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Por meritocracia, COB amplia concentração de verbas em confederações ricas

Demétrio Vecchioli

25/10/2017 04h00

(divulgação/CBV)

Não é coincidência que apenas as confederações que possuem patrocinadores tenham conquistado medalhas nos Campeonato Mundiais disputados este ano. Afinal, as poucas empresas que continuam investindo recursos nos esportes olímpicos escolhem exatamente as modalidades que mais têm sucesso esportivo. Uma meritocracia que já era aplicada pelo mercado e que agora também chega ao Comitê Olímpico do Brasil (COB), que revisou os critérios de descentralização dos recursos da Lei Agnelo/Piva. Esse movimento sincronizado, como consequência, cria uma ainda maior concentração de renda em poucas confederações, enquanto outras sofrem para sobreviver.

Por lei, é o COB quem recebe 1,7% dos prêmios pagos nas loterias federais, destinando obrigatoriamente 10% do montante ao esporte escolar e 5% ao esporte universitário. O restante é descentralizado a gosto do COB, que usa uma parte para si, distribui outra às confederações a partir de transferências mensais, e reserva uma terceira para projetos pontuais apresentados pelas mesmas entidades – por exemplo, para pagar o salário do novo técnico da seleção brasileira masculina de basquete.

Leia mais – Fim de patrocínios aumenta polaridade e míngua esportes pequenos no Brasil

Tradicionalmente, os recursos distribuídos entre as confederações seguiram critérios ligados a resultados, priorizando sempre as modalidades mais vitoriosas e com mais visibilidade. Em 2016, por exemplo, as que mais ganhavam eram as de atletismo, desportos aquáticos, judô, vela e vôlei, com ginástica, handebol, hipismo e basquete logo abaixo. O que aumentou de forma acentuada nos últimos dois anos – e especialmente agora – porém, foi a distância entre o piso e o teto.

"Os critérios de distribuição apresentados reforçam a meritocracia na distribuição dos recursos da Lei Agnelo/Piva e foram criados para que seja privilegiado quem está trabalhando bem no desenvolvimento de suas modalidades", resumiu Agberto Guimarães, diretor de esportes do COB. A entidade estipulou um piso para cada confederação (que cai pela metade para os esportes de inverno) e critérios que, quando atingidos, fazem os valores subir.

No ano que vem, as confederações dos novos esportes olímpicos vão ganhar R$ 719 mil, apenas. As de esportes de inverno, mesmo em ano olímpico, R$ 1,3 milhão (gelo) e R$ 1,5 milhão (neve). O basquete, que aparece logo acima, terá R$ 2 milhões, somente. Enquanto isso, vôlei e judô vão ganhar R$ 6,2 milhões. Em 2016, o piso era de 2,2 milhões e, o teto, de R$ 4,5 milhões. A diferença que era o dobro entre o mais rico e mais pobre agora é o quádruplo.

Ainda que praticamente todas as confederações tenham visto os valores de patrocínio caírem de 2015 para cá, as que perderam menos são as beneficiadas pelos novos critérios do COB. A CBV, do vôlei, tem o patrocínio do Banco do Brasil e outros oito apoiadores. Já a CBJ, do judô, é patrocinada por Bradesco, Infraero e Cielo e ainda tem mais dois apoiadores.

Na sequência do ranking para 2018 aparecem as confederações de vela (patrocinada pelo Bradesco, tem quatro apoiadores), atletismo, ginástica (ambas pela Caixa Econômica Federal) e canoagem. Aliás, essa última é a exceção entre as confederações, a única que, graças ao BNDES e às medalhas obtidas na Olimpíada, consegue ter mais receitas agora do que no ciclo olímpico passado – leia aqui sobre isso.

Na outra ponta da lista, quem sofre por falta de resultados e de dinheiro deve continuar passando dificuldades. Abaixo de R$ 2,4 milhões por ano aparecem, além das novas modalidades olímpicas e das de inverno, outras 10 confederações: esgrima, ciclismo, golfe, tênis de mesa, badminton, rúgbi, remo, hóquei sobre a grama, triatlo e basquete.

Algumas delas, como as de ciclismo, tênis de mesa e remo, que não têm patrocinador e já reclamavam do pouco dinheiro disponível em 2017, receberão ainda menos no ano que vem. Quem também terá que fazer conta são as confederações de hipismo e handebol que, na comparação com esta temporada, perderão cerca de R$ 1 milhão cada uma.

Confira os critérios adotados pelo COB:

– Medalhista no último Campeonato Mundial Adulto (17,0%);
– Medalhista na última edição de Jogos Olímpicos (15,6%);
– Prestação de Contas – Qualifica a performance das Confederações nos processos de prestação de contas da Lei Agnelo/Piva no ano corrente (15,6%).
– Medalhista no último Campeonato Mundial Sub-21 (14,3%);
– Multimedalhista na última edição dos Jogos Olímpicos (12,1%);
– Medalhista na penúltima edição dos Jogos Olímpicos (8,0%);
– Medalhista na última edição de Jogos Pan-americanos (4,0%)
– Top 8 nas últimas edições dos Jogos Olímpicos (4,0%);
– Número de eventos com participação brasileira na última edição dos Jogos Olímpicos (4,0%);
– Top 8 em Campeonato Mundial adulto nos últimos 4 anos (4,0%):
– Top 8 no último Campeonato Mundial Sub-21 (1,3%);

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Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.


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