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Olhar Olímpico

Por que Botafogo x Palmeiras é peça-chave em investigação de fraude

Demétrio Vecchioli

26/05/2019 17h42

(Vitor Silva/Botafogo)

A Polícia Civil do Distrito Federal já tinha em mãos os mandados de prisão de sete pessoas, além de mais de uma dezena de mandados de busca e apreensão. Mas esperou o público do jogo entre Botafogo e Palmeiras ser divulgado, no segundo tempo da partida, para só aí tornar pública a operação Episkiros, que levou à cadeia, em prisão temporária (de 48 horas), o ex-atacante e hoje empresário Roni.

+ Como funcionava o esquema de compra de mandos que levou à prisão de Roni

De acordo com o delegado Leonardo de Castro, da Divisão de Repressão aos Crimes contra a Ordem Tributária (DICOT) e que liderou a operação, a ideia era efetuar uma espécie de flagrante. O jogo, com mando de campo do Botafogo, foi vendido à empresa de Roni, a Roni7, que pagou uma taxa ao clube carioca e levou a partida para Brasília.

"A operação foi deflagrada após a divulgação do borderô para que se avaliasse o tamanho do prejuízo", explicou o delegado, em entrevista por telefone ao Olhar Olímpico. "Ainda estamos analisando se houve fraude nesse jogo. Em entrevista com pessoas da federação carioca, todos falaram que em todos os jogos eles notavam um público que parecia menor do que havia no estádio." A CBF ainda não disponibilizou em seu site o borderô completo.

Nos jogos realizados no Mané Garrincha, a Roni7 vinha pagando 5% da renda bruta ao caixa único do governo do Distrito Federal pelo aluguel do estádio. Além disso, a empresa precisa sempre recolher outros 5% da renda bruta, para o mesmo caixa, a título de Imposto Sobre Serviços (ISS). Ao divulgar rendas supostamente subdimensionadas, a Roni7 cometia crime de sonegação fiscal, pelo que apuram os investigadores.

"A operação foi feita dessa forma para colher o depoimento deles (dos acusados) sem que eles combinassem uma história e para se chegar ao banco de dados das empresas. Assim a gente avalia em cima disso os modelos de fraude, faz a quantificação dos prejuízos e avalia a conduta de cada um dos envolvidos", explica Castro.

Segundo ele, a DICOT investiga o suposto esquema criminoso há um ano e meio, mas se aprofundou nas investigações nos últimos seis meses. Os nomes do presos não foram revelados, mas além de Roni também foi preso seu sócio, o presidente da Federação de Futebol do Distrito Federal, Daniel Vasconcelos, e um funcionário da Secretaria de Esporte do Distrito Federal, que também seriam parte do esquema.

Desde 2015, a Roni7 levou jogos para ao menos outros quatro estados: Paraná, Espírito Santo, Mato Grosso e Amazonas. As informações apuradas pela Polícia Civil do Distrito Federal serão compartilhadas com as polícias desses estados e também com a Polícia Federal.

Existe a possibilidade da federalização da investigação, uma vez que entre o suposto esquema de fraude afeta o recolhimento de dois impostos federais: Imposto de Renda (IR) e INSS. Tanto é que os mandados de prisão temporária e de busca e apreensão foram expedidos pela Justiça Federal.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.