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Olhar Olímpico

COI mantém boxe como olímpico, mas sob tutela de dirigente da ginástica

Demétrio Vecchioli

22/05/2019 14h01

(Peter Cziborra/Reuters)

A novela sobre o futuro do boxe nos Jogos Olímpicos teve um final feliz para a modalidade, mas não para a Associação Internacional de Boxe Amador (AIBA), suspensa pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) nesta quarta-feira (22). A modalidade estará no programa de Tóquio-2020, mas sob a tutela de uma comissão especial, presidida pelo japonês Morinari Watanabe, presidente da Federação Internacional de Ginástica (FIG). Isso frustra o planos de entidades internacionais de boxe profissional, que queriam ocupar a lacuna deixada pela AIBA. A decisão ainda precisa ser chancelada pela assembleia do COI, em junho.

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A discussão a respeito do boxe vem se arrastando ao longo do último um ano e meio. O COI tomou diversas medidas exigindo maior transparência e melhores medidas de governança da AIBA, entidade historicamente responsável por cuidar do boxe amador (equivalente à Fifa no futebol, por exemplo). Mas a AIBA fez questão de seguir no rumo contrário, elegendo como presidente um cartola do Usbequistão que é apontado pelos Estados Unidos como narcotraficante internacional de heroína.

O COI deu diversos "ultimatos" à AIBA, que só recentemente deu passos na direção exigida pelo comitê internacional, mas ainda assim modestos. Faltando pouco mais de um ano para Tóquio, a decisão não podia passar do encontro do Comitê Executivo do COI que acontece esta semana.

"A decisão de hoje foi tomada no interesse dos atletas e do esporte do boxe. Queremos garantir que os atletas possam viver o seu sonho e participar dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, enquanto a AIBA sofre as consequências necessárias, de acordo com as recomendações do Comitê de Inquérito. Oferecemos um caminho para reverter a suspensão, mas para isso é preciso haver mais mudanças fundamentais", disse o presidente do COI, Thomas Bach. Essa suspensão só seria revertida depois de Tóquio.

Para o COI, as práticas e atividades da AIBA "continuam aquém da plena conformidade e conformidade com a Carta Olímpica e o com o Código de Ética do COI", o que apresenta "sérios riscos legais, financeiros e de reputação ao COI e ao Movimento Olímpico".

Sem a AIBA, uma força-tarefa, liderada por Watanabe, vai discutir, até o fim de junho, como será o sistema de classificação para Tóquio-2020, definindo as categorias de peso masculinas e femininas, a revisão da alocação de cotas nos eventos, para aumentar a igualdade de gênero, e e definir os critérios de classificação. Os eventos qualificatórios deverão ocorrer entre janeiro e maio de 2020, apenas.

Isso significa que, gerido pelo COI, o boxe vai enfim se aproximar da igualdade de gênero, tão cobrada pelo COI e que a AIBA se recusava a entregar. Na Rio-2016, a modalidade teve 10 categorias masculinas e três femininas, apenas. Para Tóquio, a proposta inicial do COI (contestada pela AIBA) era ter oito masculinas e cinco femininas. Agora, sem AIBA, o COI decidiu que assim será em 2020, deixando a igualdade total para 2024.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.