Assembleia destitui presidente da CBDA e natação tem futuro incerto
Demétrio Vecchioli
16/09/2019 16h36
Por uma unanimidade de 10 votos, uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE) destituiu Miguel Cagnoni da presidência da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) nesta segunda-feira (16). A decisão torna Luiz Fernando Coelho, vice eleito, o novo presidente da entidade. O problema é que ninguém sabe se isso ocorrerá na prática.
Em um aceno à antiga oposição de Cagnoni, que hoje se aproxima do agora presidente deposto, Luiz Coelho anunciou a manutenção do Comitê Gestor de Crise, que tem como presidente o deputado estadual paraibano Ricardo Barbosa, por enquanto único candidato posto a uma eleição convocada por Cagnoni e que, pela decisão de hoje, seria cancelada.
A situação é muito confusa. Na sexta, Cagnoni aproveitou uma brecha polêmica de um estatuto que ele conseguiu aprovar em março para nomear o medalhista olímpico Ricardo Prado, seu único aliado, para ser o presidente em sua ausência. Pelo estatuto, alterado por influência de Cagnoni, cabe ao presidente indicar seu substituto entre o vice, o secretário-geral e diretores.
Depois de nomear Ricardo Prado, Cagnoni avisou que iria renunciar ao cargo. No sábado, publicou ato em que se licencia por 90 dias, até a realização de novas eleições, que ele convocou para 26 de novembro. O documento deixa claro que ele pode voltar a qualquer momento caso Pradinho não seja aceito como seu substituto até as eleições.
Toda essa movimentação foi pensada já sabendo da AGE que aconteceria nesta segunda-feira, convocada pelos seus antigos aliados, especialmente as federações do Rio e de São Paulo. Doze federações e a comissão de atletas compareceram, aprovando a destituição de Cagnoni. Pelo que decidiu a AGE, assume o vice, Luiz Fernando Coelho, de Pernambuco.
Luiz Coelho, novo presidente da CBDA
O problema é que a confederação está toda rachada. A ponto de ter dois diretores jurídicos, cada um apoiando um lado. Paulo Schmitt foi quem pensou a estratégia jurídico/política para Miguel renunciar sem deixar o cargo para o vice. Enquanto isso, Marcelo Jucá atua mais próximo ao grupo que levou Cagnoni ao poder e que agora se arrepende da escolha que fez. Não à toa, o primeiro ato de Luiz Coelho como presidente foi destituir Schmitt e nomear Jucá como diretor jurídico.
A CBDA está impossibilitada de receber recursos federais por prestações de contas rejeitadas pelo governo federal, não renovou com os Correios, que aplicaram multa de R$ 2 milhões por irregularidades no uso de recursos já por parte da gestão Cagnoni, e tem dívida de cerca de R$ 8 milhões com o Comitê Olímpico do Brasil – desse montante, R$ 1,6 milhão vem da gestão Cagnoni, o restante da era Coaracy Nunes.
A falta de transparência na gestão fez Renato Cordani, antigo diretor, se demitir no fim do ano passado – nesta segunda-feira, ele foi novamente nomeado para o posto. Ao deixar o cargo, ele fez uma denúncia ao Comitê de Ética do COB, que julgou o caso em julho e recomendou, entre outras medidas, uma nova eleição. Foi a brecha para Miguel, já sem nenhum apoio político, dar o pontapé inicial à trama.
Alegando que segue a recomendação do comitê de ética, Miguel convocou novas eleições para novembro, ignorando que o estatuto da CBDA determina que, na saída do presidente eleito nos três primeiros anos de mandato, assume o vice – ou, na interpretação de um estatuto dúbio, quem o presidente indicar.
O presidente eleito nessa eleição de novembro ficaria no cargo só até janeiro de 2021, quando acabaria o mandato que Miguel abriu mão. Se a eleição ocorrer, ele deve apoiar Ricardo Barbosa, deputado estadual da Paraíba e que foi seu adversário no pleito passado. Os dois teriam o acordo para não ser feita uma devassa nas contas da entidade.
Sobre o autor
Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.
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Sobre o blog
Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.