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Olhar Olímpico

No judô, Paulo Wanderley omitiu do COB mais de R$ 80 milhões em receitas

Demétrio Vecchioli

08/02/2018 04h00

(Heitor Vilela/COB)

Porta-voz de um novo discurso de transparência dentro do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Paulo Wanderley se negava a informar ao comitê sobre as receitas e projetos da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) enquanto era seu presidente. Um relatório da Controladoria Geral da União (CGU) mostra que, ao longo dos três últimos anos de gestão, ele disse ao COB que sua confederação recebeu apenas R$ 700 mil em receitas que não da Lei Agnelo/Piva, controlados pelo COB. Omitiu outros R$ 83,5 milhões.

Informar ao COB sobre a previsão de recursos para o ano nunca foi uma obrigação legal para as confederações, ainda que a grande maioria delas o fizesse voluntariamente atendendo uma solicitação do próprio COB. Afinal, é o comitê que descentraliza os recursos da Lei Piva a partir de projetos apresentados pelas confederações, argumentando ser necessário conhecer a situação financeira delas e seus programas para poder melhor avaliar quem mais precisa do dinheiro.

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"A gerência de planejamento esportivo (do COB) solicita que as confederações informem no SIGEF (Sistema Integrado de Gestão Esportiva e Financeira) todas as suas fontes de recursos, para que se tenha uma visão global tanto em relação ao plano de trabalho quanto ao orçamento total das entidades. (…) Para cada aprovação de projetos ou alteração do plano de trabalho, é analisado o cenário global, os possíveis impactos, riscos, justificativas e benéficos para o prosseguimento das aprovações, ajustes ou reprovações sejam feitas. Este procedimento tem como objetivo que ter o máximo possível de garantia que os objetivos, as estratégias e o plano de trabalho estão sendo seguidos e que a entidade mantenha em boas condições sua saúde financeira", explicou o COB à CGU.

Ainda que o detalhamento das receitas não fosse obrigatório, praticamente todas as confederações o faziam, mesmo que não completamente. Entre 2014 e 2017, a CBAt (atletismo), por exemplo, informou ter recebido R$ 45 milhões. A CBB (basquete), R$ 32 milhões. A CBCa (canoagem), R$ 73 milhões.

Quem vê os números apresentados ao COB de 2014 a 2016 (três últimos anos da gestão de Paulo Wanderley), porém, acredita que a CBJ era das confederações em pior situação financeira, ainda que não fosse a única a não apresentar seus números. As de vôlei (R$ 180 mil), tênis (R$ 1,4 milhões) e boxe (R$ 1 milhão) estão entre as que também omitiam informações.

No caso da CBJ, em 2014 ela não informou nenhuma outra receita ao COB que não da Lei Piva. Em fevereiro de 2015, porém, no seu balanço do ano anterior, revelou que, só em patrocínios diretos, havia faturado R$ 22 milhões. Em 2015, o COB foi informado de uma receita de R$ 761 mil, apenas. Só em fevereiro de 2016 o balanço da CBJ foi claro: a receita total passou de R$ 24 milhões. O mesmo se repetiria em 2016, quando nenhum real dos R$ 27 milhões arrecadados foi informado ao COB.

Questionada sobre o motivo de não informar ao COB sobre a expectativa de suas receitas para o ano, a CBJ não respondeu. Apenas enviou a seguinte resposta ao blog: "A Confederação Brasileira de Judô sempre prezou pela transparência em todas as suas ações e reporta anualmente em seus balanços, que passam por auditoria externa, todas as suas receitas, sejam elas públicas ou privadas". Vale ressaltar que os balanços são publicados somente no ano seguinte – depois, portanto, de o COB decidir sobre quais projetos apoiar.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.