Governo anuncia Bolsa Pódio, mas não sabe até quando vai pagar atletas
Demétrio Vecchioli
05/12/2019 12h00
Jair Bolsonaro (PSL) recebe atletas medalhistas dos Jogos Pan-Americanos (Alan Santos/PR)
A Secretaria Especial do Esporte anunciou ontem (3) uma lista com 293 atletas beneficiados pelo Bolsa Pódio, programa que paga benefícios de R$ 5 a R$ 15 mil para atletas com chances de medalhas nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Tóquio. Diferente do que acontece desde que o Bolsa Pódio foi instituído em 2011, porém, o governo não dá garantias de que vai pagar 12 parcelas do benefício.
O Bolsa Pódio se diferencia do Bolsa Atleta pelos critérios mais subjetivos. O Bolsa Atleta é pago a quem subiu ao pódio ou ficou entre os três primeiros do ranking, de eventos nacionais ou internacionais, no ano anterior. No Bolsa Pódio, o pré-requisito é estar entre os 20 melhores do mundo em qualquer momento de uma janela determinada em edital. A partir daí, uma comissão formada pela confederação, pelo COB e pelo antigo Ministério do Esporte avaliava caso a caso.
Por isso, era comum, até o ano passado, a publicação de mais de uma lista por ano, com os atletas renovando o benefício (ou não, se não se mantivessem na elite) depois de 12 meses. Este ano, porém, o governo decidiu abrir uma única chamada pública, em julho, prometendo uma janela de publicação dos contemplados entre agosto e novembro. Não foi o que aconteceu.
A única lista foi publicada ontem, já com todos os atletas aprovados. O problema é que as listas do ano passado saíram entre agosto e setembro, o que significa que as 12 parcelas do edital 2018 foram pagas de setembro/outubro de 2018 até agosto/setembro de 2019. Desde então os atletas da elite do esporte brasileiro estão sem receber. Como são até 30 dias para assinar o termo de adesão, eles só deverão ganhar a primeira parcela do edital 2019 em janeiro de 2020.
E aí vem o segundo problema. A Olimpíada vai acontecer entre julho e agosto e, a Paraolimpíada, entre agosto e setembro. Caso o governo pague as 12 parcelas mensalmente, os atletas vão receber, depois de competirem, uma bolsa que, por essência, é um incentivo para obterem resultado nos Jogos Olímpicos/Paraolímpicos de 2020.
Ao Olhar Olímpico, a Secretaria Especial do Esporte disse que o orçamento previsto de R$ 40 milhões para pagar os 293 beneficiados contempla 12 parcelas. Mas não deu certeza de que de que as 12 parcelas serão pagas. "O calendário ainda está em definição, não está fechado. Essa é a proposta", explicou.
A lista publicada ontem deixa de fora alguns atletas com chances reais de medalha na Olimpíada, especialmente no boxe. Não há, na lista, nenhum nome da equipe masculina, ainda que Hebert Conceição tenha sido medalhista de bronze no Mundial deste ano e Wanderson Oliveira tenha terminado entre os oito melhores da competição, dentro dos critérios do edital. A secretaria alega que o torneio, em setembro, ocorreu após as análises e aprovações do Grupo de Trabalho da modalidade, em reunião realizada em 16 de agosto.
No ciclismo BMX, ficaram de fora Anderson Ezequiel, medalhista no Mundial do ano passado e atual 20º do ranking mundial, e Paola Reis, número 12 do mundo. Sobre o primeiro, a Secretaria entendeu ser necessário "aguardar uma melhor evolução nas futuras competições disputadas pelo atleta". A Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC) explicou que, na época da aprovação, ele estava fora da linha de corte. Já Paola não enviou a documentação necessária.
Sobre o autor
Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.
Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.
Sobre o blog
Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.