Relatório da CBDA mostra caos administrativo e coleção de telefones
Demétrio Vecchioli
03/04/2018 04h00
Miguel Cagnoni na assembleia da CBDA (Satiro Sodré/SSPress/CBDA)
Um relatório produzido pela atual gestão da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), de oposição à anterior, deu uma mostra do caos administrativo em que se encontrava a entidade, envolvida em escândalo no ano passado. Além disso, detalhou o cenário de acúmulo de equipamentos de informática inutilizados: havia 38 impressoras e 44 aparelhos telefônicos na sede da CBDA, no Rio de Janeiro.
O relatório foi apresentado na assembleia anual da entidade, na semana passada, quando a prestação de contas da CBDA relativa a 2017 foi aprovada com ressalvas, referentes ao primeiro trimestre. Isso porque a atual gestão, do presidente Miguel Cagnoni, não conseguiu levantar uma série de dados do seu antecessor, Coaracy Nunes. Especialmente a destinação de cerca de R$ 9 milhões do patrocínio dos Correios, referentes a 2016.
O balanço financeiro da CBDA, que precisa sempre ser considerado sob a óptica de ter sido produzido por um grupo de oposição à gestão que ficou mais de duas décadas na entidade, mostra diversas preocupações. Entre elas uma ação do MPF que pede o ressarcimento de R$ 42 milhões (na qual Coaracy também é acusado), dois Autos de Infrações aplicados pela Receita Federal que somam mais de R$ 7 milhões e R$ 15 milhões em contas ainda não aprovadas pelo COB – aqui, um parêntese do blog: quase todas as confederações têm esse mesmo problema.
Mais do que essas preocupações, que têm algum viés político, impressiona o caos administrativo citado pela gestão de Miguel, que assumiu no meio do ano passado. O relatório aponta que a confederação tinha 44 aparelhos telefônicos, 43 desktops, 43 monitores, 38 impressoras, 50 no-breaks, oito desktops "burros" (que só rodam sistema do servidor) e oito notebooks. A diretoria ainda faz uma ressalva sobre os laptops: "É possível que existam mais, mas estão escondidos, ou com alguém".
Assim, uma das primeiras coisas feitas por Miguel na CBDA foi racionalizar os equipamentos. As 25 impressoras foram estocadas: agora só 13 funcionam. Os desktops também foram reduzidos para quase a metade. Mesmo as contas de e-mail foram reduzidas pela metade. Só linhas de celulares foram cortadas 45, de acordo com a atual diretoria.
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Os números mostram um enxugamento da estrutura da CBDA, uma gigante que perdeu boa parte da sua receita de patrocínio ao fim dos Jogos do Rio. E que precisa dessa postura de austeridade para poder continuar existindo.
O problema é que só economizar não está bastando. A assembleia da semana passada também aprovou um aumento significativo nas taxas pagas pelos clubes para que seus atletas possam competir. A taxa de inscrição de atleta por prova mais do que dobrou nos campeonatos nacionais: de R$ 16 para R$ 35. A transferência de um nadador de seleção brasileira subiu para mais de R$ 2,5 mil e, de um estrangeiro, para R$ 3,8 mil. Nas provas de águas abertas, a CBDA vai ficar com R$ 120 de cada inscrição nos campeonatos nacionais. Ou seja: o prejuízo vai para a conta dos clubes.
Sobre o autor
Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.
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Sobre o blog
Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.