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Olhar Olímpico

Cerimônia de abertura tem união das Coreias, mas falta de calor humano

Demétrio Vecchioli

09/02/2018 11h09

Apesar de registrarem altos índices de audiência ao redor do mundo e lotarem estádios, as cerimônias de aberturas dos Jogos Olímpicos costumam ser, na maior parte do tempo, entediantes. A Coreia do Sul aproveitou o frio de PyeongChang, nesta sexta-feira, para ir ainda além e fazer uma festa sem calor humano. A ponto de iluminar o estádio olímpico diversas vezes de forma a parecer que não havia ninguém sentado nas cadeiras.

Construído especialmente para receber as cerimônias de abertura e encerramento e com capacidade para 35 mil pessoas, o estádio será desmontado depois dos Jogos. Os coreanos aproveitaram que a estrutura é provisória e instalaram painéis de LED nos assentos, de forma a colorir as arquibancadas com mosaicos. Mas, quando as luzes se ligavam, especialmente durante a parada das nações, a impressão que ficava era que não havia ninguém ali.

Por não ter outra utilidade que não servir para as cerimônias, o estádio tem uma área central menor do que o Maracanã, por exemplo, e aproveitou isso para dividir a parte artística em duas, antes e depois da parada das nações. Para tanto, colocou os atletas em uma arquibancada especialmente reservada para eles. Durante quase uma hora do evento, a arquibancada vazia esteve em primeiro plano da transmissão, reforçando o sentimento de uma cerimônia esvaziada.

Mais do que em qualquer outra cerimônia olímpica, PyeongChang ainda apostou bastante em efeitos gráficos, usando a abusando de filmes pré-gravados, que mostravam cinco crianças, as protagonistas do espetáculo, primeiro desbravando cenários de inverno, depois se conectando com o futuro a partir de tecnologias e de suas profissões quando adultos. Uma produção de primeiríssima qualidade, mas que não empolgou.

Só depois de uma hora e meia de espetáculo é que os sul-coreanos começaram a mostrar as apresentações tão singulares dessas cerimônias: centenas pessoas (257, mais exatamente) fazendo com gestos sincronizados para contar uma história. O aguardado momento, porém, não durou mais do que cinco minutos. A tecnologia empregada impressionou, mas só ajudou a tornar a apresentação ainda mais fria.

Marcantes, só os vídeos, uma breve apresentação com dragões e outros animais manipulados por pessoas; e a iluminação da parte final do show artístico e a utilização de centenas de drones para formar um anel olímpico no céu (também em vídeo gravado). Muito pouco.

Isso não significa, porém, que a cerimônia não tenha entrado para a história. Ainda que o Comitê Olímpico Internacional (COI) bata sempre na tecla de que o esporte não é lugar para política, a grande tônica da cerimônia teve viés político: uma campanha pela paz entre as Coreias.

Na parada das nações, a Coreia foi a última a desfilar, unida em torno de uma única bandeira, branca com o desenho da península coreana em azul. A bandeira sul-coreana, porém, apareceu na primeira parte da cerimônia, desenhada no centro do estádio.

Depois, nos discursos do presidente sul-coreano e do Comitê Olímpico Internacional (COI), essa união histórica foi citada como exemplo para humanidade. Thomas Bach inclusive comparou a iniciativa à formação de uma equipe de refugiados na Rio-2016.

Na parte final do revezamento da tocha, ela foi carregada ao mesmo tempo por uma pessoa sul-coreana e uma norte-coreana. Além disso, durante a execução da musica Imagine, de John Lennon, duas pombas formadas por pessoas no centro do estádio se uniram para se tornarem uma só. Um recado claro.

Parada das nações – Diferente dos Jogos de Verão, nos de inverno há menos países (92 delegações) e menos atletas por país. Assim, o que se via durante a parada das nações, exceto quando uma enorme delegação entrava, era um estádio vazio. Um enorme piso branco.

Os gregos, como sempre, foram os primeiros a entrar. Logo depois, Gana, porque a ordem do desfile é definida pelo alfabeto local, coreano, o que "embaralhou" a tradicional ordem. O Brasil foi 33º a desfilar, tendo como porta-bandeira Edson Bindilatti, piloto do bobsled e em sua quarta Olimpíada.

Sem poderem utilizar a bandeira da Rússia, ou sequer as cores do país, os "Atletas Olímpicos da Rússia" apareceram de calça jeans e jaqueta cinza. Os norte-americanos, que têm a maior delegação dos Jogos, entraram no estádio justamente quando tocava a música mais famosa do K-Pop, a música pop coreana: Sangnam Style, do astro Psy.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.