Topo

Olhar Olímpico

Basquete e vôlei perdem seu principal patrocinador privado

Demétrio Vecchioli

13/09/2019 04h00

Hortência e João Adibe, presidente da Cimed, apresentaram patrocínio em janeiro (Wander Roberto/Inovafoto)

Uma das empresas privadas que mais investe no esporte brasileiro, a Cimed resolveu rever seu posicionamento de imagem e rompeu os contratos que tinha com as Confederações Brasileiras de Vôlei (CBV) e de Basquete (CBB). A farmacêutica foi title sponsor da Superliga na temporada passada e patrocinava o basquete há apenas oito meses. Ela segue patrocinando a confederação mais rica do país, a CBF, do futebol, por contrato renovado ano passado, até 2023.

Em nota, a Cimed disse que ao Olhar Olímpico que "construiu relações vencedoras por meio do esporte" e que "agora conclui sua jornada com as equipes de basquetebol e voleibol". A empresa afirmou que destinará esses recursos para "uma nova estratégia de marca e plataformas ainda não exploradas". Em março, ao UOL Economia, a empresa disse que tinha no marketing esportivo sua principal aposta. Ela também a maior patrocinadora do automobilismo brasileiro. 

LEIA MAIS:

+ Como contrato sem DAZN no basquete azedou relação entre Flamengo e Botafogo

+ Seleção de basquete faz propaganda de graça para o Banco de Brasília

+ Ex-participante de A Fazenda cuida da ouvidoria do COB

A CBV confirmou o rompimento. "A Cimed não está mais entre os nossos patrocinadores e fazemos questão de reforçar a importância que esta marca teve para o desenvolvimento do voleibol durante anos. Mais do que isso, agradecemos pela parceria que foi de grande valor para a nossa modalidade", disse a confederação, que ressaltou que seu departamento de marketing está "estudando novas possibilidades". A marca da Cimed já não consta no site da CBV, que tem no Banco do Brasil seu principal patrocinador.

A Cimed fez expressivos investimentos em um time masculino de Florianópolis no fim da década passada, e depois patrocinou o Sada/Cruzeiro. Em 2017 a farmacêutica anunciou contrato com a CBV, para pagar R$ 10 milhões até a Olimpíada de Tóquio. Naquele momento, o contrato envolvia propriedades estáticas das seleções masculina e feminina, placas de quadra e logo em backdrops de entrevista.

Nos últimos dois anos o acordo foi estendido, primeiro com a Cimed comprando o naming right de um prêmio oferecido ao melhor jogador da partida, depois adquirindo o naming right da Superliga, que se chamou Superliga Cimed na temporada passada. A confederação e a patrocinadora nunca revelaram os valores desses contratos, nem suas durações. Também não responderam questionamentos do blog sobre esses dados.

Basquete fica na mão 

A saída da Cimed também é um baque para a CBB, que foi procurada por diversos canais e não respondeu nenhum contato do blog. O contrato entre as duas partes foi anunciado em janeiro, para ter duração de um ano, por suposto R$ 1 milhão ao ano – o valor nunca foi confirmado oficialmente. A confederação anunciou naquela ocasião que o acordo abrangia "os selecionados nacionais, além de alguns torneios de basquete 3×3".

Assinado com a presença de Hortência, que teria feito o meio-campo entre CBB e Cimed, o contrato foi rompido sem anúncio. Já na estreia da seleção brasileira masculina na Copa do Mundo a reportagem procurou e não encontrou a marca da farmacêutica no site da entidade.

A seleção nunca chegou a jogar com a marca da Cimed na parte da frente do uniforme, como era a camisa apresentada no anúncio do contrato. No Mundial, o espaço foi ocupado pelo Banco de Brasília (BRB), que não pagou nada pela visibilidade. As duas partes têm um protocolo de intenções, mas não assinaram contrato porque a CBB não tem a documentação necessária. O acordo seria de R$ 1,5 milhão, podendo ser ampliado para R$ 2,5 milhões, no máximo.

Hoje o único patrocinador da CBB é a Motorola, que, na falta de outras empresas, vinha ocupando o espaço mais nobre do uniforme da seleção. Quando assumiu, a gestão Guy Peixoto projetava ter um patrocinador master pagando R$ 15 milhões ao ano.

A confederação chegou a conversar seriamente com a Caixa Econômica Federal, mas não conseguiu acordo porque existem processos judiciais da CBB contra a Eletrobrás e vice-versa. A confederação dava como certo um acordo com a antiga patrocinadora, reconhecendo dívida gerada pela administração anterior, de Carlos Nunes, mas a Eletrobrás não aceitou.

Nesta semana, a CBB pediu que o juiz da 12ª Vara Cível do Rio suspenda o processo da Eletrobrás contra a confederação para que a estatal responda se aceita remeter os autos para mediação. "Não se trata da existência de uma proposta de acordo, mas, sim, da vontade da CBB de tentar restabelecer o diálogo com a Eletrobrás, colocando fim ao litígio", explicaram os advogados da CBB na petição.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.