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Médico da Unisanta é suspenso após receitar doping a nadador menor de idade

Demétrio Vecchioli

11/07/2019 04h00

Lucas Jankauskas (reprodução/Instagram)

Então médico da equipe de natação da Unisanta, de Santos, Lucas Jankauskas recebeu uma suspensão de três anos na esfera esportiva depois que ficou demonstrado no Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem (TJDAD) que ele receitou uma substância dopante para um nadador da equipe. Como esse atleta era menor de idade na ocasião, a reportagem vai preservar seu nome, assim como faz o TJDAD e a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD).

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Ainda que o nadador seja uma das promessas da natação brasileira e o exame tenha ocorrido em fevereiro de 2018, toda a história correu no mais absoluto sigilo por mais de um ano. O nadador, então com 17 anos, chegou a receber uma suspensão, branda, de dois meses, o que foi confirmado ao Olhar Olímpico por duas fontes, mas não pelo tribunal, que não responde publicamente por casos envolvendo menores de idade.

Jankauskas, por sua vez, foi julgado em junho e recebeu uma suspensão de três anos, retroativa à data da coleta e com validade até 22 de fevereiro de 2021. Ele foi condenado com base no artigo 17 do Código Brasileiro Antidopagem, que diz: "é violação da regra antidopagem assistir, alentar, ajudar, incitar, colaborar, conspirar, encobrir, ou qualquer outro tipo de cumplicidade intencional envolvendo uma violação da regra antidopagem".

Procurada na segunda-feira (8), a assessoria de imprensa da Unisanta inicialmente disse que Jankauskas não é médico do clube "há muito tempo" e que nada tem a ver com a suspensão. Na quarta-feira (10), o advogado de Jankauskas, Renato Ventura, disse que seu cliente trabalhava para a Unisanta quando ocorreu o caso de doping e que só foi desligado depois da notificação do resultado analítico adverso. Nadadores confirmaram ao blog que eram atendidos pelo médico até o ano passado. 

Confrontada com essas informações, a assessoria de imprensa da Unisanta recuou. Em nota, disse que o médico "foi um zeloso prestador de serviços da área médica às equipes de natação até o momento da comunicação da decisão preliminar pela ABCD, quando, consensualmente, a relação foi suspensa e posteriormente encerrada".

Como o caso corre em sigilo, nenhuma das partes confirmou ao blog a substância proibida que foi receitada ao nadador. "Era uma substância  permitida no conselho de medicina. O Lucas se defendeu e mostrou que a substância não causa potencialidade para o atleta, não vai fazer dele campeão mundial", argumentou o advogado do médico, que se diz especialista em medicina do esporte, nutrologia esportiva e fisiologia do exercício.  

Em seu artigo 182, o Código Brasileiro Antidopagem diz que são obrigações e responsabilidades do pessoal de apoio do atleta "não apenas conhecer e respeitar o código como comunicar à ABCD e à federação internacional sobre qualquer decisão tomada por um não signatário alusiva à violação da regra antidopagem nos últimos dez anos". Ou seja: era obrigação do médico informar a ABCD sobre o medicamento receitado ao nadador, por meio de uma Autorização de Uso Terapêutico (AUT), mesmo que retroativa, o que ele não fez.

Inicialmente, o médico foi denunciado no TJDAD por administração de substância proibida (artigo 97), com pena podendo chegar a 30 anos. Os auditores do tribunal, porém, desclassificaram para cumplicidade (artigo 98), com pena prevista de dois a quatro anos. Pelo nadador ser menor de idade, ela ficou em três anos.

Procurado, o advogado de Jankauskas alegou que a suspensão foi aplicada ainda em primeiro grau, que cabe recurso, e chegou a ameaçar processar a reportagem caso seu cliente fosse apontado como "condenado" ou "culpado". "Ele está discutindo judicialmente. Isso envolve os interesses de uma pessoa que à época era menor de idade. Estamos nos defendendo como tem que fazer", comentou.

A Unisanta terá cinco nadadores na equipe brasileira que vai ao Mundial de Natação, em Gwangju, na Coreia do Sul. Ana Marcela Cunha e Victor Colonese vão disputar as provas de maratona aquática, enquanto Leonardo de Deus, André Calvelo e Nicholas Santos estarão nas piscinas. Para o Pan foram convocados Ana Marcela (natação e maratona) e Gabrielle Roncatto. André Calvelo e Leo de Deus disputam a vaga que será aberta se Gabriel Santos, flagrado em exame antidoping, for cortado. A decisão precisa ser tomada até o fim da semana.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.