deixando um forte legado estratégico", continuam os cinco ex-conselheiros.

Além de Paula e de Nigro, também assinam os empresários João Paulo Diniz, que teve encontro com o secretário Jorge Damião há cerca de duas semanas, Fabio Igel e Hugo Scott. Todos foram nomeados por Doria, ainda no fim do ano passado.

O Olhar Olímpico já havia apontado, há dois meses, que a secretaria iniciava um movimento a favor desses eventos pontuais. Desde agosto, Damião autorizou mais de 90 deles, sendo quase a totalidade a partir de emendas de vereadores, muitos deles com fortes indícios de irregularidades. Os conselheiros eram contra esses eventos, que consomem a pouca força de trabalho disponível da SEME, e levaram isso até Damião, que manteve a postura.

O comunicado dos conselheiros confirma o noticiado pelo Olhar Olímpico na segunda-feira e põe por terra a versão da secretaria, de que não havia descontentamento e que a saída dos conselheiros já era prevista. Em nota enviada ao UOL mais cedo, Damião reforçou que não há crise e que "a saída do Conselho Gestor do Esporte já era prevista após a criação do plano estratégico e de metas". "Este acordo estava firmado desde o início do mandato, devido às demais obrigações que os integrantes do grupo têm em suas respectivas empresas", pontuou Damião. Os conselheiros negam essa versão.

Com a demissão em massa de todo o conselho gestor, Damião fica isolado no comando da SEME. Na semana passada, a secretária-adjunta Daniela Castro, ex-secretária-executiva da ONG Atletas pelo Brasil e uma espécie de representante dos empresários e dos atletas na secretaria, pediu demissão. Ela foi exonerada no sábado.

O cargo de Damião é, há meses, pleiteado pelo PR, que já indicou mais de uma vez o nome do ex-vereador e ex-judoca Aurélio Miguel. O medalhista olímpico, porém, sempre foi o campeão de emendas parlamentares para realização de eventos pontuais e empregava em seu gabinete o homem por trás de grande parte desses eventos, Mauzler Paulinetti. E são exatamente esses eventos, realizados em massa este ano, que fizeram os antigos aliados de Doria abandonarem o governo.