Natação feminina do Brasil definha com pouca renovação
A seleção brasileira de natação vai ao Mundial da Coreia do Sul, em julho, com 21 atletas. Desses, só duas são mulheres. Não é à toa. Se o time masculino foi em sua maior parte renovado, com dez garotos de menos de 24 anos na equipe, no feminino a renovação é praticamente zero. A única jovem que fez índice para o Mundial é a maratonista aquática Viviane Jungblut, de 22 anos, a exceção que confirma a regra. E a perspectiva de melhora é pouca.
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A fisiologia explica por que, na natação, as mulheres vivem seu auge mais cedo do que os homens. A próprias regras da modalidade determinam a transição do júnior para o adulto um ano antes no feminino, na comparação com o masculino. Até hoje, o melhor resultado olímpico entre as mulheres veio quando Joanna Maranhão tinha 17 anos.
Joanna disputou sua última Olimpíada no Rio, como mais velha de uma equipe já de idade avançada. Das 12 convocadas, só três eram nascidas a partir de 1996: Natalia de Luccas (1996), Jhennifer Conceição (1997) e Gabrielle Roncatto (1998). Desde então, nenhuma delas evoluiu em suas provas preferidas. Jhennifer manteve-se estável nos 100m peito, enquanto voa nos 50m peito, prova que não é olímpica. De 2016 para cá, Natalia e Gabi só ficaram mais lentas.
Trata-se de um fenômeno recorrente na natação feminina do Brasil nos últimos três anos, como mostra um levantamento feito pelo Olhar Olímpico. A partir dos resultados das finais do Troféu Brasil de 2016 a 2019, a reportagem analisou os desempenhos significativos (acima de 800 pontos no índice técnico) das atletas nascidas a partir de 1996.
Nesse período, o blog só identificou duas atletas com mais de um desempenho significativo que tenha chegado ao seu auge em 2019. Giovana Diamante (1997) fez 58s57 no Troféu Brasil 2019 nos 100m borboleta e por apenas nove centésimos não fez índice para o Mundial. Ela é a 23ª do ranking mundial, apenas. Fernanda Goeij (2000) venceu os 200m costas, mas mais de um segundo acima do mínimo exido para ir à Coreia. No Troféu Brasil, elas só não foram melhor do que Etiene Medeiros, que venceu nos 100m costas e nos 50m livre.
Muito melhor foi o desempenho das argentinas no Troféu Brasil. Excluindo os resultados de atletas de outros países, em uma hipotética disputa Argentina x Brasil, as nossas vizinhas levariam a melhor. Elas faturariam nove medalhas de ouro, contra só cinco das brasileiras. Só perderiam no número total de medalhas (16 a 23) porque, no campeonato brasileiro, só havia sete nadadoras argentinas.
Braçadas para trás
O melhor exemplo da involução da natação feminina do Brasil é a prova de 200m livre, a mais forte da seletiva para a Rio-2016. Há três anos, cinco brasileiras nadaram abaixo dos 2 minutos, incluindo Gabi (1998), Maria Paula Heitmann (1999). Rafaela Raurich (2000) ficou só 36 centésimos acima. Parecia que essa seria a prova do futuro da natação brasileira, mas, agora em 2019, só as veteranas Larissa Oliveira e Manuella Lyrio se mantiveram na casa do minuto. Gabi, Maria Paula e Rafaela pioraram seus tempos – a última não se classificou nem para a final B. O futuro não chegou.
Há poucos motivos para acreditar que esse cenário vai mudar. O Troféu Brasil também serviu de seletiva para o Mundial Júnior. Das 16 vagas, só quatro ficaram com meninas. E a melhor delas, Sofia Rondel (2002), teria sido a 22ª de um ranking mundial júnior que considera apenas dois nadadores por país – ela não deve brigar por final em Budapeste.
É verdade que o time para os Jogos Pan-Americanos de Lima tem diversas meninas. Isso porque a CBDA estipulou que obrigatoriamente levaria ao Peru 16 homens e 16 mulheres. Aí, na falta de nomes melhores, as últimas vagas acabaram ocupadas por jovens como Giovana Diamante (1997), Gabriele Roncatto (1998), Maria Luiza Pessanha (2000), Bruna Leme (2001), Fernanda Goeij (2000), Maria Eduarda Sumida (2001) e Camila Melo (2000). Critério para a convocação, o ranking pan-americano mostra que, com exceção de Giovana Diamante, quinta, todas as demais vão a Lima para, no máximo, brigar por classificação às finais.
De todas as nadadoras sub-23 do país, a única que vai ao Mundial é Viviane Jungblut, que se dedica mais à maratona aquática (tem cada vez mais se aproximado do nível de Ana Marcela Cunha). Nascida em 1997, a gaúcha fez índices também nas provas de fundo da natação, 800m e 1.500m livre. Nas duas provas e também nos 400m livre, foi superada pela argentina Delfina Pignatiello, de apenas 18 anos.
Masculino evolui
Enquanto isso, a natação masculina está perto de fechar seu ciclo de renovação. Dos 18 convocados para o Mundial, nove têm menos de 23 anos – e um acabou de completar 24. Foram chamados Fernando Scheffer (1998), que voltou a bater o recorde sul-americano dos 400m livre, Breno Correia (1999), Luiz Altamir (1996), Pedro Spajari (1997), Gabriel Santos (1996), Brandonn Almeida (1997), Caio Pumputis (1999), Vinicius Lanza (1997) e Leonardo Santos (1995), Guilherme Costa (1998)
E ainda há pelo menos outros quatro nadadores tão ou mais jovens, com destaque para Murilo Sartori (2002), que têm boas chances de estar em Tóquio. Gabriel Fantoni (1998) e Iago Moussalem (1998) já estiveram na seleção, mas não conseguiram se manter. Felipe Ribeiro (1998) vem em evolução e deve entrar na briga.
Atualmente, só dois veteranos parecem intocáveis, ainda que cada vez mais desafiados pela nova geração: Bruno Fratus, de 29 anos, e Marcelo Chierighini, de 28, estão entre os três melhores do mundo nos 50m e 100m livre, respectivamente. No nado de costas, Guilherme Guido, de 32 anos, chegou 30 centésimos à frente de Fantoni.
O gargalo está no nado peito. Felipe Lima, aos 34 anos, João Luiz Gomes Júnior, aos 33, e Felipe França, aos 31, continuam como os três melhores do país, mas sem evolução expressiva na prova que mais evolui no mundo na atualidade. Nenhum deles seria top20 do ranking mundial do ano passado, por exemplo. A boa notícia é que Caio Pumputis, de 20 anos, foi quarto no Troféu Brasil, com índice.
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