Skatistas abraçam Olimpíada, colecionam medalhas e empolgam para 2020
O skate é a nova menina dos olhos do esporte brasileiro. Não só pelas conquistas indiscutíveis, que incluem quatro medalhas nos Mundiais de park e street, mas também pelo comportamento dos melhores atletas do país. Há apenas um ano dentro do chamado "movimento olímpico", eles entenderam a necessidade de se cuidarem, amadureceram, e melhoraram seus resultados na pista. Se hoje 11 deles recebem Bolsa Pódio, paga pelo governo federal a quem está entre os 20 melhores do mundo, para este ano a expectativa é que 19 sejam contemplados.
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"A gente já conseguiu ver uma mudança de comportamento do primeiro contato que tivemos com eles em 2017 para o último, no final de 2018. Foi nítida a evolução deles no entendimento do cenário olímpico, comprometimento em relação à preparação, cuidado com a condição física. É notável essa diferença", elogia o diretor de Esporte do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Jorge Bichara.
O dirigente, principal responsável pela preparação esportiva do Brasil para os Jogos de Tóquio, enaltece o trabalho da Confederação Brasileira de Skate (CBSK) nessa conscientização. "Esse é o nosso principal mérito. Eu não atribuo os excelentes resultados à confederação, mas acho que tivemos o mérito de mostrar esse lado olímpico para eles. Na Bolsa Pódio, vamos de 11 para 19. É espetacular. Coincidência ou não, foi depois da entrada da confederação", comenta Eduardo Musa, vice-presidente da CBSk.
A introdução da cultura do skate é um processo complexo, por uma série de fatores. O primeiro deles a independência do atleta, que sempre decidiu como, quando e onde vai treinar ou competir. Da mesma forma que um resultado bom era mérito dele, ele não devia nada a ninguém por um resultado ruim. Agora há uma confederação por trás, nas horas boas e ruins, ainda que esta evite colocar pressão sobre os atletas.
"Nossa pressão é muito mais por aquilo que a gente combina e planeja do que pelo resultado. A gente pergunta se a pessoa quer participar da seleção. A pessoa dizendo sim, a gente vai cobrar o que a gente combinou. Se ela está acima do peso, ela vai se comprometer a entregar o peso. Nossa pressão é muito mais de eles se cuidem como atletas do que qualquer outra coisa", diz Musa.
Desde o início do ano passado a CBSk recebe recursos da Lei Agnelo/Piva, repassados pelo COB. Com isso, conseguiu montar uma equipe multidisciplinar e pagar viagens internacionais aos atletas de seleção, que em 2019 são 20 – 10 homens e 10 mulheres, divididos entre street e park, as duas disciplinas olímpicas.
Bichara ainda teme que um ou outro "bom valor" do skate brasileiro não se empenhe em disputar a Olimpíada simplesmente porque não tem interesse de estar envolvido neste modelo, por verem o skate "com outro fim". Mas o vice-presidente da confederação afirma que esse problema já foi superado. "Quem não queria passou a querer. E quem estava em dúvida passou a ter certeza. Pode ser que um cara não queria ter uma vida profissional, no sentido de cuidar do corpo de atleta. Mas não querer ir para a Olimpíada é impossível", assegura.
Resultados
As disciplinas de park e de street têm circuitos mundiais diferentes entre si, o que faz com que o evento considerado como "Campeonato Mundial" também não seja unificado. O de park aconteceu em novembro em Nanjing (China) e teve Pedro Barros como campeão entre os homens. O de street rolou no fim de semana passado, no Rio, e viu três medalhas brasileiras. Prata para Leticia Bufoni e Kelvin Hoefler e bronze para Felipe Gustavo.
O resultado animou os dirigentes. "A performance foi extremamente positiva. Superou inclusive a avaliação que a gente tinha do potencial da modalidade desse momento", diz Bichara, sobre o total de quatro medalhas nos Mundiais. Já sobre a competição no Rio, ele ressaltou o fato de o torneio ser em casa. "Um evento no Brasil sempre tem um peso diferente, porque os atletas se sentem mais confortáveis de competirem por aqui, apesar de também sentirem a pressão. A pressão faz eles amadurecerem, suportarem situações mais complicadas. Em casa, o Kelvin teve uma performance muito positiva. A quantidade de notas boas foi bem significativa. Isso traduz o bom planejamento da confederação. Estamos bastante satisfeitos."
Já para a confederação a performance foi "super positiva". Mas Musa revela que as quatro medalhas somadas é um resultado abaixo do potencial considerado pela confederação, que esperava mais de forma geral. No Mundial de Park, em Yndiara Asp, considerada uma das melhores do mundo, sequer conseguiu chegar à final. Já no de Street, Pâmela Rosa passou em branco.
"A gente tem um volume grande de skatistas para entregar resultado", ressalta Musa, que também vê com bons olhos outros resultados como o quinto lugar da jovem Virginia Fortes Águas, de apenas 12 anos, no Mundial de Street. "Ela nem disputaria o Mundial se não fosse a confederação. Esse tipo de coisa que eu acho que a gente conseguiu já evoluir para eles e que vai dar resultado", complementa.
Pensando em 2020, Musa diz que a confederação está "extremamente otimista", enquanto o COB, como de costume, mantém os pés no chão e tenta evitar pressão desnecessária. "Ainda tem muita lenha para frente. Tem um ano e meio para os outros também crescerem. Os outros também vão crescer. O ambiente olímpico é diferente, o cenário é diferente. É uma modalidade que nesse momento o COB considera com potencial de conquista de medalha e ponto. Não existe uma conta de uma, duas, quatro, seis ou doze", relata Bichara.
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