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Olhar Pan-Americano: Brasil começa com desempenho acima do esperado

Demétrio Vecchioli

28/07/2019 04h00

A maior e única frustração brasileira do primeiro dia de eventos oficias dos Jogos Pan-Americanos veio exatamente de quem mais se esperava: a dupla Erlon/Isaquias, prata na Rio-2016. A falta de medalhas em uma prova onde o mínimo que se aguardava era o segundo lugar, porém, vai para a conta de um problema médico/físico de Erlon, que desmaiou no meio da prova, e não para um fracasso esportivo.

De resto, o Brasil saiu-se muito bem onde importa: nas provas olímpicas. E com os atletas nos quais o COB e a respectiva confederação apostam mais fichas pensando no futuro. O destaque ficou para o triatlo, claro, com ouro e prata no feminino e prata no masculino. Não que de uma hora para outra o Brasil tenha virado potência na modalidade, até porque EUA e Canadá não enviaram seus melhores nomes – como nunca enviam.

Mas são três medalhas em um esporte no qual o Brasil passou em branco em Toronto e que nunca havia vencido no feminino. Luisa Baptista, Vittoria Lopes e Manoel Messias são a nova geração do triatlo brasileiro e têm outras conquistas no currículo. Luisa vem de um oitavo lugar em uma importante etapa do Circuito Mundial e Manoel é tricampeão pan-americano no sub-23. As medalhas no Pan só comprovam que o trabalho está dando certo.

Na ginástica feminina, o Brasil foi a Lima sem sua melhor atleta (Rebeca Andrade), com uma ginasta importante machucada (Lorrane Oliveira só fez um aparelho) e perdeu sua captã (Jade Barbosa). Competiu sem margem de erro, mas ganhou bronze por equipes, perto do Canadá quase completo. Além disso, pegou cinco de seis finais possíveis por aparelhos e avançou com duas atletas para a final do individual geral. Não deu show, mas segurou a onda apesar de tantos problemas a dois meses do Mundial. 

Bronze no taekwondo, Paulo Ricardo, o Paulinho, de 23 anos, só não foi para a final por uma decisão do VAR, perdendo nos detalhes para outro medalhista mundial, e acabou subindo ao pódio em uma categoria mais pesada que a sua. Talisca Reis lutou mal a decisão pelo ouro, mas conquistou uma prata de bom tamanho, provando por que é a brasileira mais bem posicionada no ranking olímpico. Em um dia, o Brasil já superou a campanha do Pan de 2015, quando ganhou dois bronzes.

Mesmo em disputas nas quais não ganhou medalha o Brasil foi bem. No pentatlo moderno, Ieda Guimarães, de apenas 18 anos, estava até 2018 passando sufoco para conseguir vaga nos Jogos Olímpicos da Juventude. Ao terminar em quarto no Pan, assegurou um lugar na Olimpíada de Tóquio. No pentatlo desde os 9 anos, parece ter um futuro brilhante pela frente. Outra atleta novata, Isabela Abreu, de 25 anos, ficou em sexto.

Nathasha Figueiredo também ficou em quarto na sua prova, a categoria até 49kg do levantamento de peso. Aos 23, conseguiu o melhor resultado da carreira, que lhe valeria um top15 no Mundial passado. Até pela falta de tradição do Brasil, não é um feito para se descartar.

Nos esportes coletivos masculinos, duas vitórias históricas sobre os Estados Unidos. No rúgbi sevens, modalidade para a qual o Brasil só conseguiu vaga nos 45 do segundo tempo, de forma inesperada, o triunfo sobre os americanos tem maior peso. Ainda que tenham utilizado uma equipe B, os EUA são atuais vice-campeões do circuito mundial. O empate contra o Chile também vale nota, porque o Brasil tradicionalmente está abaixo do rival regional. Se antes o Pan parecia sonho distante, agora, na semifinal, a medalha é chance real.

A outra vitória veio no basquete 3×3, modalidade que estreia no programa do Pan e também na Olimpíada. Essa é a mais surpreendente de todas, aliás. É verdade que os EUA usam o Pan como experiência, mas o time deles conta com dois atletas entre os 100 melhores do ranking mundial. Já o Brasil é usual saco de pancadas na modalidade e só ganhou um dos 18 jogos que fez em Mundiais. No sevens feminino, o Brasil até perdeu feio do Canadá, mas está na semifinal e tende a ficar com o bronze.

Mesmo o resultado ruim da maratona tem suas virtudes. Valdilene Silva, a Nininha, chegou em sexto na quinta maratona da carreira. Entre as 10 primeiras colocadas, só não é mais nova, aos 27 anos, do que as duas americanas. Está começando na distância e tende a evoluir.

Keno Marley (18 anos) e Jucielen (23) Romeu venceram suas lutas de estreia no boxe e têm pelo menos o bronze garantido. Cosme Nascimento (25), veterano do time, não teve a mesma sorte. Na canoagem velocidade, os três barcos que participaram de eliminatórias venceram suas séries e avançaram direto a finais.

Há outros resultados negativos, claro, como Wellington Bezerra, o Cipó, 11º na maratona masculina – ele alegou ter tido bolhas no pé. No tiro esportivo existia expectativa nula sobre Thais Moura e Rachel de Castro, que ficaram em 15º e 18º lugares na pistola 10 metros.  No basquete 3×3 feminino, uma vitória (sobre a Venezuela) e duas derrotas. Apesar da pouquíssima preparação, ainda existe chance de medalha.

Aviso aos leitores: este blogueiro está em Lima, na cobertura do Pan. O noticiário diário está sendo publicado na lista de últimas notícias do UOL Esporte. No Olhar Olímpico, durante esses dias, vou postar comentários diários. É a série Olhar Pan-Americano.

 

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Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.


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