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Olhar Olímpico

Doria vai tirar Secretaria de Esporte do centro para vender prédio tombado

Demétrio Vecchioli

05/11/2019 04h00

Edifício sede da SELJ (divulgação)

Os funcionários da Secretaria de Esporte do Estado de São Paulo, conhecida pela sigla SELJ, já receberam aviso de que devem encaixotar papeis e deixarem tudo pronto para uma mudança que vai acontecer em breve. A secretaria vai se mudar do prédio que ocupa no centro de São Paulo, mais exatamente no número 9 da Praça Antônio Prado. O edifício, com mais de 13 mil metros quadrados de área útil, está na fila para ser vendido em um "esforço de unificação e racionalização de espaços e recursos públicos", segundo o governo. 

Construído ente 1935 e 1938, o prédio de 15 andares e dois subsolos é quase uma década mais antigo do que o vizinho Farol Santander, agora redescoberto como ponto turístico. Os dois têm história parecida. Conhecido como Edifício Banco de São Paulo e projetado pelo arquiteto Álvaro de Arruda Botelho, abrigou o antigo Banco de São Paulo até este ser comprado pelo Banespa. Foi a agência bancária mais chique que a cidade já teve e sede social do luxuoso Jockey Clube de São Paulo, com salões de bilhar e de xadrez. No subsolo, até hoje preserva os antigos cofres, que tiveram portas produzidas pela alemã Panzer, fabricante de tanques durante a Segunda Guerra Mundial. 

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"Mais luxuoso e requintado" exemplar da arquitetura art déco da cidade de São Paulo segundo o Condephaat (órgão estadual do patrimônio), foi tombado em 1992 pela prefeitura e 2003 pelo Estado. Desde 2017 está aberto para visitação, que passa pelos cofres, pelas antigas agência bancária e sala de reuniões do presidente, até chegar a um mirante no sexto andar.  

Dividido em dois blocos interligados terreno tem 1,2 mil metros quadrados, que somam 13,5 mil m² de área construída, o prédio é o único tombado entre mais de uma centena de imóveis do Fundo de Investimento Imobiliário (FII) que o governo do Estado ainda pretende colocar à venda. O FII, com 264 imóveis no total, proposto ainda por Geraldo Alckmin (PSDB) em 2016, e regulamentado por Márcio França (PSB) em 2018. Mas foi João Doria (PSDB), em março, que iniciou a comercialização de fato dos imóveis.

Desde então tem crescido a pressão para que a SELJ deixe o prédio que ela ocupa quase em sua totalidade – em um andar funciona uma delegacia da Polícia Civil. Em nota ao Olhar Olímpico, a Secretaria de Governo informou que a pasta informou que a previsão de mudança é "o fim deste ano" para o edifício Cidade 1, na rua Boa Vista, também no centro. 

A SELJ, porém, passou informação diferente ao blog, informando que a secretaria iria se mudar, no ano que vem, para um edifício administrativo dentro do Complexo Esportivo Baby Barioni, na Zona Oeste. A Secretaria de Governo, depois, confirmou essa versão.

O Baby Barioni, colocado no Parque da Água Branca, é um dos "legados olímpicos" da Rio-2016 na cidade de São Paulo – o outro é CT Paraolímpico, na zona sul. As obras do complexo, porém, começaram em 2014 e praticamente pararam em 2016 até que o convênio com a Caixa Econômica Federal, que pagava pela obra, fossem completamente encerrado em outubro do ano passado.

Só em setembro deste ano é que o governo estadual retomou as reformas, que avançaram um pouco além da metade – 54%. A previsão da SELJ é que obras que já estão prontas, incluindo o prédio de lutas, a quadra poliesportiva e o edifício administrativo sejam entregues ao longo do ano que vem. Depois, o restante da estrutura ficará pronto até o fim de 2020, ao custo de mais cerca de R$ 30 milhões.

Aprontar o Baby Barioni é importante não só para tirar a SELJ de um edifício histórico e poder vendê-lo, mas também para avançar no processo de concessão do Complexo Esportivo do Ibirapuera à iniciativa privada. Hoje as vozes mais críticas a essa concessão são atletas e ex-atletas que moraram ou moraram no Ibirapuera, fazendo parte do Projeto Futuro. O Baby Barioni terá moradias, para onde parte desses atletas deverão ser levados.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.