Topo

Olhar Olímpico

De terno, skate e boné, Bob Burnquist desafia padrão entre cartolas

Demétrio Vecchioli

04/04/2018 10h00

Eleição do Comitê Olímpico do Brasil (COB), para escolher um novo vice-presidente e membros dos Conselhos Administrativo de Ética. Todos os 35 representantes das confederações são homens e brancos. Só um deles se destacada: sentado na última fileira da assembleia, Bob Burnquist levanta e vai de skate até a urna eletrônica instalada no auditório da sede do COB, na zona Sul do Rio. Na hora de votar, aperta os botões com uma mão e na outra segura seu instrumento de trabalho.

Não é difícil notar que Bob não é mais um na multidão – nunca foi, aliás. No Prêmio Brasil Olímpico, uma semana depois, também na zona sul do Rio, também estava ele de novo com seu skate. Paletó, calça social, boné e skate. O único entre os presidentes de confederação a ser requisitados para fotos e autógrafos.

"É uma questão de identidade. A gente está aqui como sempre esteve, passando a mensagem de que a gente pode muito bem seguir novos passos sem perder identidade. A gente se veste assim, a gente é assim. Não vou mudar porque sou olímpico. Somos um esporte novo, que não é novo para nós, mas novo no cenário olímpico, e que tem uma identidade", explica Bob.

Leia também, de outubro: Bob Burnquist assume confederação e promete ser um cartola 'rebelde'

São 30 anos de skate, 27 deles como profissional. Medalhas são 30, mas dos X-Games. É que o skate só entrou agora no movimento olímpico, e em duas modalidades que não são a praia do brasileiro: street e park. Nada de Big Air, ao menos não por enquanto. Assim, a entrada no COB foi como cartola, presidente da Confederação Brasileira de Skate (CBSk), o que não impede Bob de manter o velho estilo de sempre, com o skate na mão.

"Eu vivo em cima dele, ele (o skate) é minha vida. O pessoal da revista Trasher [publicação norte-americana] me pegou uma vez sem skate e falou: 'Skatista tem que ter o skate 24 horas. Você precisa para ir para cá e para lá, é sua ferramenta'. Mas hoje em dia ele é simbólico. Ele é muito simples de poder trazer e gerar uma uma imagem que vale muito mais do que eu ficar explicando", tenta resumir.

Bob assumiu a responsabilidade de ser presidente da CBSk em outubro, quando foi candidato único de uma eleição extraordinária convocada depois da renúncia do antigo presidente. Era uma ação combinada, para que o maior ídolo do skate nacional assumisse uma confederação à qual o COB teimava em não reconhecer – a reconhecida como a confederação responsável pelo skate no país era a de patins.

A jogada deu certo e, aliada a outros movimentos em esferas internacionais, a CBSk passou a ser reconhecida pelo COB no fim de outubro mesmo. Novidade boa para todo mundo, uma vez que isso barrou um boicote dos skatistas brasileiros, que não disputariam a Olimpíada se não fosse pela CBKs.

"Eu não imaginava estar nessa posição oito meses atrás, foi uma necessidade de trazer essa representatividade pra dentro. Agora podemos fazer nosso trabalho, agora estamos nos preparando. Estamos com circuito brasileiro das modalidades olímpicas, vamos continuar trabalhando, fazendo muitos planos. Se a Olimpíada fosse amanhã, o skate estaria pronto", garante.

Mais skate: Skate colhe frutos de virar olímpico e enfim cria um circuito nacional

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.