Doria revê desconto e Brasil Open precisa pagar 275% a mais por Ibirapuera
Demétrio Vecchioli
25/03/2019 04h00
Ibirapuera recebe público razoável nesta quinta-feira
(Marcello Zambrana/ DGW Comunicação)
Para garantir que o ginásio do Ibirapuera estaria à disposição na data reservada no calendário da ATP, na semana do carnaval, os organizadores do Brasil Open fecharam contrato com o governo do Estado de São Paulo ainda no ano passado. Na reta final do governo Márcio França (PSB), foi estipulado, em contrato, o valor de R$ 55 mil. Uma revisão da gestão João Doria (PSDB), porém, identificou que o valor correto a se cobrar seria quase o quádruplo: R$ 207 mil.
Números tão discrepantes são originários de uma mesma tabela de preços, instituída em 2016, que regula o valor do aluguel cobrado pelos equipamentos esportivos estaduais. Em dezembro, a gestão França informou ao Olhar Olímpico que havia reservado o ginásio por 63 dias, de 5 de janeiro até 7 de março. O blog questionou se isso significava o pagamento de aluguel por todo esse período e o governo respondeu que o tema ainda estava em discussão.
Com a mudança de governador, também mudou o comando da secretaria – que inclusive mudou de nome, trocando a sigla SELJ pela sigla SESP. Saiu Cacá Camargo (PROS) e entrou Aildo Rodrigues (PRB). De acordo com a pasta, houve uma revisão de valores no contrato. Entendeu-se, então, que o valor correto seria de R$ 207.726,93.
O torneio começou em 23 de fevereiro e terminou em 3 de março. Até agora, porém, não houve a publicação da autorização de uso, por parte do governo, em Diário Oficial. De acordo com a pasta, os R$ 55 mil anteriormente cobrados já foram depositados e agora a ASBRA, entidade do setor que se apresenta como organizadora, precisa pagar a diferença. O governo diz que a data limite é a próxima sexta-feira.
Além disso, a ASBRA precisa destinar ao governo do estado 5% de tudo que foi arrecadado no Ibirapuera durante o contrato de aluguel, seja por ela ou por parceiros. Uma planilha deveria ter sido apresentada na semana retrasada, mas só foi entregue na última quarta-feira (20).
De acordo com os organizadores, a bilheteria do Brasil Open apurou R$ 620 mil, enquanto que os food trucks arrecadaram outros R$ 212 mil. Considerando também os estantes, estacionamento e lanchonetes, a ASBRA precisa pagar outros quase R$ 70 mil ao governo até sexta.
Novas regras
Até o começo do ano passado, como já mostrou o Olhar Olímpico, a secretaria recebia em dinheiro vivo o pagamento de uma taxa conhecida como "quadro móvel", usual em locações de equipamentos esportivos, e o guardava em um cofre. O dinheiro era utilizado para pagar, informalmente, a hora extra de funcionários que já atuam diariamente no ginásio. Durante a passagem de Cacá Camargo pela secretaria, um auxiliar próximo a ele recebeu essa verba, relativa a uma série de eventos artísticos, em uma conta pessoal.
Agora, a gestão do PRB na secretaria diz que aboliu a prática. "Por não compactuar com este tipo de ação a atual gestão resolveu extinguir qualquer ingerência/prática neste assunto. Hoje, o Governo informa as funções obrigatórias que devem ser atendidas durante a realização de um evento e os critérios que devem ser adotados, porém, cabe a cada permissionário atender as exigências relacionadas a este quadro de funcionários, como também a sua contratação e pagamento", informou a secretaria, em nota. O blog apurou que, durante o Brasil Open, diversos parentes de funcionários da pasta foram contratados.
O grande teste do modelo será durante as apresentações do Cirque du Soleil, que traz a turnê Ovo a São Paulo a partir do próximo dia 19 de abril. Só de aluguel, os organizadores vão pagar mais de R$ 900 mil ao governo do estado, além de 5% de bilheteria e 5% do que for vendido em produtos.
Sobre o autor
Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.
Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.
Sobre o blog
Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.