Capivaras mortas apodrecem e deixam raia da USP com cheiro de carniça
Já virou rotina entre frequentadores da raia olímpica da USP, um dos mais antigos e tradicionais equipamentos esportivos da maior cidade do país. Basta morrer uma das cerca de 100 capivaras que habitam o local para que, pelos próximos dias, semanas, o cheiro de carniça tome conta do local, onde treinam atletas de quatro equipes paulistanas: Pinheiros, Paulistano, Corinthians e Bandeirantes.
Recentemente o problema se agravou. Em sete dias, quatro capivaras morreram. Como se tornou rotina nos últimos anos, onde elas caíram, elas ficaram. Os funcionários que atuam na conservação da área não têm autorização para manejar os animais silvestres mortos, que pesam entre 40kg e 60kg quando adultos.
No passado, a prefeitura de São Paulo ia até a raia e retirava as capivaras mortas. Mas isso não é feito mais. Da mesma forma, a prefeitura do campus da Universidade de São Paulo (USP), onde fica a raia, também não executa o serviço. No jogo de empurra-empurra, quem são prejudicados são os remadores, que precisam conviver com a carniça até que os urubus terminem o serviço.
O Olhar Olímpico procurou a prefeitura, a USP e a polícia ambiental na quarta-feira para questionar sobre o problema. A universidade não respondeu os questionamentos enviados, assim como a policia ambiental, que seria responsável por investigar por que quatro animais morreram em apenas quatro dias.
Já a prefeitura inicialmente disse que a Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (Amlurb), ligada à secretaria de sub-prefeituras, não tem autorização para entrar em área fechada da USP e só recolhe animais mortos em vias públicas ou os recebe em duas centrais de triagem. Depois, porém, enviou nota avisando que "em razão do histórico de parceria que a Prefeitura tem com a USP, a autarquia de limpeza entrará em contato com a universidade para ajudar na resolução do problema". Até a manhã desta sexta-feira (6), não havia resolvido.
A prefeitura de São Paulo, vale lembrar, foi quem tomou a iniciativa de convidar empresas privadas para derrubarem o muro de concreto que existia entre a raia e a marginal do Rio Pinheiros para construírem um muro de vidro no lugar. A obra está parada no meio, com cerca de 1 quilômetro do novo muro entregue.
Em julho, a Localiza Hertz, empresa de locação de veículos, assumiu a zeladoria do canteiro que surgiu entre o muro e a marginal, em área que pertencia à USP e servia de pista de caminhada para os frequentadores da raia. Quem assinou o termo de cooperação com a Localiza foi a prefeitura, por 12 meses.
Desde então foram plantadas 250 árvores, de um total de 500 previstas – as restantes devem ser plantadas este mês, de acordo com a Localiza. O jardim, que também terá arbustos, se coloca entre os carros e a raia, criando uma barreira visual. Ao propor o muro de vidro e a derrubada do antigo, o então prefeito e hoje governador João Doria (PSDB) justificava a obra pela eliminação de barreiras visuais.
A Localiza diz que as árvores nativas brasileiras, como Ipê Roxo, Pata de Vaca e Angico Branco, foram dispostas em uma linha triangular para criar movimento e dar espaço para as copas das árvores crescerem de forma saudável. A empresa diz que a ação beneficiará a fauna local, já que os pássaros poderão pousar na copa das árvores, e irá contribuir também para a melhoria do microclima local. Quando as árvores chegarem à fase adulta, a copa delas ficará em uma altura que não irá impedir a visualização da Cidade Universitária, diz a empresa.
Como mostrou o Olhar Olímpico, o muro aumentou significativamente o número de mortes de pássaros, que não notam tratar-se de um vidro e se chocam. O Ministério Público chegou a solicitar que a obra fosse paralisada por causa disso, mas a USP nunca disse se esse foi o motivo da paralisação. Procurado pelo blog, o MP disse desconhecer o plantio das árvores.
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