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Olhar Olímpico

Atletismo brasileiro encara calor de Doha para atingir novo patamar

Demétrio Vecchioli

26/09/2019 19h12

Estádio Nacional de Doha recebe o Mundial de Atletismo (Wagner Carmo/Panamerica Press/CBAt)

Nunca na história dos Campeonatos Mundiais de Atletismo o Brasil ficou entre as 15 maiores potências da modalidade. Esse tabu pode começar a cair nesta sexta-feira (27), quanto tem início da edição 2019 do torneio, dividida entre um estádio climatizado a 22º C e o calor insuportável das ruas de Doha, no Qatar.

O Mundial 2019 já seria diferente por uma série de fatores, como as ausências de Usain Bolt e Mo Farah, dois maiores nomes da modalidade na última década. O calor de Doha, porém, virou a competição de cabeça para baixo. O torneio deste ano, diferente dos demais, não terá duas sessões – uma matinal, com poucas finais, e outra noturna, com os eventos mais importantes. No Qatar será uma única sessão por dia, à tarde, em uma maratona que vai das 10h30 às 17h pelo horário de Brasília. Ao menos será dentro de um estádio climatizado.

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As provas de rua, porém, foram marcadas para a orla do Golfo Pérsico, em condições consideradas insalubres para a prática esportiva, com umidade do ar sempre acima de 50%. Para tentar fugir do calor de 45ºC durante o dia, as maratonas e as provas de marcha atlética serão na madrugada, começando por volta da meia-noite de Doha. Alguns países chegaram a pedir o cancelamento das disputas, mas a IAAF não deu ouvidos.

O Brasil compete com uma delegação de 44 atletas, desfalcada de Núbia Soares (do salto triplo, machucada), Daniel Chaves (da maratona, reclamou de falta de apoio e recusou a convocação) e Andressa de Morais (do lançamento do disco, está suspensa por doping). Os três fazem parte da elite do atletismo brasileiro, de um restrito grupo de atletas que pode entrar bons resultados em nível internacional.

Essa elite, porém, é composta por um número cada vez maior de atletas, o que permite ao Brasil sonhar com um desempenho histórico. O Mundial de Atletismo, além do quadro de medalhas, tem um outro critério de ranqueamento de países, chamado placing table, que pontua resultados dentro do Top8 de cada prova. É este ranking que mostra o lugar do Brasil no atletismo: desde 2007, sempre em algum posto entre a 19ª e a 25ª posições.

O Brasil chega a Doha com chances reais de medalha em pelo menos cinco provas e com condições de colocar até 15 atletas/equipes entre os finalistas – como comparação, em 2017 a equipe ganhou uma medalha e fez seis finais. A estrela do time é Darlan Romani, que é o vice-líder do ranking mundial do arremesso de peso e vem ultrapassando os 22 metros com regularidade. A prova dele tem eliminatórias na quinta (3) e final no sábado (5).

Revelação desta temporada no atletismo brasileiro, Alison Brendom, de apenas 19 anos, começou o ano pensando em fazer bonito em eventos sub-23 e chega a Mundial cotado ao pódio nos 400m com barreiras. Sexto do mundo, ele começa o Mundial hoje (27), buscando semifinal no sábado (28) e depois final na segunda (30). Não será surpresa se Márcio Teles, 10º do mundo, também avançar à final.

Nas provas de 20km da marcha atlética, Caio Bonfim e Erica Sena mais uma vez aparecem bem cotados, depois de serem terceiro e quarto colocados do Mundial passado, respectivamente. Eles competem sexta (4, masculino) e domingo (29, feminino).

Grande também é a expectativa sobre o que vai fazer o 4x100m masculino, formado por Paulo André Camilo, Vitor Hugo dos Santos, Rodrigo do Nascimento e Aldemir Gomes, além dos prováveis reservas Derick Silva e Flávio Gustavo Barbosa. Eles correm só na outra sexta (4), com final no sábado (5). O time feminino, que mira fazer final, compete nos mesmos dias.

No salto com vara são dois brasileiros com alguma chance de medalha. Thiago Braz competiu bem apenas uma vez no ano, o suficiente para ser o quinto do ranking mundial. Se saltar o que sabe, pode ir ao pódio. Correndo por fora aparece Augusto Dutra, número 12 do mundo e que se evoluir um pouco entra na briga por medalha. Eles disputam a fase de classificação no sábado (28), buscando lugar na final de terça (1)).

Também no salto triplo são duas chances reais de final, com Alexsandro Melo (11º do ranking) e Almir dos Santos (14º), que passou boa parte da temporada lesionado mas tem no currículo a prata no Mundial Indoor do ano passado. Eles estão entre os primeiros brasileiros a competir nesta sexta (27), buscando vaga na final de domingo (29).

Ambos fazem parte de uma geração de atletas que despontou no atual ciclo olímpico. São os casos também de Gabriel Constantino e Eduardo de Deus, que chegam ao Mundial como oitavo e 15º do ranking mundial dos 110m com barreiras e que precisarão passar por duas etapas até a final de quarta-feira (2): eliminatórias na segunda (30) e semifinal também na quarta, mais cedo.

Nos 100m, Paulo André corre pela primeira vez por volta das 12h desta sexta, nas eliminatórias, buscando semifinal e, depois, final – ambas acontecem no sábado. Ele não é favorito a estar entre os oito melhores, mas é grande a expectativa sobre o primeiro sub-10 do atletismo brasileiro. Se isso acontecer na semifinal, a vaga na final é possível.

Foi exatamente assim que Rosângela Santos conseguiu uma improvável vaga na final feminina do Mundial de Londres, quebrando a barreira dos 11 segundos. A veterana vai tentar repetir o feito, correndo sábado (27) e domingo (28), assim como Vitória Rosa, que vem bem também nos 200m. No masculino, Aldemir Gomes também gera alguma expectativa pelo que pode fazer nos 200m.

A elite do atletismo brasileiro hoje ainda tem Fernanda Raquel, 12ª do mundo no lançamento do disco, e Altobeli Santos, que é finalista olímpico nos 3.000m com obstáculos.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.