Jogo do Corinthians investigado vendeu só 24 ingressos pelo preço cheio
Para ter direito a meia-entrada no Paraná, o espectador precisa ser estudante, idoso, deficiente físico, jovem de 15 a 29 anos comprovadamente carente, doador de sangue registrado em hemocentro ou professor da rede de ensino. No jogo entre Ferroviário e Corinthians, em Londrina (PR), pela Copa do Brasil, em fevereiro, 13,9 mil pessoas se valeram do benefício e pagaram meia-entrada. Somente 24 pagaram o preço cheio.
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O jogo foi citado pelo delegado Leonardo de Castro, da Polícia Civil do Distrito Federal, como uma das partidas em que há indício de fraudes no borderô (boletim financeiro), todas organizadas pela empresa Roni7, do ex-atacante Roni, de passagem destacada pelo Fluminense. Em operação realizada no sábado (25), sete pessoas foram presas temporariamente.
Como a investigação por enquanto é da Polícia Civil do Distrito Federal, ela não abrange fatos ocorridos no Paraná. Mas o jogo da primeira fase da Copa do Brasil chamou atenção dos investigadores porque o público total divulgado (19.316 torcedores) seria visualmente menor do que o público presente. O site que vende ingressos para a empresa de Roni, o MeuBilhete, anunciou que colocou à venda 58,5 mil entradas, mas a Fundação de Esportes de Londrina diz que o Estádio do Café tem capacidade para 30 mil pessoas.
Os investigadores questionam não apenas se o público dos jogos organizados por Roni é subdimensionado, mas também a constante distribuição de ingressos que aparecem no borderô como "cortesia". No jogo em Londrina, só havia gratuidade para crianças de até 2 anos, mas 4,3 mil pessoas entraram no estádio sem pagar, segundo o borderô. Os investigadores desconfiam que esse número seja falso, usado para encobrir a renda real. Caso elas tivessem pagado o preço cheio da arquibancada, a renda bruta seria R$ 522 mil maior.
Além disso, chama atenção o número elevado de meias-entradas. Nesta partida, a Roni7 divulgou a venda de "meia-entrada solidária". O torcedor poderia comprar meia, desde que levasse um quilo de alimento perecível para doação. A prática é vedada pelo Código de Defesa do Consumidor. "Tal conduta significa uma burla à legislação, já que os valores dos ingressos são dobrados, de modo a estender 'o benefício' a todas as pessoas e não somente àquelas que se enquadram no requisito legal. Assim, todos os consumidores acabam pagando o valor integral do ingresso", diz o Procon do Paraná.
A Roni7 ganhou fama comprando mando de campos. Ela paga uma taxa ao clube mandante (neste caso, o Ferroviário) e leva a partida para um estádio que pode atrair melhor público, ficando com a renda do jogo. Se ela for menor do que os custos, o prejuízo é de Roni e seu sócio. Se for maior, o lucro também é deles. O visitante tem suas despesas pagas. No jogo em Londrina, o Corinthians nada teve a ver com a organização – não há indícios de envolvimento de nenhum clube com a suposta fraude.
Desde 2015, a empresa levou partidas para Paraná, Espírito Santo, Amazonas, Mato Grosso e Distrito Federal. Em todos os jogos pesquisados pelo Olhar Olímpico há número praticamente irrelevante de ingressos inteiros vendidos, sempre abaixo de 0,2% do público total.
Como comparação, no último jogo da Série A do Brasileirão no Paraná (Athletico x Corinthians), 40% das entradas vendidas ao torcedor comum (não sócio) foi por preço cheio. Em São Paulo x Bahia no Morumbi, essa taxa chegou a 58% na arquibancada.
A polícia investiga o esquema porque, ao anunciar uma renda supostamente menor do que a real, a Roni7 pagaria impostos mais baixos ao estado (Imposto Sobre Serviços) e à União (Imposto de Renda). Além disso, em casos como do Estádio Mané Garrincha, em que o aluguel está relacionado à renda, a Roni7 pagaria menos pelo aluguel.
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