Nuzman guardava 16 quilos de barras de ouro sem declarar ao IR
A Força-Tarefa da Lava Jato no Ministério Público Federal no Rio (MPF-RJ) solicitou a prisão temporária de Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB e do Comitê Rio-2016, para "permitir bloquear o patrimônio" e "impedir que continue atuando criminosamente ou na interferência da produção probatória". Além de Nuzman, também foi preso, sob a mesma argumentação, o homem que o MPF trata como seu "braço-direito", o diretor de operações do Comitê Rio-2016 Leonardo Gryner. O COI disse já estudar medidas contra o dirigente, membro honorário da entidade.
As investigações da Operação Unfair Play, que chega nesta quinta-feira à sua segunda fase, revelaram que nos últimos 10 dos 22 anos de presidência do COB, Nuzman ampliou seu patrimônio em 457%, "não havendo indicação clara de seus rendimentos". Além disso, Nuzman mantinha um patrimônio oculto na Suíça. No entender os procuradores, há indícios de lavagem de dinheiro nas movimentações financeiras do dirigente.
Ainda segundo o MPF, Nuzman só declarou à Receita Federal que mantinha no exterior 16 barras de ouro, de um quilo cada, no último dia 20 de setembro, ou seja, após a deflagração da Operação Unfair Play. Ele fez isso através de uma retificação da Declaração de Imposto de Renda. As barras, na cotação atual, valem mais de R$ 2 milhões. Inicialmente, a assessoria de imprensa do MPF havia informado ao UOL que haviam sido encontradas seis, não 16 barras, informação ratificada às 9h38. Tanto ouro poderia produzir medalhas olímpicas por três edições dos Jogos.
"Existe uma situação de ocultação dos recursos em poder do representado e em outros países, o que dificulta o rastreio desses recursos e consequente recomposição dos danos ao erário. A atitude adotada em momento seguinte à deflagração da Operação Unfair Play demonstra obstrução das investigações sobre a ocultação patrimonial. Além disso, documentos apreendidos na residência de Nuzman demonstram que grande parte de suas contas é paga em espécie: um engendro característico do sistema de lavagem de capitais", detalham os procuradores.
Quando a casa de Nuzman foi alvo de mandado de busca e apreensão, no dia 6 de setembro, na primeira fase da Unfair Play, os policiais federais encontraram lá um total de R$ 480 mil em espécie, em cinco moedas diferentes. Eram R$ 102 mil, além de 35 mil dólares, 67 mil euros, 1,3 mil libras esterlinas e 8 mil francos suíços. A defesa do Nuzman alegou que ele mantinha os recursos em espécie porque viajava com regularidade ao exterior.
Enquanto isso, porém, em suas quatro contas correntes no Brasil tinha apenas R$ 148 mil guardados. Para o MPF, este é um indício de que lavagem de dinheiro. Documentos obtidos durante a primeira fase da operação mostraram que, ao mesmo tempo, ele mantinha recursos no exterior, que descobriu-se não terem sido declarados à Receita Federal.
Além disso, para o grupo de procuradores que trabalha na Lava-Jato no Rio, foram colhidos elementos que "comprovam, de maneira irrefutável, como se deu a operacionalização dos pagamentos (por votos para o Rio na escolha olímpica) e indicam para a atuação de outros atores até então desconhecidos".
As provas colhidas mostraram que não apenas Nuzman, mas também Gryner serviu como agente responsável por "unir pontas interessadas, fazer os contatos e azeitar as relações para organizar o mecanismo do repasse de propinas de Sérgio Cabral diretamente a membros africanos do COI (Comitê Olímpico Internacional), o que foi efetivamente feito por meio de Arthur Soares (o "Rei Arthur").
No pedido que fez à Justiça Federal, o MPF do Rio solicitou que, por "danos morais", fossem bloqueados os patrimônios de Nuzman e Gryner em até R$ 1 bilhão. A mesma decisão já havia sido tomada há um mês, quando foram bloqueados "até R$ 1 bilhão" de Arthur Soares e do ex-governador Sérgio Cabral.
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