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Besuntado de Tonga é acusado de fraudar sistema para disputar a Olimpíada

Demétrio Vecchioli

04/05/2018 04h00

Pita Taufatofua, mais conhecido pela alcunha "Besuntado de Tonga", teria fraudado o sistema de classificação para poder disputar a Olimpíada de Inverno de PyeongChang, na Coreia do Sul, na modalidade de esqui cross country. A denúncia foi feita pelo site neozelandês Stuff, que investigou os resultados de competições classificatórias para os Jogos. Atletas de México, Colômbia, Portugal e Equador também teriam se beneficiado do esquema. O brasileiro Paulo Santos também conseguiu assim o índice olímpico, mas não foi convocado porque Victor Santos, o escolhido, tinha resultados melhores.

Para entender o esquema é preciso explicar um pouco como funcionam as competições de esqui cross country. Uma vez que não é possível comparar tempos de provas realizadas em circuitos diferentes, com condições climáticas diferentes, os resultados são a partir de um sistema de pontuação. Nele, o vencedor ganha o menor número de pontos, variando de acordo com o nível da prova, e os competidores seguintes vão sendo pontuados de acordo com a diferença de tempo para o vencedor.

Para ter direito a uma vaga em PyeongChang pela cota de países, um atleta precisava fazer cinco provas com pontuação abaixo de 300 pontos FIS – sigla da federação internacional. E é aí que veio o esquema. Taufatofua fez quatro delas em um período de três dias em Bogotá, na Colômbia. O leitor vai perguntar: mas tem neve na Colômbia? Não.

Em uma forma de estimular a participação olímpica de países sem tradição na neve – como Tonga -, a FIS passou a reconhecer provas de rollerski como válidas para obtenção de índices, inclusive uma competição disputada em São Carlos, no interior de São Paulo. O rollerski é uma espécie de patinete, que vai sobre o pé dos atletas, para treinos e competições no asfalto. O problema é que duas das quatro provas na Colômbia foram de 2,5 km e outras duas de 10km. A distância olímpica é de 15km.

Ou seja: Taufatofua, que na Rio-2016 competiu no taekwondo, conseguiu a vaga olímpica em provas que muito pouco têm a ver com a prova que ele iria disputar na Coreia do Sul. Mas não só isso. Um esquiador venezuelano denunciou que, na verdade, essas competições foram armadas.

Em cada uma dessas quatro provas na Colômbia havia só sete inscritos, que imprimiram um ritmo de prova muito parecido. O vencedor ganhava 218.87 pontos, enquanto que os demais chegavam sempre em tempos muito próximos. Assim, com exceção de um mexicano, que falhou em duas ocasiões, todos os competidores ficavam abaixo da marca máxima de 300 pontos. Um equatoriano, um português e um colombiano também foram beneficiados.

De acordo com reportagem do site da Nova Zelândia, o colombiano Sebastian Uprimny teria sido o responsável por organizar as competições, que permitiram que se ele se tornasse o primeiro atleta de seu país a disputar uma Olimpíada de Inverno, mesmo feito de Taufatofua.

"Esta foi uma corrida falsa que eles organizaram entre si só para esses caras se classificarem. Se você vir os resultados das competições reais contra caras experientes, vê que eles não têm nível. Eles têm pontos realmente altos. Não combina com o que eles fizeram nessas corridas na Colômbia", criticou Cesar Baena, o venezuelano denunciante, que tentou a vaga da forma usual, competindo em eventos na neve, e não conseguiu.

Enquanto isso, os cinco atletas beneficiados por esse esquema ficaram nas cinco últimas posições na Olimpíada, terminando a prova até 26 minutos depois que o primeiro colocado. O besuntado, por exemplo, fez 544 pontos FIS, ficando inclusive abaixo de sua média em provas de neve, que é de mais de 600 pontos. O brasileiro Victor Santos só terminou a prova olímpica na frente desses atletas hoje contestados.

A FIS já reconhece que há um problema. "A FIS está ciente de alguns resultados inconsistências de vários atletas de esqui cross country durante o período de qualificação PyeongChang-2018. Estamos atualmente olhando como podemos melhorar/modificar o processo de qualificação cross country para os próximos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim em 2022", disse a entidade, em comunicado.

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Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.


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