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Olhar Olímpico

Tido como exemplo, judô perdeu 87% da receita de patrocínio em cinco anos

Demétrio Vecchioli

01/04/2019 04h00

Brasileiros participam do Desafio BRA de judô (Inovafoto)

Sempre que se fala na queda do investimento de empresas estatais no esporte olímpico brasileiro, o judô é citado como um case de sucesso. Mesmo a Confederação Brasileira de Judô (CBJ), porém, está sentindo na pele as consequências da crise. Depois de arrecadar R$ 28 milhões com patrocínio em 2013, a entidade fechou 2018 com uma receita de apenas R$ 5,2 milhões vindos desta fonte.

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Considerando apenas os números brutos, trata-se de uma queda de 82%. Levando em consideração a inflação do período, entre dezembro de 2013 e o mesmo mês do ano passado, que corrige o arrecadado em 2013 para R$ 37,4 milhões, a queda fica ainda mais acentuada: 87%. Isso significa que a receita de patrocínio da CBJ é, hoje, apenas 1/7 do que era há cinco anos.

A trajetória é de queda. Os números (sem correção monetária) falam por si. A confederação arrecadou R$ 28,3 milhões em 2013, R$ 22,2 milhões em 2014, R$ 12,7 milhões em 2015, R$ 12,4 milhões em 2016, R$ 9,2 milhões em 2017 e, finalmente, R$ 5,2 milhões em 2018.

O fim do ciclo olímpico da Rio-2016 não é a única explicação para a crise, uma vez que entre 2017 e 2018, já em meio ao ciclo de Tóqui0-2020, novamente houve acentuada queda. Não apenas no patrocínio direto, mas também nos recursos obtidos por Lei de Incentivo ao Esporte, basicamente dos mesmos patrocinadores. Em 2017, a confederação recebeu R$ 8,8 milhões em recursos incentivados. Em 2018, R$ 5,1 milhões. Em um ano, a soma foi de R$ 18 milhões para R$ 10 milhões.

Durante todo esse período, a confederação perdeu patrocinadores. Primeiro, a Sadia, em 2015, quando a marca anunciou reposicionamento e encerrou patrocínios ao esporte. "Em seguida, enfrentamos o período pós-Rio 2016 marcado pela recessão econômica no Brasil e um período de instabilidade política, que foram fatores determinantes para os reposicionamentos das estatais em relação aos seus patrocínios esportivos, entre elas a Infraero, que reduziu seu investimento em marketing, e a Petrobras, que ainda está em negociação com a CBJ", explicou a confederação.

Para 2019, também a Scania, fabricante de caminhões, não renovou contrato, o que significa que em 2019 a arrecadação será novamente menor do que do ano anterior. Hoje, a CBJ tem apenas três patrocinadores, todos com contratos válidos até 2020: Bradesco, Cielo e Mizuno. Os valores de cada contrato não são divulgados pelas partes.

Ainda assim, apesar da crise e de não ter nenhum patrocinador estatal, a CBJ é das confederações com maior receita de patrocínio no país. A CBT, do tênis, divulgou em seu balanço financeiro de 2018 que recebeu R$ 1,8 milhão dos Correios e outros R$ 266 mil de "patrocínio – eventos e materiais esportivos". A CBDA, dos desportos aquáticos, recebeu, segundo balanço, R$ 5,8 milhões dos Correios, seu único patrocinador.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.