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Érika Miranda se aposenta no auge e explica: 'Não tinha mais paciência'

Demétrio Vecchioli

01/11/2018 04h00

Érika Miranda é uma exceção à regra entre os melhores atletas que este país já produziu. Dona de cinco medalhas em Campeonatos Mundiais, um recorde para o judô brasileiro, não quis pagar para ver como é o corpo já não entregar o mesmo que os tempos áureos. Um curto período de férias após o bronze no Mundial de Baku, anunciou que está pendurando o quimono, aos 31 anos.

"Eu já não tenho essa paciência com o peso, com os treinos. Então se não é algo que não enche meus olhos, é hora de começar uma nova vida com novos desafios. Já estava me sentindo meio cansada. As pessoas às vezes colocam em mente isso de que você tem que estar na pior fase para parar. Eu acho que você tem que parar quando aprendeu tudo que poderia ter aprendido, quer sair da zona de conforto e buscar novos desafios", explicou Érika, em entrevista por telefone ao Olhar Olímpico.

Foram quase 20 anos de judô. Desde os 14 está na mesma categoria, o que significa que, aos 31, mantém o mesmo peso da adolescência. A biologia não ajuda, então para conseguir isso Érika teve que acostumar a suar para perder peso na véspera das competições. "Minha maior preocupação é a perda de peso e as consequência dessa perda de peso. Com a idade, a dificuldade foi aumentando. Quero tentar deixar meu corpo 100%", continuou.

Depois de tanto tempo de dedicação, ir diariamente aos treinos deixou de ser uma atividade agradável. "Todo mundo só vê a Olimpíada, mas antes disso tem renúncia, muito treino. Se você não está disposto a pagar esse preço, não é algo que vale a pena. Tenho que aceitar minha real condição. Minha saúde vale muito mais que uma medalha olímpica."

A decisão não foi de impulso. Estava tomada desde o primeiro semestre. A ideia era parar depois do Troféu Brasil, competição interclubes disputada em agosto, em Porto Alegre, na casa da Sogipa, seu clube. "Faltou muito pouco para eu pendurar a faixa", diz. Falou mais alto a última tentativa de ganhar uma medalha de ouro em Mundial, depois de uma prata (2013) e três bronzes (2014, 2015 e 2015). Veio outro bronze. "Pelas condições que eu estava, fiquei muito feliz", conta.

Agora é pensar para a frente, sem pressa. Uma das primeiras metas é voltar a estudar. Depois de obter a licenciatura em educação física, precisou trancar o curso. Agora, quer o bacharelado, para poder ser treinadora. Se tudo der certo, também vai tentar bolsa para estudar em outro país. Quer aprender outra língua.

Só mais para frente é que vai entrar em pauta outro sonho: virar técnica. "Não vou me afastar do judô. Estou me retirando do judô competitivo, mas sempre vou estar envolvida. Quero viver a vida real para depois ver quais minhas possibilidades. Penso em ser técnica, mas um pouco mais para longe. Não é para agora. Ninguém vai ficar longe do que você fez durante 20 anos da sua vida, mas preciso me afastar para pensar em mim"

Érika serviu à seleção brasileira por 12 anos e foi um dos ícones daquela que é a melhor geração do judô feminino do Brasil – veterana dessa turma, também é a primeira a parar. Foram duas Olimpíadas na categoria até 52kg. Agora, com a aposentadoria de Érika, fica aberto o caminho ou para Sarah Menezes subir de peso (o que já foi tentado no ano passado, sem sucesso), ou para Jéssica Pereira virar titular. No Mundial de Baku, Jéssica perdeu a disputa do bronze exatamente para Érika.

 

 

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Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.


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