Luiz Lima defende secretaria forte e manutenção de orçamento do esporte
Demétrio Vecchioli
07/11/2018 10h00
Luiz Lima (reprodução/Instagram)
Ex-secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento, Luiz Lima vai voltar a Brasília no ano que vem. Agora, na função de deputado federal, oitavo mais votado no Rio de Janeiro, e aliado de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro, de quem é colega de PSL. No retorno à capital federal, porém, pode não mais encontrar o Ministério do Esporte no qual trabalhou. A proposta da área econômica do futuro governo é que Esporte e Cultura sejam incorporados pelo Ministério da Educação, o MEC.
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Ministério nos últimos 16 anos, o Esporte viraria uma secretaria, o que causaria um efeito dominó. A cadeira que Luiz Lima já sentou, de secretário da SNEAR, viraria de um diretor, e assim por diante. O ainda nadador, porém, acredita que a medida possa ser positiva.
"Vejo com bons olhos, como veria também com bons olhos a continuidade do ministério. Eu sinceramente não vejo obstáculo nenhum. Se Deus quiser teremos secretários competentes, com boa capacidade de interlocução, alinhados com o ministro da Educação. Mais importante que ser ministério ou secretaria é quem vai estar conduzindo a politica pública", disse o deputado eleito, em entrevista ao Olhar Olímpico.
Quatro semanas atrás, logo após o primeiro turno, Luiz Lima também falou com o blog e não quis responder sobre a proposta, que já circulava, de fundir os ministérios. Disse que aguardava um posicionamento da campanha de Jair Bolsonaro. Agora, o nadador argumenta a favor da proposta, refutando a tese de que o esporte perderia força política nesse modelo. Para ele, o fundamental é discutir orçamento.
"Eu sempre disse que se a Educação espirrar esporte, ela modifica o cenário do esporte no nosso país. Ao invés de lutar pelo fim do ministério, eu gostaria de lutar pelo aumento do orçamento dentro de um futuro Ministério da Educação. Se hoje o Esporte tivesse 2% do orçamento da Educação a gente iria triplicar o valor que a gente teria para o esporte".
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Hoje a conta é bem mais discrepante. De acordo com os contas do próprio deputado eleito, o orçamento do Esporte é 142 vezes menor do que o da Educação – ou seja, representa 0,7% deste. A ampliação passaria, no entender de Luiz Lima, por um secretário forte convencendo o MEC a enxergar o esporte como um pilar da educação.
"Temos 168 mil escolas públicas, 500 escolas federais e 63 universidades federais que têm uma infra-estrutura mínima esportiva. Dentro do MEC não tem uma rubrica de desenvolvimento esportivo. O secretário hoje já é um ordenador de despesa, gestor de uma unidade. Se você tem um secretário de esporte dentro da Educação, você já tem muito mais chance de desenvolver um projeto esportivo universitário."
Manutenção de programas
Ainda que defenda uma mudança na hierarquia do poder esportivo em Brasília, Luiz Lima tem um discurso que passa longe de ser radical. Ele defende, por exemplo, que a Lei Agnelo/Piva, que sustenta o Comitê Olímpico do Brasil (COB) e o Comitê Paraolímíco Brasileiro (CPB), além de confederações, entre outros, seja mantida. No entender dele, a Bolsa Atleta precisa ser rediscutida (até porque o orçamento não é suficiente para as atuais regras de concessão), mas continuada.
Depois de a ex-jogadora de vôlei Ana Paula escrever artigo para o Estadão defendendo o fim da "farra das ONG's" – numa referência às entidades que recebem autorização para captar recursos pela Lei de Incentivo ao Esporte -, Luiz Lima evitou entrar nessa bola dividida.
"A gente tem que investir em quem trabalha com qualidade. Ponto final. Seja quem for. A gente tem a chance de ouro de escolher quem são os nossos parceiros. Para quem a gente vai tocar a bola. Tem que incentivar quem traz benefício para a sociedade. Não pode generalizar nunca, jamais. Tem que trabalhar com pessoas competentes", afirmou.
Ele também defendeu que o esporte dialogue melhor com outras áreas do governo, além da educação. "O esporte tem que estar presente em vários ministérios. Tem que estar presente na Saúde, no Desenvolvimento, no de Cidades. Onde tem uma área urbana, um conjunto habitacional, tem que ter um programa esportivo. A gente só vai mudar o cenário do esporte do Brasil quando a gente tiver a necessidade de que o esporte é um pilar da formação", opinou.
Já como deputado, disse que quer servir "de escada" para a entrada de outros esportistas na política partidária/eleitoral. E citou três nomes: o ex-nadador Edvaldo Valério, o ex-velocista André Domingos e o também ex-nadador Gustavo Borges, que Luiz Lima disse ser um "bolsonarista" e por quem diz ter sido bastante defendido durante a campanha eleitoral.
Sobre o autor
Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.
Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.
Sobre o blog
Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.