Covas quer piscina de ondas, mas deveria investir em piscinas públicas
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Ao justificar a concessão do Pacaembu à iniciativa privada, no começo da semana passada, o prefeito Bruno Covas (PSDB) alegou que a prefeitura deveria priorizar a manutenção de piscinas em clubes da periferia e não em uma área nobre como o Pacaembu, onde os moradores têm dinheiro para pagar por clubes particulares. Faz algum sentido. Três dias depois, porém, o tucano mostrou discurso e prática voam em caminhos opostos.
Na sexta-feira (20), Covas enviou um emissário até a Califórnia para informar Kelly Slater que seu governo tem total interesse que seja construída na cidade uma piscina de ondas igual a que o maior surfista de todos os tempos construiu em seu rancho. Inclusive, que topa ceder um terreno público para esta empreitada. Nos EUA, o empreendimento tem 40 mil metros quadrados, o tamanho de cinco campos de futebol.
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O negócio seria gerido por empresas privadas que, naturalmente, cobrariam pela utilização do brinquedo de adulto. E não é pouco. No começo do ano passado, a ESPN noticiou que o tíquete do surf ranch custa US$ 10 mil (mais de R$ 40 mil) por hora. Há um ano, uma agência de viagens paulistana oferecia um pacote de US$ 6,5 mil (então R$ 23 mil) por um fim de semana, com a possibilidade (se tudo desse certo) de pegar 15 ondas.
A piscina de ondas de Kelly Slater nada tem a ver com as homônimas dos parques aquáticos para a família. Na profissional é gerada uma única onda a cada cinco minutos, para ser surfada por um único surfista. Não serve para jovens atletas, não serve para recreação. Atende apenas surfistas profissionais, que por motivos óbvios já moram na praia.
De fato, São Paulo precisa de piscinas, mas daquelas que a gente procura no verão, para tentar se refrescar nas temperaturas cada vez mais altas da selva de pedras. Hoje, a capital paulista tem 48 Centros Esportivos como o Pacaembu. Desses, só 27 têm piscina. Em 21 bairros, os moradores até têm campo de futebol e/ou quadra, talvez um equipamento de ginástica, mas não um local para se banhar.
Nesses 27 centros que contam com o equipamento, existem 61 piscinas, das quais 10 estão interditadas, muitas delas há anos. Nos cálculos da prefeitura, reativá-las custaria R$ 12,6 milhões aos cofres municipais. Uma pechincha para quem recebeu um cheque de R$ 79 milhões na semana retrasada só a título de "entrada" pela concessão do Pacaembu. A prefeitura diz que terceirizar o complexo esportivo significa um ganho financeiro de R$ 656 milhões em 35 anos.
A prefeitura, que pagou R$ 8,1 mil apenas em passagens aéreas para o secretário-adjunto de Esporte Thiago Lobo ir aos Estados Unidos, trata a piscina de surfe como de "interesse público" e justifica que a capital paulista é a cidade sem praia com maior número de surfistas no mundo. Sem citar a fonte do estudo, o governo Covas diz que São Paulo capital tem 150 mil surfistas.
A prefeitura cita estudo da Associação Brasileira da Indústria e dos Esportes com Prancha para informar que o mercado do esporte com prancha (incluindo skate) movimenta R$ 2,5 bilhões ao ano na cidade. É um número expressivo, relativo a nove modalidades, das quais só uma, o surfe, poderia ser praticado na piscina de ondas.
Dessas nove modalidades, quatro (windsurfe, kitesurfe, wakeboard e stand up paddle) podem ser praticadas em águas calmas, como a Represa de Guarapiranga. Lá existe um clube municipal, o Náutico Guarapiranga, que não oferece aulas de nenhuma das modalidades. Se a ideia é movimentar o mercado do esporte de prancha, talvez seja mais barato colocar escolinhas no clube que já existe.
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