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Governo defende e-esportes até no Bolsa Atleta, mas conselho barra

Demétrio Vecchioli

28/05/2019 15h00

Rafael Aguiar (de capacete), atua na Secretaria do Esporte em defesa dos esportes eletrônicos

Um empresário do ramo de "exploração de jogos eletrônicos" ganhou cargo comissionado na Secretaria Especial do Esporte, para, segundo ele, "formular e incentivar ações e programas governamentais voltados ao incentivo, investimento e desenvolvimento do esporte eletrônico". Desde então, tem crescido o lobby do governo federal em defesa do reconhecimento do chamado e-esporte como esporte. 

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Na segunda-feira (27), na primeira vez que o Conselho Nacional do Esporte (CNE) se reuniu desde que Jair Bolsonaro (PSL) assumiu a Presidência da República, o ministro Osmar Terra (MDB), presidente do órgão, incluiu na pauta da reunião a instalação de uma "Comissão de Esporte Eletrônico", que seria destinada a "examinar questões relevantes do esporte eletrônico nacional". A proposta não foi divulgada em release à imprensa e, procurada pelo blog, a Secretaria não comentou sobre ela.

Terra escalou o assessor Rafael Moreira de Aguiar para fazer a sustentação oral em defesa da resolução. Na sua fala, confirmada ao Olhar Olímpico por três diferentes participantes da reunião, ele teria citado que a normatização do esporte eletrônico permitiria que jogadores ganhassem Bolsa Atleta, que equipes utilizassem a Lei de Incentivo ao Esporte e que o governo concedesse isenção fiscal a empresas do ramo. O blog solicitou o áudio dessa fala ao Ministério da Cidadania, que não o disponibilizou.

Especialista em políticas públicas e gestão governamental, Aguiar é funcionário de carreira do Ministério da Economia e foi cedido à Secretaria do Esporte em março. No Linkedin, ele explica que suas atribuições envolvem formulação de ações governamentais pelo esporte eletrônico, citando "programas de apoio aos atletas" (leia-se Bolsa Atleta) e "proposições legislativas de incentivo ao crescimento do mercado interno".  

Aguiar é diretamente interessado no assunto. Ele se apresenta como fundador da Brazilian Crusaders, empresa que tem como atividade principal a "exploração de jogos eletrônicos", e frequentemente posta sobre a equipe nas redes sociais, falando da equipe na primeira pessoa do plural: "nossos jogadores", "nossos patrocinadores"… Seu nome, porém, não aparece entre os dos atuais sócios da organização, tida como pequena no universo dos e-esportes. Conhecida como BRC, a equipe está em crescimento, graças ao sucesso no jogo Playerunknown's Battlegrounds.

Depois de ser contactado pela reportagem e negar ligação com a equipe, Rafael apagou sua página no Facebook. O Olhar Olímpico a reproduz abaixo, como ela estava na segunda-feira à tarde, durante a apresentação de Rafael no CNE.

Página de assessor da Secretaria de Esporte mostra relação dele com empresa de espotes eletrônicos

E-esporte é esporte?

Na segunda, conselheiros do CNE receberam com surpresa a informação de que uma resolução sobre e-esportes estaria na pauta do conselho. Diante de representantes de órgãos como o Comitê Olímpico do Brasil (COB), o Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) e a Comissão Desportiva do Exército, Aguiar defendeu que o CNE aprovasse um documento que, na prática, reconhecia os esportes eletrônicos como parte do Sistema Nacional do Desporto.

Par membros do CNE, a resolução seria uma carta em branco para o governo atender à demanda do setor de jogos eletrônicos. A nova comissão teria como atribuições "definir ações que permitam conceituar e desenvolver o esporte eletrônico nacional", "propor diretrizes gerais de funcionamento e atuação de entidades de natureza federativa" e "contribuir com a Secretaria Especial do Esporte para subsidiar a formulação de políticas, programas e ações governamentais destinados ao incentivo, fomento e desenvolvimento do esporte eletrônico".

Pela proposta do governo, a comissão seria formado por três representantes da Secretaria Especial de Esporte e quatro pessoas ligadas aos jogos eletrônicos: um das federações, um dos clubes, um dos atletas e um dos desenvolvedores. O ministro Osmar Terra seria o responsável por nomeá-los.

A proposta, porém, foi retirada de pauta pelo governo depois de uma enxurrada de críticas, das mais diversas entidades. "Houve muitos posicionamentos contrários com diferentes embalsamentos: esportivos, científicos, conceituais, legais, envolvimento de outras pastas ministeriais", explicou, ao Olhar Olímpico, um dos conselheiros.

Procurado via Facebook, Rafael Moreira de Aguiar  solicitou que todas as dúvidas, inclusive sobre sua atuação na Brazilian Crusaders, fossem enviadas pela assessoria de imprensa da Secretaria Especial do Esporte. Depois, deletou o perfil. No Linkedin, as informações seguiam disponíveis quando este post foi publicado.

Em nota, a secretaria disse que o Rafael "ajudou a formar" a equipe, mas não tem ingerência na gestão dela. "Trata-se de um time esportivo, sem qualquer relação com recursos públicos", aponta a pasta. Ainda de acordo com a secretaria, não há nenhuma área de esportes eletrônicos criada formalmente na secretaria. "Mas a discussão preliminar do assunto é pertinente neste momento de crescimento do setor no cenário esportivo nacional e internacional", indica.

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Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.


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