Rebeca Andrade ajudou o Brasil a fazer uma boa campanha no Mundial de Ginástica Artística, no começo do mês. A seleção flertou com bronze por equipes, terminou em sétimo, e não ganhou nenhuma medalha no feminino. Agora, três semanas depois, a demonstração de que o Brasil pode muito mais. E deverá ter, caso consiga ter Rebeca na melhor forma física e Flavinha errando menos nos momentos decisivos.

Que o diga a etapa de Cottbus da Copa do Mundo, neste fim de semana. Na Alemanha, Rebeca ganhou um ouro (salto) e duas pratas (trave e barras assimétricas). Flavinha, um ouro (solo) e uma prata (trave). Com as notas obtidas apenas nas finais da Copa, entre sábado e domingo, teriam obtido duas pratas, um bronze e dois quartos lugares no Mundial nas finais por aparelhos. Além disso, o Brasil seria prata por equipes e, com Rebeca competindo no solo, também ela poderia ser prata no individual geral.

No salto, a média de 14,728 teria dado a Rebeca a prata no Mundial, só atrás de Simone Billes. Também nas eliminatórias, com média 14,766, Rebeca fez o suficiente para ser a segunda melhor do mundo. Mas por que agora e não há três semanas?

Porque, no início do mês, no entender da comissão técnica, Rebeca ainda não estava 100% recuperada de uma grave lesão no joelho direito, sofrida no treino de pódio do Mundial de 2017 – havia ela a mesma contusão antes do Mundial de 2015, também. Assim, até competiu bem na edição deste ano, mas só fez um salto nas eliminatórias, para se poupar – a classificação no aparelho é pela média de duas apresentações.

Três semanas depois, Rebeca mostrou que, na melhor forma, é favorita a pódio no salto. E não só. Na trave em Cottbus, ganhou o ouro com 13,766. Com esse desempenho, seria bronze no Mundial, à frente de Simone Biles. Também na trave, Flávia Saraiva faturou a prata na Alemanha, sem conseguir repetir sua grande apresentação nas eliminatórias, quando tirou 13,800 – também, nota que valeria bronze no Mundial.

Nas assimétricas, Rebeca também foi muito bem: com 14,500, faturou a prata, atrás apenas da campeã mundial Nina Darawel, da Bélgica. No Mundial, com essa nota, ficaria no quarto lugar, muito perto do pódio. No solo, Receba não se apresentou, mas a final teve dobradinha brasileira, com Flávia Saraiva (14,100) e Jade Barbosa (13,500). Quinta no aparelho no Mundial, Flavinha teria sido prata com esse resultado.

Para Flavinha, a sensação é de que ainda falta à ginasta crescer nos momentos decisivos. Antes do Mundial, ela era favorita à medalha na trave. Mas, nas três vezes em que executou o aparelho, cometeu falhas expressivas. No solo, perdeu a medalha por uma pisada fora do tablado. Acertando os dois aparelhos e melhorando um pouco nas barras, entra na briga por medalha no individual geral. Mas, para isso, precisa render no momento certo.

Trata-se aqui, claro, de um exercício de suposição, condicional, que depende de muita coisa dar certo, mas o potencial para 2020 é ainda maior para Rebeca. Os resultados dela em Cottbus valeriam uma prata (salto), um bronze (trave) e um quarto lugar (assimétricas) no Mundial. Tudo isso sem contar o solo.

Ginasta de grande explosão, Rebeca chegou à seleção adulta tendo o solo como seu ponto forte. Mas as duas lesões no joelho a impediram de se apresentar nesse aparelho em grandes competições, exceto na Rio-2016, quando chegou cotada à medalha e não conseguiu avançar à final. Em tese, na melhor forma, tem tudo para fazer ao menos finais no solo.

Isso significa também virar favorita a pódio no individual geral. Só nas três finais que disputou em Cottbus, Rebeca somou 43,132 pontos. Para ser prata no Mundial, ela precisaria apenas de 12,600 no solo, o que não deve ser problema para uma ginasta do nível dela – essa foi a nota da 53ª colocada das eliminatórias do Mundial.

E, claro, uma série de bons resultados nos aparelhos se refletiria na competição por equipes. Considerando sempre um hipotético e improvável cenário com apresentações perfeitas em todas as decisões, os resultados das finais de Cottbus, se transportados à final por equipes do Mundial, colocariam o Brasil com sobras no segundo lugar. Só Rebeca, nos três aparelhos, melhoraria de 40,599 para 43,132 pontos. Flavinha, que fez duas finais (solo e trave), cairia de 27,400 para 27,366, enquanto Jade Barbosa, nas mesmas duas finais iria de 27,700 para 28,083.

Vale lembrar, mais uma vez, que esses são cenários hipotéticos, que os resultados foram obtidos em uma competição com pressão muito menor do que de um Mundial ou uma Olimpíada, e que numa Copa do Mundo a atleta se apresenta menos vezes – há menos desgaste físico. Em Cottbus, Rebeca fez seis apresentações. Num Mundial, poderiam ser 14.

Mas o potencial, não há como negar, impressiona pensando em 2020. O desafio, até lá, é não apenas conseguir manter Rebeca sem lesões, mas também evitar que a equipe perca outras atletas. Hoje, há poucas peças de reposição na ginástica artística brasileira. Além das cinco atletas que disputaram o Mundial (Rebeca, Flávia, Jade, Lorrane Oliveira e Thais Fidélis), o Brasil só pode contar, neste nível, com a veterana Daniele Hypolito.