Fundação Cafu atrasa salários de funcionários e tem atividades paralisadas
Demétrio Vecchioli
20/11/2018 04h00
Cafu, idealizador da Fundação Cafu (reprodução/Instagram)
A maior parte dos funcionários da Fundação Cafu, ligada ao capitão do pentacampeonato, está em greve desde a semana passada. Eles reclamam de três meses de salários atrasados, além do não pagamento de direitos trabalhistas como férias e FGTS. Ainda segundo os colaboradores, há casos em que a Fundação não deposita o INSS dos trabalhadores há mais de dois anos. A ONG atende 950 pessoas em São Paulo.
Um dos funcionários que falou com o blog na condição de anonimato relata que recebeu seu salário pela última vez em agosto. Desde então a Fundação suspendeu os pagamentos. "Nós precisamos pagar nossas contas. Tem funcionário que está correndo o risco de ser preso porque não consegue pagar a pensão alimentícia dos filhos", reclamou.
A Fundação, que funciona no Jardim Irene, eternizado na comemoração do pentacampeonato, tem atualmente 17 funcionários e é presidida por Marcelo Evangelista de Moraes, irmão de Cafu. De acordo com os colaboradores, quando pressionado, Marcelo alega sempre que o ex-jogador está viajando e que, por isso, a situação não é resolvida.
Contactado pelo telefone pelo Olhar Olímpico, Marcelo inicialmente disse que não tinha conhecimento da greve. Também afirmou que desconhecia os atrasos salariais, ainda que reconhecesse que a Fundação passe por dificuldades financeiras. Depois, novamente pelo telefone, admitiu os atrasos.
"Foi feita uma paralisação na terça e na quarta e, desde então, a Fundação está em recesso. O Cafu disse que como ele está há 10 anos sem jogar e é só ele quem sustenta a Fundação, a situação está difícil. Está havendo um pouco de atraso, mas nada que não vá se resolver. Segundo informações, até o dia 30 ele [Cafu] vai estar sanando isso daí", disse.
No site da Fundação, Marcelo aparece como presidente, abaixo apenas de Cafu, que é o "idealizador" do projeto. Segundo Marcelo, é o ex-jogador quem paga a maior parte das contas da Fundação, que tem tido dificuldades em captar recursos.
"Os projetos não estão tendo aporte. Ao longo de 2016 e 2017, os recursos foram escassos, precários. E, em 2018, o atual quadro político social, você sabe como é. Todas as ONG's estão passando por dificuldades", alegou Marcelo. Na semana passada, o Olhar Olímpico publicou entrevista com a ex-jogadora de vôlei Ana Moser, em que ela afirma que o setor tem crescido.
Marcelo também citou que a ONG tem "algumas pendências" que precisam ser sanadas, sem detalhar quais são elas. De acordo com o presidente da Fundação, há projeto em captação por Lei de Incentivo ao Esporte, mas o Olhar Olímpico não encontrou nenhum projeto aprovado no Diário Oficial da União em 2018. Também não houve projeto aprovado na Lei de Incentivo estadual de São Paulo.
Na página da Fundação na internet há diversas empresas listadas como "parceiras", como a Ambev, a Amil e o Instituto Embeleze. A Fifa também aparece nessa listagem.
Sobre o autor
Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.
Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.
Sobre o blog
Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.